Custo menor de hedge impulsiona demanda por empréstimos em dólar

Enquanto o mercado de emissões de títulos de dívida no exterior desacelerou em junho, em função da maior aversão a risco que afeta ativos emergentes,, a demanda de empresas brasileiras por empréstimos em dólar voltou a crescer ao oferecerem custos mais atrativos que os das linhas de crédito domésticas, segundo relatos de bancos.

Nessa operação, realizada na modalidade conhecida como “4131”, em referência à lei que disciplina a aplicação de capital estrangeiro e remessa de valores para o exterior, o banco empresta recursos em dólar para a empresa e faz uma operação de troca (“swap”) do custo da dívida em moeda estrangeira por Certificado de Depósito interfinanceiro (CDI). Assim, no fim da transação, é como se a empresa tivesse contratado uma dívida em reais.

“O número de cotações para essas operações recebidas pelo banco em junho foi mais que o dobro do registrado normalmente”, disse Anderson Godoy, chefe da tesouraria do Banco MUFG Brasil. No MUFG, o volume de operações 4131 fechadas somente em junho foi maior que o total verificado entre janeiro e maio 2018.

Nesses empréstimos, as empresas tomam recursos a um custo equivalente à taxa Libor mais um spread, que varia de acordo com o risco da companhia. Para se protegerem da oscilação da moeda estrangeira, aplicam na taxa do Cupom Cambial, que representa o juro em dólar no Brasil.

Com a alta da taxa do Cupom Cambial em junho, o custo do hedge ficou mais barato, porque abriu a distância em relação à Libor. Essa diferença, que era de 0,80% no início do ano, chegou a 1,50% em junho, o que fez com que os empréstimos em dólar passassem a ficar mais atraentes que as linhas domésticas.

“Em geral, quando a taxa do cupom cambial sobe vemos um aumento da demanda por esse tipo de operação”, disse Luis Kondic, superintendente de vendas corporativas da tesouraria do Citi Brasil. Segundo Godoy, do MUFG, toda vez que há aumento dessa arbitragem de taxas, as empresas aproveitam para antecipar a tomada de recursos.

Esses empréstimos funcionam como uma linha de capital de giro em dólar, cujo prazo gira em torno de um a dois anos, e elas são contratadas principalmente por empresas brasileiras que não têm receitas em dólar ou subsidiárias de multinacionais. Por isso, o custo do hedge tem grande influência na demanda por esse produto.

No MUFG, por exemplo, a maior demanda foi registrada nas operações que são captadas em dólar, mas já têm o custo fixado em reais, com o próprio banco assumindo o risco da variação cambial. “Esse tipo de operação é demandada por subsidiárias de multinacionais que não podem fechar operações de hedge no Brasil ou por companhias que não querem correr o risco de variação cambial”, disse Godoy.

Desde o início de junho, o BNP Paribas registrou um total de US$ 500 milhões entre empréstimos fechados e em andamento. “Cerca de 80% das operações do banco foram com multinacionais”, disse Sérgio Machado, chefe de vendas da mesa de renda fixa para clientes corporativos no Brasil do BNP Paribas.

Em geral, os bancos estrangeiros conseguem ser mais competitivos nesses empréstimos porque captam a um custo mais barato fora. A vantagem desse financiamento é que, diferentemente das linhas domésticas, ele é isento da cobrança de Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) para prazos acima de seis meses.

Embora a taxa do Cupom Cambial já tenha recuado desde o pico registrado no fim de junho, o custo desse empréstimo ainda está atrativo quando comparado a uma linha de capital de giro no mercado local. “Para operações acima de seis meses, dependendo da empresa, pode sair com um custo próximo a 100% do CDI”, disse Machado.

Em junho a taxa do Cupom Cambial subiu em função da piora do risco de crédito do Brasil, que acompanhou o movimento de outros países diante da possibilidade de um aperto maior de juro nos Estados Unidos. Para se ter ideia, somente em junho o Credit Default Swap (CDS) do Brasil de cinco anos subiu 0,48% e hoje é negociado próximo de 2,64%. Nesse cenário, a taxa de juros em dólar no Brasil tem que ser mais alta para atrair o investidor estrangeiro para aplicar no país.

Outro fator que contribuiu para a alta da taxa do cupom cambial foi a atuação do Banco Central. O BC ampliou as vendas de swap cambial, tendo colocado US$ 36.4 bilhões no mercado no mês passado. Nessas operações, o BC se compromete a pagar aos investidores a taxa do cupom cambial mais a variação do câmbio. O aumento da colocação desses contratos, que têm o mesmo efeito de uma venda de dólar no mercado futuro, ajudou a puxar a taxa para cima, para aliviar a pressão, a autoridade monetária ofertou linhas de dólar e melhorou a liquidez no mercado de câmbio.

Apesar da maior demanda por empréstimos em dólar em junho, a dívida total em moeda estrangeira das empresas brasileiras não tem aumentado. E isso tanto pelo processo de desalavancagem financeira das empresas desde a crise econômica, com a recompra de dívidas caras e redução do nível de endividamento, quanto pelo cenário de maior aversão a risco no exterior, que levou a um aumento do dólar no mundo, com impacto direto sobre os custos das emissões de dívida no exterior.

Dados do BC mostram que a dívida externa das empresas caiu de US$ 106.4 bilhões em junho de 2017 para US$ 105.5 bilhões no mês passado.

 

Fonte: Valor

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