Segundo maior fabricante de açúcar do mundo, com forte presença no mercado brasileiro, o grupo Tereos intensifica esforços para azeitar a gestão de sua rede de 49 unidades produtoras espalhadas por 13 países em quatro continentes e preservar a rentabilidade mesmo em tempos de queda das cotações internacionais da commodity.
Nessa nova fase de caça a sinergias, o primeiro passo foi dado em janeiro, quando as 12 cooperativas francesas que constituíam a Tereos se fundiram para formar uma só, em torno de uma estrutura mais simples, moderna e menos suscetível a divergências. O grupo tem 12.000 cooperados no total.
A próxima etapa será a criação do Campus Europa, um polo de inovação que concentrará em um mesmo local, próximo ao aeroporto Charles de Gaulle em Paris, 500 funcionários hoje distribuídos por dez unidades europeias diferentes. O “sítio” terá o apoio do Centro Europeu de Serviços de Negócios da empresa em Lille, também na França, com 80 funcionários da área de gestão.
Até o fim do ano, o grupo também reunirá no Centro de Serviços de Negócios em São José do Rio Preto, no interior de São Paulo, mais de uma centena de funcionários da área de gestão administrativa voltados às operações brasileiras, concentradas no estado.
“Essas mudanças buscam atender aos três objetivos principais que definimos: temos de ser competitivos, reduzir a volatilidade dos negócios e precisamos nos antecipar às tendências de mercado”, disse Jacyr Costa Filho, diretor da Região Brasil do grupo, ao Valor.
Segundo o executivo, essa receita já foi fundamental para o crescimento do grupo na última década, período em que o faturamento global da Tereos aumentou 39%. Foram € 5 bilhões na safra 2017/18 e seu Ebitda cresceu 66%, para quase € 600 milhões.
Mas os desafios continuam, e um dos mais difíceis é equilibrar custos de produção em países como Brasil, Índia, Tailândia (os maiores exportadores de açúcar do mundo) e Alemanha, nos quais a mão de obra pesa de maneira completamente diferente e o câmbio também tem reflexos díspares.
Vale destacar que o trabalho de manejo das distintas matérias-primas usadas pelo grupo para a fabricação de açúcar e cana no Brasil, na Ásia e na África, e beterraba na Europa, é diferente a depender do país, e que no Brasil, o etanol é outra frente vital que demanda um “balanço” específico.
“Na produção de açúcar de beterraba, por exemplo, precisamos de energia externa, o que já não acontece no Brasil por causa da cogeração a partir do bagaço de cana. E a safra de cana é mais longa que a de beterraba. São entre 210 e 240 dias contra um período entre 90 e 120 dias. Assim, há ociosidade na Europa”, disse Costa Filho.
Da produção total de açúcar da Tereos na safra passada, a cana foi matéria-prima para 2.2 milhões de toneladas, e a beterraba para 3.1 milhões de toneladas. A Tereos Commodities, braço criado em 2014 também em busca de maximizar rentabilidade, comercializou 1.4 milhão de toneladas no último ciclo.
Outro ponto importante que desafia o grupo é que a competitividade de cada país em que atua é diferente. Um dos maiores problemas é a Índia, onde a produção é menos eficiente e há uma grande preocupação social do governo, que não raro concede subsídios aos mais de 50 milhões de canavieiros.
Nesse “foco permanente em aumento de performance”, disse o executivo, a Tereos também já concentrou as equipes comerciais de açúcar e amidos, o outro grande segmento de atuação do grupo na Europa, e tem feito investimentos agronômicos e industriais no Brasil, o que representa quase 50% dos resultados do grupo.
Outro foco dos aportes é a logística. Na Europa, a multinacional ampliou a aposta no transporte hidroviário para exportar açúcar, ao passo que no Brasil há investimentos em curso no porto de Santos.
No que tange à diversificação de portfólio, a área de amidos da multi no Brasil, concentrada na unidade de Palmital (SP), é um rico manancial, uma vez que esses produtos são utilizados por diversos setores, como adoçantes, alimentos, papel e celulose e higiene e limpeza. “Na Europa, somos os segundos maiores produtores de proteínas vegetais a partir do trigo, por exemplo”, afirmou Costa Filho.
Mas o açúcar também oferece suas opções. A principal delas, no momento, é o açúcar orgânico. Segundo ele, a empresa já comercializa o produto fabricado por terceiro com a marca Guarani, mas está convertendo parte de suas áreas no Brasil, em Moçambique e na Europa para garantir produção própria. E há outros açúcares especiais, como o demerara.
Fonte: Valor Econômico