China já ganha força nas cadeias globais de valor da área agrícola

A China emergiu como “key player” nas cadeias globais de valor na agricultura, com um avanço nessa frente que de longe superou o do Brasil e de outros grandes países exportadores, segundo estudo ao qual o Valor teve acesso elaborado por cinco importantes referências internacionais: Organização Mundial do Comércio (OMC), Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), a agência da ONU para Comércio e Desenvolvimento (Unctad), Banco Mundial e Centro Internacional de Comércio (ITC).

Esse documento será examinado nesta sexta-feira (14/9) pelos ministros de Comércio das principais economias desenvolvidas e emergentes, em reunião do G20 a ser realizada em Mar del Plata (Argentina). Nas Cadeias Globais de Valor (CGV), a análise envolve a evolução da produção em estágios que agregam valor. Leva em conta que em cada estágio, o produtor, para realizar seu trabalho, compra insumos e emprega fatores de produção (capital, terra e trabalho).

As Cadeias Globais de Valor alteraram a natureza de produção e especialização ao redor do mundo. O movimento é mais óbvio nas manufaturas, mas mudanças similares estão em curso nos setores agrícola e de alimentos, constata o estudo. E, por sua vez, mudanças no comércio internacional agroalimentar estão tendo impacto nesses setores, na produtividade, no crescimento da produção e na melhora dos meios de subsistência.

Segundo o trabalho, as CGVs no setor agroalimentar estão cada vez mais concentradas em “hubs” específicos, em torno da China, Estados Unidos e Alemanha. Esses países têm as maiores ofertas e demandas por valor agregado nas cadeias globais no setor agrícola. A China, sobretudo, registrou o maior crescimento no uso de produtos agrícolas com valor agregado para exportação e também no suprimento de produtos para essas cadeias.

A participação da China no crescimento do comércio agrícola com valor agregado para uso nas CGVs estava próximo a 27% na estimativa mais recente, superando a soma dos três maiores países que aparecem em seguida na lista: Brasil (8%), Estados Unidos (8%) e Índia (6%). Diversos países europeus foram responsáveis por ganhos importantes no crescimento do comércio agrícola com valor agregado entre os anos de 2004 e 2014.

Além do suprimento para exportações, a concentração também é expressiva do lado dos compradores de produtos agrícolas com valor agregado incluídos na cadeia global. Para essa forma de comércio de CGV, os Estados Unidos são o comprador mais central, mas outros países são proeminentes, como é o caso de China, Alemanha, Japão e vários europeus.

O estudo das organizações internacionais aponta diferença considerável nos setores agroalimentares na extensão e na maneira como participam das Cadeias Globais de Valor. Alguns produtos, especialmente perecíveis, têm pouca participação direta, casos do arroz com casca, do leite, da cana-de-açúcar e da beterraba. A participação desses segmentos acontece por meio de conexões com outros setores de processamento domésticos.

As políticas de comércio e investimento têm influência fundamental na participação das CGVs – as tarifas de importação e taxas cobradas nas exportações reduzem a participação de um setor nas cadeias. Medidas não tarifárias como sanitárias e fitossanitárias (SPS) e barreiras técnicas ao comércio (TBT) também reduzem a participação, por motivarem aumento de custos.

Em contrapartida, infraestrutura de transporte, educação e aportes em pesquisa e desenvolvimento agrícola são positivamente relacionados à criação de valor agregado interno e têm reflexos positivos na participação das CGV. Outros fatores, como a capacidade de atender aos padrões privados (representados pelo número de produtores credenciados), também são importantes em diversos países.

Para que um país maximize a participação nas CGVs, o estudo sugere que os governos façam um mix de ações políticas domésticas e globais. Como as CGVs no setor agroalimentar se tornam mais complexas e requer maior nível de investimento, uma das propostas é a promoção de “princípios responsáveis” de investimentos, por exemplo.

Mas no G20 os problemas começam quando uma das propostas é corrigir distorções no comércio, em particular nas tarifas e barreiras não tarifárias. EUA e vários países europeus nem querem ouvir falar de desmontar seus subsídios. Mas, com esse novo estudo, o G20 pelo menos terá colocado foco em uma nova tendência no comércio agrícola internacional.

 

Fonte: Valor

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