Com guerra comercial, cotação da carne suína desce a ladeira nos EUA

As guerras comerciais de Donald Trump fizeram a carne suína virar uma pechincha. A produção dos EUA caminha para ser a maior na história neste ano e a previsão para 2019 é de novo aumento. A onda de aumento na oferta chega em meio às novas tarifas impostas pela China e pelo México sobre o produto, que ameaçam restringir as exportações dos EUA e deixar o país com uma montanha de carne suína barata.

No sábado, ao menos 30 pessoas fizeram uma excursão em Dallas inspirada em comidas com bacon, e atravessaram a cidade experimentando rosquinhas de bacon, sorvete de bacon, geleia de bacon e bacon crocante caramelado.

Embora os preços de varejo do bacon nos últimos 12 meses tenham mostrado tendência de queda, ainda estão mais altos do que há seis anos. Assim, para os entusiastas da carne suína, qualquer recuo é uma notícia bem-vinda.

“É uma experiência que cria quase um elo”, disse Jeanine Stevens, dona do Dallas Bites! Tours, que leva os participantes a restaurantes e outros estabelecimentos pouco conhecidos. “O bacon é um tipo de comida a respeito da qual as pessoas simplesmente se sentem um tanto entusiasmadas. É uma comida divertida”.

Outros americanos podem concordar. O USDA prevê que o consumo de carne suína nos EUA em 2019 vai subir para 24 quilos por pessoa, está em 23,5 quilos. É o maior consumo per capita desde o início dos anos 1980. O aumento da demanda, contudo, não vai ser suficiente para absorver o da produção, por isso o contrato futuro do suíno vivo está em seu menor patamar desde 2002 para esta época do ano.

Há a previsão de uma “mudança sem precedente” nas exportações mundiais de carne suína no segundo semestre de 2018 e a oferta maior vai pressionar o mercado dos EUA para baixo no resto do ano, segundo analistas do Rabobank, entre os quais Chenjun Pan.

Os fundos hedge mais do que dobraram suas apostas na queda. Um dos motivos pelos quais o aumento na demanda não ajudou tanto nos preços é o fato de o produto concorrendo com os baixos preços do hambúrguer e da carne de frango. A produção total de carnes dos Estados Unidos deverá ser recorde em 2018 e continuar crescendo em 2019, estima o USDA. O contrato à vista de suíno vivo pode chegar a um valor médio de US$ 0,42 por libra-peso em 2019, cerca de 7,7% menos que neste ano, segundo projeções do departamento.

“[Para os futuros de suíno vivo], o risco à frente é que tenhamos números enormes de animais chegando e números enormes de carne bovina e de aves”, disse Don Roose, presidente da firma de administração de investimentos em boi e grãos U.S. Commodities.

Os fundos hedge elevaram sua posição líquida vendida para 8.718 contratos futuros e opções de suíno vivo na semana encerrada em 10 de julho, conforme a Comissão Reguladora de Operações a Futuro com Commodities (CFTC). Esse número, que indica a diferença entre as apostas na valorização e na queda do preço, era de 3.260 da semana anterior. As posições vendidas totais subiram 12% e chegaram ao maior nível desde que os dados começaram a ser contabilizados em 2006. O excesso de oferta de carne não deverá diminuir tão cedo.

As indústrias de carne suína nos EUA vêm abrindo mais fábricas e uma nova deve entrar em operação em 2018, disseram analistas do CoBank em junho. “Com esse aumento na capacidade, é improvável que os produtores diminuam os números de suínos para engorda enquanto os preços estiverem cobrindo os custos variáveis”, segundo eles.

Ainda assim, o que para carnívoros tem sido boa notícia, para criadores tem sido um problema.

Com as tarifas da China e do México, “40% das exportações totais americanas de carne suína agora sofrem tarifas retaliatórias, ameaçando o meio de vida de milhares de criadores de porcos nos EUA”, diz comunicado do Conselho Nacional de Suinocultores, órgão setorial dos EUA. “Agora nos deparamos com uma grande contração e perda financeira em razão da escalada das disputas”.

Isso significa problemas, por exemplo, para a Maschhoff Family Foods, uma empresa de criação de suínos em Carlyle, Illinois, que pode ter prejuízo de US$ 100 milhões no ano iniciado em 1º de julho, segundo Ken Maschhoff, presidente do conselho de administração.

Seria um prejuízo anual recorde para a firma, que vende cerca de 5.5 milhões de suínos por ano de suas 550 granjas em nove Estados americanos. Em vez de se expandir dentro do país, a empresa pode investir na produção de suínos na Europa ou na América do Sul se as tensões comerciais continuarem, disse Maschhoff. “Havíamos previsto um ano de 2018 mais ou menos satisfatório, com um 2019 zerado, mas agora os dois anos vão ficar no vermelho para nós”.

 

Fonte: Valor

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