A decisão tomada pela da Câmara do Comércio Exterior (Camex), em agosto do ano passado, de taxar em 20% a importação de etanol ainda não surtiu os efeitos tão esperados pelo setor sucroalcooleiro. De acordo com dados da balança comercial brasileira, as importações do produto ainda estão muito aquecidas e o pior: as exportações caíram.
A estratégia do governo na ocasião era trazer alívio aos produtores brasileiros do etanol, que sofrem com a invasão crescente do combustível proveniente dos EUA, onde é fabricado a partir do milho. Para frear as importações, foi estipulada, por um período de dois anos, cota de 600 milhões de litros/ano para a compra no exterior.
“Apesar da medida adotada, a entrada do etanol americano continua forte e o que chama mais atenção é que o preço está ainda menor. Em dezembro de 2017, por exemplo, o preço médio foi de US$ 568,12 por tonelada, inferior aos US$ 622,36 pagos em igual mês do ano anterior. A redução foi de 8,72%. Isso significa que os produtores americanos baixaram ainda mais o preço para continuarem, mesmo após a taxação, competitivos nas importações feitas pelo Brasil”, avalia o presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro.
O especialista em comércio exterior destaca que a queda de preço do combustível americano se dá em um momento no qual a cotação do açúcar no mercado internacional também está em queda. Este é um comportamento atípico, uma vez que os usineiros preferem utilizar a matéria-prima para o derivado de melhor retorno financeiro. Isso, explica ele, sinaliza que os estoques de etanol estão altos nos EUA.
No acumulado de janeiro a dezembro de 2017, as importações de etanol atingiram 1.452 toneladas, com crescimento de 127% na comparação com o ano anterior. Além da perda do mercado doméstico para o produto vindo do exterior, os usineiros brasileiros estão vivenciando a fuga de compradores internacionais.
“As exportações estão caindo. No ano passado, o Brasil enviou ao exterior 1.135 toneladas de etanol, volume abaixo das 1.434 toneladas de 2016. O preço médio do combustível exportado pelo País em 2017 foi de US$ 710, bem acima dos US$ 618 praticados para a importação. Assim como o próprio mercado doméstico, outros países estão optando pelo produto mais barato”, ressalta Castro.
No mercado comenta-se que os EUA estejam praticando dumping com o etanol proveniente do milho e que a taxação feita pelo governo brasileiro é apenas um paliativo provisório para sanar a questão. O embate entre produtores brasileiros e americanos não é novo e promete render novos confrontos na Organização Mundial de Comércio (OMC).
Equipe SNA/Rio