Saiba por que a batata-baroa ou mandioquinha-salsa não será mais a mesma

Novas variedades mais produtivas de mandioquinha-salsa, também conhecida como batata-baroa ou batata-salsa, devem substituir cultivar que hoje domina 95% do mercado brasileiro. Foto: Divulgação

Apreciada à mesa dos brasileiros, seja como papinha de bebê, frita ou em ensopados de carne, a mandioquinha-salsa – também conhecida como batata-baroa ou batata-salsa – em pouco tempo não será mais a mesma.

Quatro milhões de mudas de duas novas variedades do tubérculo amarelo vão ser plantadas ao longo de 2018 para substituir a variedade Senador Amaral, que ocupa 95% da área cultivada no País.

O plantio dessas mudas será feito pela empresa Eagle Flores, Frutas & Hortaliças, que ganhou edital de oferta pública da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) para propagação das novas variedades.

Um único dado explica a tendência de “destronização” da variedade que reinou inconteste nos últimos 20 anos. As novas cultivares BRS Rúbia 41 e BRS Catarina 64, desenvolvidas pela Embrapa, produzem até 80% a mais do que a Amarela de Senador Amaral, que também tinha sido resultado de pesquisas da empresa.

“A expectativa é que, em três anos, as variedades Rubia e Catarina atinjam 50% do material que é plantado hoje na região”, prevê Juary Moreira, responsável técnico pelo escritório local da Emater-MG (Empresa Brasileira de Assistência Técnica Rural), em Munhoz, no Sul de Minas.

RÚBIA E CATARINA

Neste mês, Rúbia e Catarina serão disponibilizadas ao mercado e, pela primeira vez nessa cultura, com mudas certificadas. Além de melhorar o desempenho da produção, os cientistas pretendem diversificar geneticamente as lavouras.

O pesquisador da Embrapa Nuno Madeira, que coordena os trabalhos de pesquisa com da mandioquinha-salsa desde 2002, esclarece que a diversificação dos materiais é importante para a manutenção da cultura.

“O domínio de uma única variedade, como era o caso da Amarela de Senador Amaral, fragiliza a cadeia produtiva ao torná-la suscetível a problemas, como surtos de insetos-pragas, doenças, nematoides ou à ocorrência de intenso calor ou frio”, explica o cientista.

PRODUTIVIDADE

Quanto à produtividade das novas cultivares, de acordo com Madeira, nas lavouras em que o produtor colhia 100 caixas, ele passou a colher até 180 caixas. Para os agricultores, isso se traduz diretamente em aumento de renda pela diminuição dos custos de produção.

A BRS Catarina 64 apresentou maior produtividade, porém tem encontrado um pouco mais de resistência no mercado devido ao formato, mais comprido, que dificulta o armazenamento e a embalagem em bandejas.

As duas variedades apresentam características desejadas, como coloração amarela intensa, aroma e sabor característicos. Além do alto potencial produtivo, elas têm maior produção de mudas por plantas se comparadas com a Amarela de Senador Amaral.

“Há duas décadas, quando foi lançado, esse material (Senador Amaral) apresentava boa produtividade, mas com o tempo ele foi se desgastando nesse processo de multiplicação tradicional feito pelos agricultores e hoje apresenta diversos problemas, como falta de uniformidade e ocorrência de doenças”, observa o pesquisador da Embrapa.

REGISTRO DAS CULTIVARES

O cientista ressalta que essas cultivares foram registradas pela Embrapa, e não protegidas. Isso significa que os produtores podem multiplicar suas mudas para plantios subsequentes em suas propriedades.

Madeira sugere que os agricultores adquiram plantas certificadas todo ano como material propagativo para plantio de um campo de mudas, que por sua vez fornecerá material para o campo de produção de raízes do ano seguinte, e assim sucessivamente, mantendo a qualidade genética da produção.

O pesquisador acrescenta que para produzir 120 mil mudas para um alqueire basta um pequeno e caprichado campo com três a quatro mil mudas certificadas.

LIÇÃO DO PASSADO

Atualmente, são cultivados cerca de 15 mil hectares no Brasil com batata-salsa e a produção é estimada em torno de 150 mil a 200 mil toneladas por ano.

Iniberto Hamerschmidt, coordenador de Olericultura da Emater Paraná, lembra que o Estado já foi o maior produtor nacional de batata-salsa nos anos 90, com 75 mil toneladas por ano, boa parte obtida na região de Tijucas do Sul.

