Americana Cargill amplia aposta em análise de dados

A americana Cargill, maior empresa de agronegócios do mundo, está contratando especialistas em análise de dados para encontrar maneiras de lucrar com os fragmentos de informações coletadas quando as commodities passam por suas fábricas, silos e portos. A iniciativa, revelada nas listas de oportunidades de empregos postadas em seu site, é uma tentativa da múlti de atualizar as vantagens que pode ter com sua base de informações na era digital.

Em atividade há 152 anos, a Cargill compra e vende dezenas de milhões de toneladas de produtos agrícolas por meio de uma rede que abrange do cinturão do milho dos Estados Unidos ao Mar Negro, mas a crescente disponibilidade de dados no mercado em geral, de padrões climáticos a movimentação de navios, reduziu o valor do conhecimento interno dos mercados de commodities.

Agora, a empresa está tentando explorar melhor os sete petabytes de informações contidos nessa rede, e acredita que os cientistas especializados em dados podem ajudá-la a aumentar seus lucros. “Quer trabalhar na vanguarda da inteligência artificial e da agricultura? A Cargill tem uma presença significativa na maioria das cadeias de suprimentos no espaço agrícola”, diz um anúncio da empresa visando à contratação de um líder em ciência da informação.

Entre as iniciativas está um ramo da inteligência artificial que vasculha vastos conjuntos de dados para encontrar padrões capazes de orientar decisões. Em sua página no Linkedin, Tyler Deutsch, líder global de ciência de dados da Cargill, disse supervisionar mais de uma dúzia de funcionários na “construção de modelos de aprendizagem por máquinas para a comercialização de produtos nos setores da agricultura, alimentos e commodities em todo o mundo”. E acrescentou: “Estamos contratando”.

Justin Kershaw, principal executivo de informações da Cargill, vislumbra usar a aprendizagem por máquinas para tarefas como encontrar as melhores rotas de transporte, ler imagens de satélite para avaliar a sanidade das culturas e interpretar gravações, captadas por microfones, dos ruídos produzidos por camarões, um dos produtos manejados pela Cargill, para informar os criadores sobre o momento de dar aos crustáceos mais alimento.

O aprendizado por máquinas também pode ajudar as tradings a navegar nos mercados de contratos futuros, onde pelo menos metade dos volumes já provém de sistemas de negócios automatizados. “Acreditamos que os traders humanos continuarão a desempenhar um papel crítico nos negócios, mas serão cada vez mais complementados pelas máquinas para identificar os eventos que mexem com o mercado mais rápida e consistentemente e para permitir melhores decisões comerciais”, disse Kershaw.

O fato é que, como lembra relatório o Boston Consulting Group, a disseminação da tecnologia digital está pressionando as margens das tradings. A Cargill, uma companhia de capital fechado, não está imune a isso. Os lucros de sua divisão de originação e processamento de grãos, por exemplo, diminuíram em três dos últimos quatro trimestres.

Richard Payne, consultor da Accenture, observou que uma das vantagens das tradings agrícolas vinha do fato de elas “serem ativas em toda a cadeia de suprimento física e serem as primeiras a obter e reagir a novas informações”. A inteligência artificial “poderá examinar muito mais dados e eliminar as emoções e erros humanos da situação. Isso muda o papel dos traders, mas representa um desafio imediato ao DNA e ao valor de mercado dos negociantes de commodities”, disse Payne, que no passado foi executivo da Cargill.

 

Fonte: Financial Times

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