O dólar comercial fechou em forte baixa de 1,84%, cotado a R$ 3,7727 para compra e a R$ 3,7739 para venda, com máxima a R$ 3,8043 e mínima a R$ 3,7586, registrando a maior queda semanal desde meados de fevereiro passado (- 2,45%), com o mercado respirando mais aliviado diante do quadro eleitoral doméstico e sob a influência do exterior.
Essa foi a terceira semana consecutiva de queda, período no qual a moeda acumulou uma desvalorização de 2,67%.
O alívio veio após notícias de que líderes dos partidos do “Centrão”, grupo formado por DEM, PP, PRB, PR e Solidariedade, decidiram fechar apoio ao pré-candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, mas a formalização do apoio depende ainda do “dever de casa” a ser feito pelas partes. Se concretizado, o apoio garante ao tucano bom espaço nas propagandas na TV.
Alckmin é visto pelo mercado financeiro como um político mais comprometido com os ajustes fiscais. Até então, as notícias indicavam que o “Centrão” estava pendendo para Ciro Gomes, pré-candidato do PDT nas eleições de outubro.
“O apoio não significa vitória de Alckmin, nem muda de imediato seu desempenho, mas traz uma perspectiva mais animadora ao investidor e aos mercados”, disse o operador de câmbio da Advanced Corretora Alessandro Faganello.
A notícia do apoio a Alckmin acabou levando muitos investidores que estavam comprados em dólar (apostas na valorização da moeda norte-americana) a zerarem posições, o que fez a moeda bater a mínima na casa de R$ 3,75 mais cedo. Mas a cautela não foi totalmente deixada de lado.
“Entre a eleição e a Presidência tem um cara que é o eleitor”, afirmou o gestor de uma corretora estrangeira. “Se o acordo tiver efeito prático (resultar em intenção de votos), o mercado pode melhorar muito”, disse.
O recuo do dólar frente a outras moedas no mercado internacional, ocorreu depois do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, expressar a sua preocupação com uma moeda mais forte, acusando a China e a EU de manipular moedas e juros.
No mercado internacional, por volta das 17h15 (Horário de Brasília), o Dollar Index estava em baixa de 0,81%, cotado aos 94,21 pontos, enquanto o euro estava em alta de 0,70%, cotado a US$ 1,1724.
O Banco Central brasileiro ofertou e vendeu integralmente 14.000 contratos de swap tradicional. Com a venda de hoje, o BC já rolou US$ 9.8 bilhões do lote de US$ 14.023 bilhões que vence em agosto.
Juros futuros se recuperam e voltam a patamares do início de junho
Os contratos futuros de taxas de juros vão voltando a passos lentos para os patamares anteriores à crise de nervosismo registrada em junho, mais especificamente no dia 7, quando o mercado perdeu os parâmetros dos preços dos ativos e entraram em uma onda de zeragens de posições. Na época, o cenário refletiu uma descrença com os próximos passos do Banco Central e a curva de juros chegou a precificar elevação de 0,75% na Selic na reunião seguinte do Copom.
Agora, aos poucos, o mercado vai reduzindo o prêmio de risco embutido na curva. Os DIs mais curtos, com vencimentos em janeiro/2019, 2020 e 2021 já voltaram para os patamares de 4 e 5 de junho. Mais longo, o DI janeiro/2025 volta ainda mais, renovando mínima desde 25 de maio.
Segundo o economista-chefe do Rabobank, Mauricio Oreng, a curva embutia prêmio de risco de cenários alternativos, o que incluía a possibilidade de uma alta mais forte do dólar, expectativas de inflação saindo da meta do BC e um ambiente político sem execução de reformas. “Tivemos o posicionamento do BC na ata do COPOM, Relatório Trimestral de Inflação (RTI) e entrevistas da autoridade reafirmando que não há relação mecânica entre câmbio e a política monetária”, disse Oreng. O economista destaca ainda a evolução das expectativas de inflação, comprovando que os choques decorrentes da greve dos caminhoneiros são passageiros. Segundo ele, o cenário externo não provocou um agravamento da situação, o que poderia levar a uma alta ainda maior da moeda americana.
Embora o movimento de redução de prêmio tenha sido gradual, hoje foi um dia importante para essa tendência, sobretudo para os vencimentos mais longos, com a forte queda dos contratos seguindo novas informações sobre o processo eleitoral.
Geraldo Alckmin, pré-candidato à presidência pelo PSDB, praticamente fechou aliança com o Centrão, imprimindo grande alívio para os contratos. O grupo é formado por PP, PR, DEM, PRB e SD e pretende formalizar a aliança no dia 26 de julho.
“Existe espaço para os ativos locais apresentarem desempenho positivo relativo e absoluto no curto prazo, pois a posição técnica do mercado vai de neutra a levemente negativa”, segundo a análise da Icatu Vanguarda. Segundo a instituição, fundos e tesourarias estavam com viés negativo em Brasil.
O apoio do Centrão coloca o pré-candidato em uma posição melhor que seus principais concorrentes, segundo a Icatu Vanguarda, mas a incerteza eleitoral permanecerá e, com isso, espera-se muita volatilidade até o dia das eleições.
Na avaliação de Paulo Petrassi, sócio e gestor da Leme Investimentos, as notícias políticas são positivas e a reação do mercado condiz com o novo cenário eleitoral. Segundo ele, os investidores estavam descrentes com a possibilidade de Alckmin ir para o segundo turno.
Em sua opinião, o apoio do Centrão é duplamente positivo: por um lado fortalece o tucano, ao aumentar o seu tempo de propaganda política na TV e, por outro, tira o risco de fortalecimento do oponente Ciro Gomes (PDT). “Alckmin é reformista, vai fazer a reforma da Previdência. Acho justa a melhora do mercado.” A Icatu ressalta ainda que o apoio do Centrão garante uma capilaridade maior ao candidato em alguns municípios e regiões onde os partidos apresentam presença relevante.
Nesta sexta-feira, também foi destaque a divulgação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) de julho, que funciona como prévia do IPCA. O indicador desacelerou a alta para 0,64% de 1,11% do mês anterior. A leitura do IPCA-15 ficou abaixo da média de 0,73% das estimativas obtidas pelo Valor Data com 28 consultorias e instituições financeiras.
Ao fim da sessão regular, às 16h, o DI janeiro/2020 terminou a 8,06% (de 8,13% no ajuste anterior), o DI janeiro/2021 estava cotado a de 9,05% (9,17% no ajuste anterior) e o DI janeiro/2025 registrou taxa de 10,86% (11,17% no ajuste anterior).