“O problema é que eles cultivavam sempre na mesma área e a mesma cultivar, a Amarela de Carandaí. Daí começaram a surgir pragas, como a broca da mandioquinha e nematoides, e o cultivo foi se degenerando”, diz Hamerschmidt.

Metade dos produtores acabou abandonando a cultura. Quem permaneceu, começou a plantar a cultivar Senador Amaral e aprendeu a lição.

“Hoje os agricultores fazem rotação de culturas, adubação química e orgânica”, diz o engenheiro agrônomo.

O eixo da produção da batata-salsa, no entanto, migrou para Minas Gerais, que atualmente produz 70 mil toneladas por ano e alcança produtividade de 20 a 22 mil quilos por hectare, quase o dobro da produtividade paranaense (12 mil kg por hectare).

A explicação, segundo o técnico da Emater, está no fato de os mineiros fazerem uso da irrigação.

ORIGEM E VALOR NUTRICIONAL

No Brasil, o cultivo de batata-salsa envolve cerca de cinco mil famílias e movimenta aproximadamente R$ 2 bilhões por ano. Oriunda da Cordilheira dos Andes, entre o Peru e a Colômbia, de regiões com altitude entre 1.500 a 2.500 metros, a mandioquinha-salsa chegou em 1907 ao Rio de Janeiro, de onde se difundiu para regiões serranas do Sudeste e do Sul. Ela também é cultivada no Planalto Central em locais com mais de 1.000 metros de altitude.

É um alimento essencialmente energético, com altos teores de carboidratos de fácil digestão. Dentre as vitaminas encontradas na raiz estão as do complexo B (tiamina, riboflavina, niacina e piridoxina) e a provitamina A, além de minerais como cálcio, magnésio, fósforo e ferro. (Fonte: Gazeta do Povo)

ENCONTRO LATINO-AMERICANO
O destaque de Minas Gerais na produção de mandioquinha foi um dos principais fatores para que o Estado fosse escolhido para sediar o 1º Encontro Latino-Americano  e o 9º Encontro Nacional  de Mandioquinha-Salsa. Os eventos serão promovidos entre os dias  8 a 10 de maio, nos municípios de Pouso Alegre e Senador Amaral. Os encontros são uma promoção da Embrapa, em parceria com a Emater-MG.
Uma das atrações será a apresentação das duas novas cultivares: a Catarina e a Rúbia. A última cultivar de mandioquinha-salsa, ou batata-baroa, foi lançada pela Embrapa em 1998, chamada de Amarela de Senador Amaral.
Coordenador de Olericultura da Emater-MG, Georgeton Silveira explica que o melhoramento das novas cultivares vai beneficiar a produção no campo.
“De 98 para cá, não houve nenhuma cultivar diferenciada. Sempre é bom o surgimento de  novas cultivares, com novas características. Estas novas cultivares apresentam as mesmas características que mercado consumidor exige. A diferença é que elas têm uma produção de 50% superior, graças à renovação do material, com maior vigor e maior rendimento”, explica.
Segundo o coordenador da Emater-MG, os eventos também serão uma oportunidade de discutir a expansão do mercado da mandioquinha-salsa.
“Como o Brasil é o maior produtor mundial, a médio e longo prazos, é preciso pensar em escala de produção, inclusive para exportar.  O país possui condições de solo e clima  ideais para a produção de mandioquinha de qualidade, com possibilidade de venda para outros países”, afirma.
INSCRIÇÕES E PROGRAMAÇÃO 
No dia 8 de maio, começa o Encontro Nacional, ocasião em que ocorrerá um seminário, em Pouso Alegre (MG), com palestras técnicas e mesa redonda sobre comercialização.
No segundo dia, haverá um dia de campo em Senador Amaral, com quatro estações e almoço com receitas à base de mandioquinha-salsa, além do lançamento das cultivares Catarina e Rúbia.
Em 10 de maio, último dia do evento, será promovido o Encontro Latino-Americano, também em Pouso Alegre, com apresentações sobre a produção e comercialização.
Para conferir a programação completa e fazer as inscrições gratuitas, os interessados devem acessar o site: www.embrapa.br/hortalicas/encontro-mandioquinha-salsa.
Para informações mais atualizadas sobre o mundo dos alimentos e da agricultura, acesse o site oficial da Revista A Lavoura.
Fonte: Emater-MG com edição d’A Lavoura
Assessoria de Comunicação – Emater-MG

 

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