
“As bolhas econômicas surgem de grandes rupturas na sociedade”. A afirmação é do historiador e especialista em mercado de capitais, Ney Carvalho, que participou, no dia 3 de maio, da reunião do Conselho de Economia da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA).
Na ocasião, Carvalho destacou alguns acontecimentos na história do Brasil que transformaram o cenário econômico do país. A palestra foi baseada no mais recente livro do historiador, “Três Episódios Marcantes das Bolsas do Brasil”, lançado este ano.
O encilhamento (movimento de especulação na Bolsa que ocorreu na transição do Império para a República e que gerou transtornos econômicos); a bolha de 1971, durante o período conhecido por Milagre Econômico, e o fim da Bolsa do Rio foram episódios retratados por Carvalho como impactantes no contexto da economia nacional.
“Algumas características são fundamentais das bolhas especulativas, entre elas a criação de alavancagem (técnica utilizada para multiplicar a rentabilidade através de endividamento) e a utilização de crédito econômico nas operações”, explicou o especialista.
FATOS RELEVANTES
Ele afirmou que o encilhamento foi a primeira grande crise e que afetou profundamente a Bolsa de Valores. “Foi ainda um período em se criou um grande número de empresas, cerca de 400, e algumas delas sobrevivem até os dias de hoje”, disse.
Durante o Milagre Econômico, com a intervenção do ministro Delfim Netto, Carvalho lembrou que o houve “o tabelamento da intermediação em letras de câmbio, que era o principal mecanismo de captação de crédito direto na época, e o congelamento de bens e serviços”.
Apesar disso, afirmou o historiador, “o mercado evoluiu muito e o principal beneficiário foi o governo federal, com um grande volume de venda de ações de empresas como Vale do Rio Doce, Companhia Siderúrgica Nacional e Acesita”.
Outro acontecimento impactante citado por Carvalho na reunião do Conselho de Economia na sede da SNA foi a quebra da Bolsa do Rio pelo investidor Naji Nahas.
“Com perfil econômico ruim e antecedentes de manipulação, Nahas iniciou um processo judicial contra a fusão das bolsas do Rio e de São Paulo (Bovespa), pedindo indenização por danos morais e materiais, mas foi derrotado em primeira instância”.

DESENVOLVIMENTO SÓCIO-ECONÔMICO
Acontecimentos à parte, o mercado de capitais vislumbra novos horizontes. Participando do encontro na SNA, o economista Thomás Tosta de Sá, presidente do Comitê para o Desenvolvimento do Mercado de Capitais (Codemec), declarou que “atualmente há uma oportunidade única de fazer do mercado de capitais o grande instrumento de desenvolvimento econômico e social do país”.
Tosta de Sá defendeu, como parte de seu planejamento à frente do Codemec, a formação de uma poupança privada de longo prazo por regime de capitalização, segundo o novo modelo previdenciário para os trabalhadores, e a criação do mercado brasileiro de acesso.
“O Brasil tem 350 empresas listadas na bolsa e um universo potencial de mais de 20 mil empresas que podem acessar o mercado. O mercado de acesso é o grande instrumento para sair dos fundos de investimento e participação, e tem um potencial enorme”, ressaltou o economista.
Para ele, “o mercado de capitais brasileiro representa muito pouco para a formação do capital na economia nacional”.
“Se nós quisermos de fato uma economia aberta, que tenha um crescimento pujante a partir de sua internalidade, esse mercado precisará ser muito maior. Para que nós tenhamos um programa liberal e de crescimento econômico, será necessário transformar o mercado de capitais brasileiro”, concluiu o presidente do Codemec.
Ainda durante a reunião do Conselho, coordenada por Rubem Novaes, alguns participantes falaram sobre a importância do ex-ministro Delfim Netto para a história econômica do Brasil.
PRESENÇAS
Também estiveram presentes ao encontro o ex-ministro Marcio Fortes de Almeida; o presidente da Sociedade Nacional de Agricultura, Antonio Alvarenga; os vice-presidentes da instituição, Hélio Sirimarco e Tito Ryff; os diretores Francisco Villela, Sérgio Malta, Marcio Sette Fortes e Túlio Arvelo Duran, e os economistas Armin Lore, Carlos Von Doellinger, Claudio Contador, Ignez Vidigal Lopes, Leonardo Alvarenga, Ney Brito, Paulo Guedes, Roberto Castello Branco, Roberto Fendt e Sergio Gabizo.
Por Equipe SNA Rio