A crise logística instaurada no País a partir da criação do tabelamento de preços para o frete mínimo do transporte rodoviário acabou inflacionando o preço para os insumos agrícolas e, consequentemente, para os defensivos. É o que afirmam alguns especialistas do setor, como o presidente da Associação Nacional dos Distribuidores de Insumos Agrícolas e Veterinários (Andav), Henrique Mazotini, que prevê uma alta considerável nos insumos.
Segundo ele, a previsão é de que o aumento no custo dos insumos para a produção de grãos para o ciclo de 2018/2019 chegue a 25%. Mazotini informou ainda que existem outros fatores externos colaborando com o aumento, como a guerra comercial entre a China e os Estados Unidos e o cenário eleitoral, mas ressalta que o principal fator é a crise do frete.
“Estávamos num voo normal no ano passado. Em algumas regiões, vai ter atraso do plantio de soja e, assim, atraso da safrinha de milho. As janelas ideais de plantio ficarão mais curtas, o que pode afetar a produtividade. Alguns defensivos agrícolas subirão na casa dos 25% e 30%. Incertezas nunca são boas. Nós ficamos como ‘salsicha no cachorro-quente’ enquanto os EUA brigam com a China”, disse o presidente da Andav.
Ainda no cenário de projeções, Guilherme Bellotti, analista sênior do banco de investimento Itaú BBA, salientou, no início do mês de agosto, que a alta dos fertilizantes e pesticidas para a próxima safra deve passar dos 20%. Segundo o analista, esse aumento refletirá diretamente nos lucros dos produtores rurais brasileiros. No estado do Mato Grosso, por exemplo, maior produtor de grãos do Brasil, as margens da soja devem ser de R$ 1.458,00 por hectare em 2018/ 2019, em relação a R$ 2.155,00 na safra anterior.
Nesse cenário, o analista Luiz Fernando Pacheco, da T&F Consultoria Agroeconômica, contextualiza a crise do frete rodoviário, explicando a questão do chamado “frete de retorno”. Segundo ele, os defensivos e todos os outros insumos são levados dos portos para o interior no frete de retorno, onde o caminhoneiro que voltaria com o caminhão vazio acaba ganhando 30% menos, já que ganhou o frete cheio na ida.
“Os insumos chegam basicamente pelos portos e são levados para o interior pelo sistema de frete de retorno, que normalmente custam de 20% a 30% menos, porque o caminhão ganha frete cheio de ida, levando soja e milho para os portos. Como isto acontece desde sempre, e funciona muito bem, todas as empresas já venderam os insumos com este tipo de custo”, disse Pacheco.
No entanto, o tabelamento acabou tornando o frete de ida mais caro e fez com o que, mesmo voltando com o caminhão vazio, o contratante terá de pagar a tabela cheia pela quilometragem que o caminhão percorreu. Assim, não só o custo do transporte ficaria mais alto, mas também o valor da carga, já que o contratante terá de pagar mais caro pelo que está comprando e cobrará mais caro também na revenda.
“É fácil perceber que isto altera substancialmente os custos, não só dos fretes, mas de toda a produção agrícola, diminuindo muito os parcos lucros dos agricultores. Como grande parte dos insumos é negociada a prazo de safra, a preços previamente definidos, e o tabelamento veio só no momento da entrega, todo o processo ficou comprometido. Ninguém quer bancar o custo adicional e, com isto, criou-se um impasse”, afirmou Pacheco.
Fonte: Agrolink