Grandes fazendas puxam expansão da agropecuária

Grandes propriedades rurais impulsionaram a expansão do setor agropecuário brasileiro nos últimos 11 anos, especialmente em fronteiras como o Pará, graças à pecuária, e Mato Grosso, onde houve forte crescimento da produção de grãos. É o que apontam dados preliminares do Censo Agropecuário de 2017, divulgados na quinta-feira (26) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) após trabalhos de campo realizados entre outubro de 2017 e fevereiro passado.

Esse movimento, concentrador, foi marcado por ganhos de escala e de produtividade determinados por flagrante incremento dos investimentos dos produtores em mecanização e novas tecnologias no campo nas últimas décadas. Uma modernização responsável, em boa medida, pela queda do número de empregos gerados pelos estabelecimentos agropecuários.

Segundo o IBGE, a área ocupada pelo setor alcançou 350.3 milhões de hectares no ano passado, 41% do território brasileiro e 5% mais do que o verificado no Censo Agropecuário anterior, realizado pelo órgão federal em 2006. São 16.5 milhões de hectares a mais, o que corresponde ao território do Estado do Acre.

Foi marcante de 2006 a 2017 o crescimento do número de propriedades rurais de grande porte no país, com 1.000 hectares ou mais. Surgiram 3.287 estabelecimentos desse porte, distribuídos por uma área de 16.3 milhões de hectares. Dessa forma, as grandes fazendas passaram a responder por 47,5% da área total ocupada pela agropecuária no ano passado, acima dos 45% de 2006.

Quase 21.000 recenseadores do IBGE visitaram 7.5 milhões de endereços para traçar esses novos contornos do campo brasileiro, numa operação orçada em R$ 697 milhões. Os resultados são considerados preliminares porque o órgão ainda vai coletar informações de 1.213 estabelecimentos de maior porte e tentar uma nova abordagem para obter informações de 6.582 produtores que se recusaram a participar da pesquisa, considerada fundamental para a definição de políticas agrícolas apropriadas a um país onde o setor apresenta tantas diversidades.

Fronteiras ocupadas por grandes agricultores e pecuaristas, Pará e Mato Grosso registraram forte expansão da área dedicada à produção de alimentos nos últimos anos. No Pará, a área ocupada pela agropecuária cresceu 6.7 milhões de hectares entre 2006 e 2017, sobretudo em razão do avanço das pastagens, naturais e plantadas, o efetivo de bovinos do Estado cresceu para 15.2 milhões de cabeças. Em Mato Grosso, a expansão foi de 6.1 milhões de hectares, principalmente de lavouras temporárias.

Nesses Estados, o avanço do setor não se deu apenas com agricultores “engolindo” o vizinho, já que o número de estabelecimentos cresceu. “Há produtores abrindo novos estabelecimentos e incorporando novas áreas”, disse Antonio Florido, gerente da pesquisa do IBGE, acrescentando que o levantamento não mensurou quanto dessa expansão ocorreu sobre florestas, de forma legal ou ilegal.

A pesquisa identificou a existência de 5.1 milhões de estabelecimentos agropecuários no país no ano passado, 103.500 a menos que em 2006. O número inclui propriedades que acessam o mercado ou usam a produção apenas para subsistência. “Parte dessa queda é reflexo de uma mudança metodológica que fez com que o número de produtores sem área própria, como empregados que criam animais na propriedade do patrão, caísse de 255.019, em 2006, para 76.671 em 2017”, disse Florido.

No que tange à evolução da mecanização, Censo Agropecuário do IBGE aponta que o número de tratores aumentou 49,7% em relação a 2006 e superou a marca de 1.2 milhão em setembro de 2017. Mais de 200.000 estabelecimentos passaram a contar com essas máquinas no período, e o número total se aproximou de 734.000.

A maior mecanização teve impacto direto no número de pessoas ocupadas na agropecuária, que caiu de 16.5 milhões para 15 milhões em 11 anos. Em 2017, havia três pessoas por estabelecimento, em média, entre produtores e gente com laços de parentesco, além de funcionários temporários e permanentes. “A mecanização permitiu ganhos de produtividade, o que é algo positivo. Você passa a usar menos solo para uma produção maior. Produz de forma mais sustentável”, disse Paulo André Camuri, assessor do Departamento Econômico da Confederação da Agricultura e Pecuária (CNA).

Além de tratores e outros equipamentos, as propriedades rurais passaram a contar com outras tecnologias que têm melhorado a comunicação nos grandes polos agropecuários. Embora a conexão ainda seja um gargalo, os produtores com acesso à internet chegam a 1.4 milhão, contra os 75.000 de 2006. Do total de 2017, 909.000 usavam a internet móvel e 659.000 navegam por banda larga. O acesso ao telefone também cresceu no período: de 1.2 milhão para 3.1 milhões de propriedades, um aumento de 158%.

Mas, além de apresentar números que comprovam o expressivo ganho de peso do agro no Brasil e justificam projeções que indicam que essa importância deverá aumentar nos próximos anos, o censo do IBGE também traz alguns alertas. Um deles é o encolhimento das atividades no Nordeste. Após cinco anos de seca, a região ficou com 2.3 milhões de estabelecimentos agropecuários em 2017, 5% a menos do que 11 anos antes. A área ocupada por essas propriedades ficou 9 milhões de hectares menor. O Nordeste foi a única região do país com quedas nesses dois indicadores.

“O resultado do Nordeste está ligado aos cinco anos de seca na região. Além disso, existe uma faixa no Nordeste, que se estende da Bahia ao Rio Grande do Norte, em processo de desertificação. Ou seja, não cresce mais nada, não se cria mais nada. É um processo que vem de mais de dez anos”, disse Florido durante entrevista coletiva para apresentar os resultados do censo.

 

Valor

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