Falta de milho é ameaça à competitividade das agroindústrias em Santa Catarina

O agronegócio catarinense tem um grande desafio: criar uma logística eficiente para a importação de milho, segundo comunicado de imprensa divulgado pela Secretaria de Estado da Agricultura e da Pesca de Santa Catarina na sexta-feira (22/6).

Um gigante na produção de carnes, o estado tornou-se também um grande comprador de milho. Todos os anos, quatro milhões de toneladas do grão saem de Mato Grosso, Goiás e Mato Grosso do Sul para abastecer as cadeias produtivas de suínos, aves e leite em Santa Catarina.

Na quinta-feira (21/6), representantes do setor público e privado e lideranças do agronegócio estiveram na Federação das Indústrias de Santa Catarina (Fiesc) para debater os desafios na logística do milho.

Santa Catarina produz em média três milhões de toneladas de milho por ano e utiliza sete milhões na alimentação de suínos e aves. O consumo diário passa de 19.000 toneladas.

“Temos um déficit que ultrapassa 55% da demanda, que tem sido suprida com milho que vem de longe. Temos buscado no norte de Mato Grosso, com distâncias que chegam a 2.000 km e o transporte é feito via caminhões”, informou na nota o secretário da Agricultura e da Pesca, Airton Spies.

Ele explicou ainda que esse milho, que chegava ao estado a um preço relativamente competitivo, encontrou outros destinos: a exportação e a fabricação de etanol.

O corredor de exportação do Arco Norte deu mais competitividade para a saída dos grãos de Mato Grosso pelos portos do Amazonas, Maranhão e Pará, e Mato Grosso está investindo em usinas flex que produzem etanol a partir de milho.

Soluções

Segundo Spies, há algumas alternativas que devem ser trabalhadas para minimizar os efeitos do déficit de milho: aumentar a produção no estado por meio da elevação da produtividade, investir no aumento da capacidade de armazenagem; usar outros grãos para completar a alimentação dos animais, como trigo e cevada, e investir em ferrovias.

“Ou viabilizamos a oferta de milho para Santa Catarina ou o estado irá perder a competitividade”, afirmou na mesma nota de imprensa o diretor de relações institucionais da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) Ariel Mendes. Para dar continuidade ao modelo do agronegócio catarinense, a ABPA criou um grupo técnico que estuda a questão do milho e da logística catarinense.

“Partimos da avaliação de que se não for resolvido o problema do milho, Santa Catarina vai perder competitividade. Aqui estão as melhores plantas, que exportam para os melhores mercados mundiais. Este é um patrimônio que temos que preservar”, destacou Mendes. Ele reforçou ainda a importância de pensar em rotas alternativas para a importação do grão e também da organização das agroindústrias para a compra antecipada de milho.

Para o presidente da Câmara de Assuntos de Transporte e Logística da Fiesc, Mario Cezar de Aguiar, a discussão sobre o abastecimento de milho passa obrigatoriamente pela melhoria da infraestrutura na região oeste do estado. “Certamente um componente importante é a infraestrutura e temos de ampliá-la para que possamos manter e fortalecer a nossa agroindústria.”

Uma das alternativas para Santa Catarina é trazer milho do Paraguai. A intenção é que o milho saia do Paraguai, siga para Argentina e chegue até Dionísio Cerqueira, onde já existe um serviço de aduana. A distância é de 354 km, cinco vezes menor do que o trajeto feito pelos caminhões que trazem milho de Mato Grosso, por exemplo. Até Chapecó, maior centro de consumo do grão em Santa Catarina, os caminhões vindos do Paraguai percorrerão 555 km.

O secretário Spies explicou que Santa Catarina já importa milho do Paraguai, porém, em uma rota mais longa, passando por Foz do Iguaçu. “Hoje o Paraguai é a melhor opção para o abastecimento de milho em Santa Catarina.”

O diretor executivo do Sindicato das Indústrias da Carne e Derivados (Sindicarne/SC), Ricardo Gouvêa, considera ainda a possibilidade de trazer milho da Argentina e até mesmo dos Estados Unidos. “O Brasil produz milho suficiente, porém, falta uma política para cuidar do abastecimento interno. Por isso a necessidade de encontrar fornecedores alternativos”, disse.

Durante a reunião, Flávio Berté, subcoordenador do Núcleo Estadual da Faixa da Fronteira (NFSC), órgão ligado à Secretaria de Estado do Planejamento, apresentou o cenário atual da Rota do Milho e anunciou o início das operações para os dias 12 e 13 de julho.

 

Fonte: CarneTec

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