O Banco Central poderá chegar ao fim desta semana concluindo a venda de quase US$ 39 bilhões em contratos de swap cambial, incluindo aí os contratos já negociados desde meados de maio. Se confirmado, esse volume será recorde para um período de um mês, o que dá dimensão do tamanho do desafio do BC de amenizar a volatilidade cambial, especialmente diante das incertezas eleitorais domésticas e do processo de redução de liquidez no mundo desenvolvido.
Apenas ontem, o BC injetou no mercado futuro um total de US$ 2.5 bilhões na forma desses contratos. Numa demonstração de que o mercado segue nervoso, o dólar fechou em alta de 0,45%, cotado a R$ 3,7242.
O BC retomou as ofertas de swap em maio num esforço para acalmar os ânimos de investidores, que levaram o dólar às alturas como resposta ao incômodo com o fortalecimento global da moeda americana e, sobretudo, com a falta de notícias positivas no plano doméstico.
Num primeiro momento, as ofertas de swaps suavizaram a pressão no câmbio, mas o alívio teve vida curta. A tensão alcançou o ápice na semana passada, quando o dólar disparou para perto de R$ 4,00. A rápida desvalorização do real obrigou a autoridade monetária a vir a público, na noite de quinta, para informar a realização de novos leilões de swap, com oferta extra de US$ 24.5 bilhões.
Entre 14 de maio e 7 de junho, o BC injetou no mercado futuro de dólar o equivalente a US$ 14.117 bilhões via contratos de swap. Com os US$ 24.5 bilhões prometidos para o período entre 8 e 15 de junho, o montante total garantido pelo BC para o período entre 14 de maio e 15 de junho chega a US$ 38.617 bilhões.
Para um período de um mês, mais especificamente 24 dias úteis, seria a maior colocação desses contratos desde 2002, quando o BC passou a utilizar esse instrumento para atuar no mercado de câmbio.
Nem em 2008, na esteira da crise financeira global; nem em 2015, quando o dólar foi a quase a R$ 4,25 em meio a uma liquidação de ativos brasileiros; nem em maio do ano passado, com as delações da JBS. Em nenhum desses períodos o BC precisou disponibilizar ao mercado tanta liquidez em tão curto espaço de tempo.
Nem mesmo durante o programa de oferta de swaps cambiais que vigorou entre 2013 e 2015, na era Alexandre Tombini, o BC precisou ofertar liquidez nessa magnitude num período de 24 dias úteis. Na ocasião, o programa foi anunciado para debelar os efeitos da sinalização do Federal Reserve de redução de estímulos monetários, que provocou alta global do dólar, estendida ao Brasil.
Nos cálculos de Cleber Alessie, operador da H.Commcor, o BC teria de vender US$ 4.563 bilhões em swaps, entre terça-feira e sexta-feira, para cumprir a promessa de colocar no mercado US$ 24.5 bilhões em swaps.
“O BC vai preservar a discricionalidade. Até porque nesta semana tem FOMC, então existe o risco de uma pressão no dólar”, disse, lembrando a decisão de política monetária do Federal Reserve, marcada para quarta-feira.
Em evento promovido ontem pelo Goldman Sachs, o presidente do BC, Ilan Goldfajn, reiterou que oferecerá um total de US$ 24.5 bilhões em swaps até o fim desta semana. Ilan reforçou que o BC continuará a oferecer liquidez, que não há preconceito com o uso de qualquer dos instrumentos disponíveis e que o estoque de swaps poderá ultrapassar os valores máximos já alcançados. Em 31 de março de 2015, o estoque de swaps bateu o recorde de US$ 114.918 bilhões. O dado considera a data de liquidação dos contratos, não de venda.
Fonte: Valor