O avanço das lavouras de soja no Cerrado está ocorrendo agora de forma mais acentuada sobre áreas já abertas, principalmente em pastagens abandonadas, e menos sobre a vegetação nativa.
Essa é a conclusão de um estudo encomendado pela Abiove, a associação que reúne as indústrias de óleos vegetais no País, na tentativa de entender melhor o papel da cadeia da oleaginosa na dinâmica da degradação do segundo maior bioma do Brasil.
Elaborado a partir da análise de dados geoespaciais pela consultoria Agrosatélite, o levantamento mostra uma redução significativa na expansão da cultura sobre a mata, na safra 2001/02, por exemplo, 27% dos 7.5 milhões de hectares semeados com soja no Cerrado foram sobre a vegetação.
Esse percentual, segundo o estudo, recuou para 18% entre 2006/07 e 2013/14 e para 7% entre os ciclos de 2013/14 e 2016/17. No Matopiba, a queda foi de 62% para 14%, nas mesmas comparações, quando a região registrou um crescimento na área plantada de 1 milhão de hectares para quatro milhões de hectares.
O Matopiba, confluência de Maranhão, Tocantins, Piauí e o oeste da Bahia, é a mais recente fronteira de desenvolvimento da soja no Brasil.
“A tendência é que esse número caia ainda mais nos próximos anos, principalmente com o uso de áreas já abertas”, disse o presidente da Abiove, André Nassar.
Segundo ele, entre as razões para o recuo sobre a vegetação está no fato de as melhores áreas já terem sido ocupadas, o que eleva o risco de investimentos em terras menos aptas à cultura.
Também foram importantes para a diminuição da pressão sobre a cobertura vegetal a coordenação mais afinada na fiscalização federal, os programas de monitoramento das empresas compradoras de soja e o corte de financiamento em casos de irregularidades socioambientais.
Segundo a Abiove, entre 2014 e 2016 apenas 6,8% da área planta com soja no bioma, ou 201.500 hectares, ocorreu sobre desmatamentos. Os outros 2.74 milhões de hectares desmatados neste mesmo intervalo não haviam sido ocupados com soja.
O número foi comemorado pela Abiove como uma contribuição pequena da soja no desmatamento, ainda que, isoladamente, não mostre uma tendência. Em geral, o produtor necessita fazer correções químicas no solo após desmatar, para só então entrar com a lavoura. Nem sempre o plantio é imediato.
Questionado, Nassar afirmou não ser do interesse do estudo entender o que ocorreu com o restante da área desmatada. “Estamos olhando só para a soja”, disse.
Fonte:BValor