Brasil continua a vencer a ‘guerra’ entre EUA e China

As disputas comerciais entre China e Estados Unidos continuam rendendo bons frutos aos exportadores de soja do Brasil. Os prêmios pagos nos portos pelo bushel (medida equivalente a 27 quilos) do grão brasileiro chegaram a US$ 2,70 nas últimas semanas – sinal de que a demanda externa continua aquecida.

Na sexta-feira, os contratos da soja com vencimento em novembro fecharam em US$ 8,45/bushel em Chicago, enquanto o prêmio pago pelo bushel do grão em Paranaguá (PR) ficou em US$ 2,55, cerca de 30% do valor da cotação na bolsa americana. No mesmo período do ano passado, o prêmio era de US$ 0,55.

Com a demanda ainda forte, as exportações brasileiras se mantêm em ritmo acelerado, mesmo com a entrada da safra 2018/19 dos EUA no mercado. Segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex/MDIC), de 1º a 19 de outubro os embarques somaram 3.9 milhões de toneladas, contra 1.6 milhão de toneladas no mesmo período de 2017.

“Neste período do ano, o natural seria uma demanda mais arrefecida em razão da entrada da safra americana”, afirma Ana Luiza Lodi, analista da INTL FCStone. De janeiro a setembro, o Brasil exportou 69.2 milhões de toneladas de soja – mais que o recorde de 68.15 milhões de toneladas de todo o ano passado.

A China é a grande responsável pelo “boom”, já que o gigante asiático reduziu a praticamente zero as compras da soja americana. A guerra comercial entre os dois países levou os EUA a sobretaxarem produtos chineses e, em resposta, a China sobretaxou em 25% boa parte da produção agrícola americana, incluindo a soja.

A menor demanda pela soja dos EUA já era esperada, mas os últimos números divulgados pelo USDA frustraram as expectativas de analistas de mercado. “Era esperada uma procura maior por parte de outros destinos, especialmente da União Europeia, já que a soja americana está barata”, diz Luiz Fernando Gutierrez Roque, analista da consultoria Safras & Mercado.

Na semana encerrada no dia 17/11, os exportadores dos Estados Unidos fecharam contratos para a exportação de 212.700 toneladas de soja desta safra 2018/19. As expectativas do mercado variavam entre 300.000 e 700.000 toneladas. A estimativa do USDA é que as exportações do país em toda a temporada alcancem 56 milhões de toneladas. Até o momento, foram fechados contratos para embarques de 21 milhões de toneladas da soja americana.

“Essa projeção do USDA, teoricamente, considera os efeitos da guerra comercial, mas acho difícil chegar nesse número sem que haja um acordo com a China”, afirma Roque. O ano comercial dos Estados Unidos vai de setembro a agosto, e no mês de janeiro a safra brasileira 2018/19 começará a chegar ao mercado.

As perspectivas iniciais eram de que, mesmo com a taxação, a China passaria a comprar a soja dos EUA na entressafra brasileira. Mas não é o que vem ocorrendo. “Há até uma percepção de que a China poderá voltar ao mercado somente quando a safra brasileira 2018/19 começar a sair dos campos”, diz Roque.

A estimativa do USDA para as importações de soja pela China é de 94 milhões de toneladas. Contudo, a própria China já informou que deve importar menos que isso. “O governo chinês informa que as importações de soja devem chegar a 84.6 milhões de toneladas, quase dez milhões de toneladas a menos do que a projeção do USDA”, diz a analista da INTL FCStone.

 

Fonte: Valor Econômico

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