Cacauicultores do sul da Bahia se mobilizam para fortalecer a região

Nos anos 1980, o Brasil era o segundo maior produtor de cacau do mundo, hoje, é o sétimo.

O cacau já respondeu por 60 % do Produto Interno Bruto (PIB) da Bahia e por 6% do PIB do Brasil. Mas os tempos de glória ficaram para trás e o setor viveu por mais de duas décadas o pesadelo da vassoura-de-bruxa, doença causada pelo fungo Moniliophthora perniciosa, descoberta em 1989, e que quase dizimou as lavouras do Brasil. De segundo maior produtor de cacau do mundo nos anos 1980, hoje o País ocupa a sétima posição.

De certa forma, o produtor aprendeu a conviver com a vassoura-de-bruxa e, agora, quer resgatar a importância da cultura. Diante de perspectivas mais promissoras para a cadeia produtiva do cacau e do chocolate e da sua influência junto aos demais setores da economia, este ano, os cacauicultores do sul da Bahia criaram o “Movimento região forte”, para recuperar a força do cacau. O sul da Bahia é formado por 93 municípios e o cacau responde por 80% da economia da região.

“O movimento foi desencadeado pelos produtores da região cacaueira baiana, através do Sindicato dos produtores Rurais de Ilhéus (BA), e começou a ser desenhado em abril deste ano, na primeira reunião do grupo”, afirma o produtor de cacau Milton Andrade Junior, presidente sindicato. Depois, foi ampliado para outros setores da economia regional.

“Unimos esforços e agregamos todos os vetores econômicos da região, tais como agropecuária, comércio, indústria, prestação de serviços, turismo, educação e cultura e tecnologia”, afirma Andrade Junior.

Segundo ele, a proposta dos produtores é repensar a participação do setor no processo de mudança desse quadro, para promover o crescimento e o desenvolvimento da região, por meio de investimentos e da geração de empregos e renda.

Dentro dessa proposta, o grupo está buscando candidatos a cargos políticos que estejam dispostos a lutar pela causa cacaueira. “Queremos um modelo de política limpa, saudável voltada para o regionalismo, precisamos resgatar a nossa identidade”, diz Andrade Junior. “Vamos dizer não à corrupção e à falta de compromisso.”

‘Queremos um modelo de política limpa, saudável voltada para o regionalismo, precisamos resgatar a nossa identidade’, afirma o produtor de cacau Milton Andrade Junior, presidente do Sindicato dos produtores Rurais de Ilhéus (BA). Foto: divulgação  

O MERCADO

Segundo o Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2018, a produção de cacau do Brasil de alcançar 272,7 mil toneladas, crescimento de 27,2% em relação ao ano anterior. No ano passado, o País produziu 216 mil toneladas e movimentou R$ 14 bilhões. Os Estados da Bahia e do Pará respondem por 96% da produção brasileira de cacau.

Associação Nacional das Indústrias Processadoras de Cacau (AIPC) também espera aumento na produção, com reflexo positivo no abastecimento interno. A expectativa da entidade é que as exportações brasileiras caiam 35% e a moagem alcance 220 mil toneladas. “A indústria está com dificuldade de processamento, por causa da falta de cacau no mercado interno”, afirma Walter Tegani, secretário executivo da AIPC. Segundo ele, no primeiro semestre desse ano as exportações brasileiras de derivados de cacau (pós, manteiga e liquor) caíram 17%.”

De acordo com Tegani, em parte, a queda na produção é atribuída à seca que ocorreu na Bahia há dois anos, com perdas de árvores. “O cacauicultor está se recuperando da seca. A situação só não está pior, por causa da queda do consumo de derivados e chocolates”, observa. Para ele, outro grande problema do setor é a dificuldade de acesso ao crédito. “É alto o nível de endividamento do produtor”, diz.

Equipe SNA/ SP

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