Risco cambial aflige a Argentina

O fantasma de uma crise cambial volta a assombrar a Argentina. Afetado pela onda de desvalorização de moedas emergentes, mas principalmente por problemas locais, como inflação em alta e rombo crescente das contas públicas e externas, o peso é a moeda que mais perdeu valor frente ao dólar neste ano, 16,6%, e em 12 meses, 31,57%.

Ontem, mesmo depois de intervenção que custou US$ 5 bilhões ao banco central em cinco dias, a moeda argentina fechou na cotação mais baixa da história, com o dólar valendo 22,25 pesos. O reposicionamento das moedas emergentes em relação ao dólar, movimento que ganhou impulso nas últimas semanas, afetando moedas de países como Turquia, Rússia, Indonésia e Brasil, veio em momento especialmente ruim para a Argentina.

Nos últimos dois anos, o governo do presidente Mauricio Macri promoveu um ajuste gradual nas contas públicas e a expectativa era que, neste ano, a economia acelerasse o crescimento. O problema é que, na largada, já havia duas restrições: inflação muito alta (25,4% em 12 meses até março) e déficit em conta corrente também elevado (4,8% do PIB). Além disso, mesmo com o esforço fiscal recente, o governo apresenta déficit primário (sem a conta de juros) de 3,3% do PIB e nominal (ou fiscal) de 5,5% do PIB.

A forte desvalorização do peso fez muitos argentinos voltarem ao passado, quando não tinham nenhuma confiança em sua moeda e, por isso, compravam dólares e realizavam operações com a moeda americana. O momento ainda não é comparável ao das últimas décadas do século XX, mas recentemente poupadores procuraram converter depósitos em pesos para dólares a fim de driblar a depreciação da moeda local.

Para tentar conter a queda do peso, ontem o banco central da Argentina elevou a taxa de juros para 33,25% ao ano. Em seis dias, a taxa aumentou 6%. Ainda assim, a moeda argentina continuou perdendo valor. No mercado, a expectativa é que haja nova alta dos juros em breve.

“Há uma paranoia natural de que a moeda vai sair do controle em algum momento”, disse ontem Walter Stoeppelwerth, diretor do Balanz Capital, um banco de investimentos de Buenos Aires, citado pelo “Financial Times”. “Os argentinos são mais sensíveis ao risco cambial do que em qualquer outra nação da região, com exceção talvez da Venezuela”.

 

Fonte: Valor

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