Autoridades chinesas afirmaram que a soja norte-americana deverá ser o principal alvo de retaliação do país após as tarifas impostas pelo presidente Donald Trump na última semana sobre o aço e o alumínio. A informação é da Associação Americana de Soja.
O temor de associações e demais instituições americanas ligadas ao comércio da oleaginosa já são percebidos algum tempo, desde que começaram a circular os boatos de uma guerra comercial entre os dois países.
A China é responsável, afinal, por mais de um terço das exportações dos EUA e uma retaliação efetiva poderia comprometer severamente essa relação, trazendo ainda mais ajuste ao setor agrícola norte-americano.
Segundo informações apuradas pela Reuters, desde o final do ano passado, grupos americanos vinham sinalizando preocupações com este cenário.
“Ouvimos diretamente dos chineses que a soja seria um dos primeiros alvos de retaliação. A ideia de que somos o único jogador nesse jogo e de que eles não têm muitas outras escolhas está completamente equivocada”, disse a Associação Americana de Soja.
De ambos os lados, as declarações não têm ido muito mais longe. Nem mesmo a embaixada da China em Washington respondeu aos pedidos de um comentário feito pela Reuters.
No entanto, os grupos agrícolas norte-americanos criticaram veementemente a decisão da Casa Branca, mais uma vez alertando sobre os impactos na questão da soja, grãos e demais oleaginosas.
“A agricultura vai pagar o preço desse protecionismo sobre o aço e o alumínio”, declarou em entrevista ao portal ChinaDaily o porta-voz da instituição americana Farmers for Free Trade (Produtores pelo Livre Comércio, na tradução), Herb Karst.
Como esperado, os líderes americanos acreditam que os principais beneficiados por essa disputa comercial seja o Brasil.
“Se a China começar a comprar mais de um de nossos concorrentes e estabelecer uma relação ainda melhor com eles, a tendência é de que, no longo prazo, além do curto (como já tem acontecido) nossas exportações para a nação asiática continuem a recuar. E historicamente, os produtores americanos não costumam vencer nestes cenários”, disse o executivo chefe da American Soybean Association, Ryan Findland.
Gráfico mostra o aumento das exportações brasileiras de soja para a China em detrimento dos EUA
Fonte: Bloomberg
Em entrevista à Bloomberg, Nick Dowling, o CEO do New Hope Group, um dos maiores grupos agrícolas da China, disse que este é, de fato, um ponto que vem sendo observado muito atentamente pelos executivos do setor. “Isso vai impactar nas operações de negócios daqui em diante”, afirmou, lembrando, porém, que ainda é cedo para saber qual será o real impacto desse quadro.
Por outro lado, Dowling reafirmou que “as mudanças econômicas que vêm sendo registradas na China só dão mais força para o crescimento da demanda por alimentos de cada vez mais qualidade, principalmente com um aumento considerável da classe média no país e na Ásia de uma forma geral”.
“Estamos somente no começo da jornada. Acreditamos que esse crescimento da classe média asiática será um fator de grande impacto não só na região, mas no mundo nos próximos 12 a 15 anos, trazendo grandes oportunidades”, disse o dirigente.
As expectativas para a temporada 2017/18 mostram que as importações chinesas de soja possam vir a superar a 100 milhões de toneladas.
O volume consideravelmente maior do que o observado na temporada anterior, de 93,5 milhões de toneladas, segundo o USDA, se dá, principalmente, diante de uma demanda bastante aquecida no setor de rações, uma vez que a China conta com os maiores plantéis de suínos e aves do mundo. O consumo de proteína animal entre os chineses aumenta ano a ano e a produção acompanha.
E o objetivo das indústrias chinesas é o de seguir importando e aumentando suas importações de matéria-prima, como a soja em grão, para continuar ampliando sua produção de itens finalizados e de valor agregado. Assim, a projeção é de queda nas importações, por exemplo, de carne suína.
“Em 2018, as compras chinesas de carne de porco deverão recuar para cerca de 2.2 a 2.3 milhões de toneladas, contra 2.5 milhões de toneladas do ano passado”, afirmou um expert em alimentação e agricultura do Mizuho Bank, J.Y. Chow à Reuters Internacional.
“A produção de carne suína tem crescido muito rapidamente, mas certamente continuaremos a importar alguns volumes”. (Com informações da Bloomberg, da Reuters Internacional e do China Daily).
Fonte: Notícias Agrícolas