Os exportadores brasileiros de carne de frango começam esta semana debruçados sobre a estratégia para reverter a tarifa antidumping aplicada pela China, terceiro principal destino dos embarques do produto nacional. A decisão de Pequim, em vigor desde o último sábado, é considerada reversível pelo Ministério da Agricultura e também pela indústria nacional.
Para tanto, os brasileiros terão de aceitar uma proposta do Ministério do Comércio da China (Mofcom) de estabelecer um preço mínimo para os preços do frango importado do Brasil. Com isso, o pleito dos produtores de frango da China (que se sentem lesados pela entrada do produto brasileiro) seria atendido.
“Se as empresas se comprometerem, eles retiram a tarifa”, disse uma fonte a par das negociações. Ao Valor, o vice-presidente de mercados da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Ricardo Santin, afirmou que é preciso conhecer os detalhes da proposta.
Normalmente, disse ele, os compromissos de preço firmados por Pequim com os importadores têm validade de cinco anos. “Trata-se de um período muito longo e, se o preço mínimo for fixado na moeda chinesa, alterações no câmbio podem provocar distorções no futuro”.
No bastidores, o governo brasileiro avalia que um mal-entendido pode ter provocado a tarifa antidumping contra o frango. A origem do problema pode estar em uma decisão tomada em 22 de maio pela Câmara de Comércio Exterior (Camex). Na ocasião, o conselho de ministros autorizou a aplicação de medidas compensatórias contra o aço chinês por cinco anos, mas ao mesmo tempo suspendeu a aplicação dessa taxa.
A avaliação de autoridades em Brasília é que Pequim não gostou da decisão, na medida em que o aço chinês ainda poderá ser taxado. Diante disso, decidiu retaliar, com o antidumping ao frango.
Uma fonte graduada do governo disse confiar na retirada do antidumping. Nesse cenário, uma ação contra na Organização Mundial de Comércio (OMC) é considerada, no momento, improvável. Outro motivo que desestimula um contencioso é que Brasil e China têm uma pauta comercial ampla, e um painel poderia afetar outras negociações.
De qualquer forma, a reversão do quadro é crucial para a rentabilidade dos frigoríficos brasileiros, que têm em Pequim um polo para exportar cortes pouco demandados no Brasil. Em 2017, a China gastou US$ 760 milhões para importar 391.000 toneladas de carne de frango do Brasil, segundo a Secretaria de Comércio Exterior (Secex). O volume representou cerca de 10% das exportações do Brasil.
Na BM&F, as ações da BRF foram castigadas pela tarifa antidumping. Os papéis da empresa, que é a maior exportadora de carne de frango do Brasil, caíram 7,5% – a segunda maior baixa do Ibovespa. Em contrapartida, a JBS subiu 4,1%. A empresa é menos dependente do negócio de carne de frango no Brasil e pode se beneficiar da eventual abertura do mercado chinês aos EUA, onde atua.
Fonte: Valor Econômico