Sem acordo, China e EUA ficam mais perto de guerra comercial

As duas maiores economias do mundo caminham para iniciar uma guerra comercial de US$ 100 bilhões já neste mês, depois que uma terceira rodada de negociações entre China e Estados Unidos terminaram em Pequim ontem sem nenhum avanço.

Na semana passada, o presidente dos EUA, Donald Trump, disse que iria implementar “logo depois” de 15 de junho as tarifas já anunciadas sobre importações industriais chinesas avaliadas em US$ 50 bilhões. Pequim prometeu retaliar, taxando o mesmo valor em importações americanas.

Wilbur Ross, secretário do Comércio dos EUA, e o vice primeiro ministro chinês Liu He não emitiram um comunicado conjunto após dois dias de negociações. A rodada anterior, realizada em Washington na metade de maio, terminou com apenas uma vaga promessa das autoridades chinesas de reduzir “substancialmente” o superávit comercial de seu país com os EUA.

Em um breve comunicado, a agência de notícias oficial chinesa Xinhua disse que Ross e Liu fizeram “progressos concretos”, sem dar detalhes. Mas a Xinhua também alertou que qualquer decisão do governo Trump de impor tarifas punitivas iria arruinar as negociações, que devem prosseguir ao longo do terceiro trimestre. A delegação dos EUA, que não fez comentários após o término das negociações, deveria deixar a capital chinesa na noite de ontem.

Duas fontes a par das negociações disseram que houve poucos progressos nas questões envolvendo agricultura, um maior comércio estrutural e investimentos, com os dois lados mais concentrados em possíveis acordos na área de energia. “O foco esteve exclusivamente na redução do déficit comercial, com atenção especial às exportações (americanas) de energia”, disse uma das fontes. “O foco não foi no que a comunidade empresarial dos EUA gostaria de ver.”

No encontro dos ministros das finanças dos países do G-7 no Canadá, no sábado, o secretário do Tesouro dos EUA, Steven Mnuchin, disse que as negociações de Ross em Pequim não estavam centradas só na redução do déficit, mas também nas polêmicas políticas comerciais e industriais chinesas, que empresas americanas dizem atrapalhar suas operações no país.

“Não se trata apenas de a China comprar mais bens dos EUA, e sim de mudanças estruturais”, disse Mnuchin, segundo a agência Reuters. “Se houver mudanças estruturais que permitam às nossas empresas competir de maneira justa, isso por definição dará um jeito no déficit comercial.”

Em discussões preparatórias na semana passada, autoridades americanas acreditavam que a redução das barreiras técnicas ao comércio dobraria as exportações agrícolas dos EUA para a China para cerca de US$ 40 bilhões anuais. Autoridades aduaneiras da China, por exemplo, suspendem todas as importações americanas de frango sempre que há um caso de gripe aviária nos EUA. Outros países geralmente suspendem apenas as exportações dos estados afetados e de seus vizinhos imediatos.

A renovada ameaça de Trump, na semana passada, de impor as tarifas, surpreendeu e enfureceu as autoridades chinesas, especialmente porque pareceu contradizer as garantias dadas por Mnuchin, duas semanas antes, de que os dois lados estavam “detendo a guerra comercial”.

“Os chineses estão pedindo que o governo Trump anuncie publicamente que não vai impor as tarifas, e isso não é uma solução”, afirmou uma segunda fonte a par das discussões.

Apesar da irritação de Pequim com a ameaça renovada de Trump, nos últimos dias o governo chinês reduziu as tarifas sobre uma série de produtos de consumo importados e também prometeu relaxar as restrições aos investimentos estrangeiros em setores como os de energia e de transporte até 30 de junho. O Ministério das Relações Exteriores da China disse na sexta-feira que “as portas estão sempre abertas para negociações”.

Na visita de estado de Trump à China, em novembro, o fundo soberano de investimentos do país asiático e a estatal Sinopec assinaram um acordo provisório de participação e exploração de gás num projeto de gás natural liquefeito no Alasca avaliado em US$ 43 bilhões. A data para um acordo final foi inicialmente estabelecida para o começo de 2019.

 

Fonte: Financial Times/Valor

Facebook
Twitter
LinkedIn
WhatsApp