Nos últimos 20 anos, houve grande aumento da produção de leite no Brasil. Até 2013, o crescimento da população do País e, consequentemente, do consumo per capita absorveu grande parte dessa demanda em ascensão.
Com a redução populacional e alta pouco expressiva do consumo per capita, nos últimos tempos, só existem duas formas para que não haja uma tendência crescente de excedente de produção e, consequentemente, queda no preço de leite em território nacional: elevar o consumo interno e as exportações de leite.
Neste artigo, o Grupo Apoiar (criado com o objetivo de auxiliar no desenvolvimento da pecuária leiteira, por meio de trabalhos de pesquisa e de consultoria em diversos segmentos da cadeia agroindustrial do leite) sugere algumas estratégias que podem ser utilizadas para aumentar o consumo de leite no Brasil.
QUALIDADES NUTRICIONAIS
Produtos derivados lácteos atendem a uma considerável parcela da exigência diária de proteínas, vitaminas e minerais, oferecendo cálcio para o fortalecimento dos ossos, principalmente durante a adolescência, período em que cerca de 60% da massa óssea é adquirida.
Nas últimas décadas, no entanto, o consumo de derivados lácteos pelos adolescentes vem perdendo espaço, por exemplo, para os refrigerantes. Em um estudo recente feito no Brasil, a prevalência de consumo de leite foi maior no sexo feminino, idosos, residentes da Região Sul e entre indivíduos de maior renda per capita.
Por uma questão nutricional da população e econômica do País, é de extrema importância que sejam estudados os fatores que aumentam o consumo de lácteos em toda a população, principalmente nos adolescentes.
INTERVENÇÕES EFICIENTES
Em uma revisão de literatura realizada por pesquisadores da Universidade de Guelph, no Canadá, foi avaliada a eficiência de diversas intervenções, que buscavam aumentar o consumo de derivados lácteos entre os adolescentes.
Dezessete intervenções (de 16 publicações) foram analisadas, sendo que 11 (aproximadamente 69%) foram classificadas como eficientes. As intervenções foram avaliadas quanto a duração, frequência, intensidade e efeito negativo na dieta (veja as tabelas 1 e 2 clicando aqui). A eficiência da intervenção também foi avaliada de acordo com a técnica usada para a mudança de comportamento (Tabela 3).
Confira essas informações completas, descritas pelo Grupo Apoiar e publicadas na íntegra pelo site MilkPoint.
USO DA INTERNET
Apesar de não ser uma técnica explícita de mudança comportamental, o uso de tecnologias para realizar propagandas de incentivo ao consumo de leite (as chamadas intervenções) merece atenção. A pesquisa dos canadenses mostra que as intervenções que usaram tecnologia, como a internet, apresentaram bons efeitos na eficiência da intervenção.
Isso porque elas podem auxiliar em algumas técnicas de mudanças comportamentais, tais como: fornecer informações gerais, revisão dos objetivos comportamentais, fornecer oportunidades para comparação social, e planejamento para uma mudança/apoio social.
Considerando a crescente influência da internet e das mídias sociais sobre o comportamento das pessoas, é de extrema importância que sejam esclarecidos alguns mitos e falsas crenças que possam afetar o consumo de derivados lácteos.
A revisão de literatura feita por pesquisadores canadenses concluiu que foram identificadas algumas características de intervenções eficientes, que resultaram no aumento de consumo de derivados lácteos (e/ou cálcio), como a revisão dos objetivos comportamentais, o monitoramento e a prática do próprio comportamento (hábito), dar feedback, promover oportunidades para comparação social e ter breves conversas e aconselhamentos.
O que pode ser feito para atingir toda a população, inclusive fora do Brasil?
O Grupo Apoiar sugere:
* Educar as crianças para continuarem a beber leite durante toda a vida (o consumo cai conforme a idade aumenta);
* Enfatizar o valor nutricional dos derivados lácteos, aumentar a disponibilidade e satisfação dos consumidores;
* Atender às mudanças do padrão de consumo tradicional do leite, com variedade de sabores e inclusão no estilo de vida (por exemplo, bebidas de café da manhã);
* Associar uma dieta balanceada contendo derivados lácteos a atividades físicas;
* Promover cursos para educadores (professores);
* Promover integrações entre escola e fazenda;
* Inserir no currículo das escolas a discussão sobre os benefícios dos derivados lácteos;
* Ter produtos lácteos com diferentes teores de gordura;
* Ter leites flavorizados com baixos teores de açúcar;
* Conscientizar e educar adultos sobre o consumo insuficiente de cálcio, e promover instruções específicas de como o hábito de consumir produtos lácteos pode ser inserido em suas vidas;
* Ter mensagens distintas para públicos distintos. Por exemplo: homens preferem informações com fatos bem embasados, mulheres preferem mensagens saudáveis e de bem-estar, e desaprovam apelos estéticos;
* Combinar leite e derivados lácteos com outras comidas;
* Atingir a família como um todo, não apenas a criança, engajando diretamente os pais;
* Aumentar o consumo de produtos lácteos em países com baixo consumo: a venda de leite embalado, ao invés de leite não embalado, direto para consumidores de outros países, pode aumentar o consumo de pessoas que já possuem o hábito de tomar leite;
* Ajustar as variedades de sabor para atender a diferentes paladares pode ser uma estratégia chave para aumentar o mercado em países como Índia e Paquistão;
* Inserir produtos lácteos como parte da dieta tradicional de alguns países, como China e Vietnã.
MARKETING
A estratégia de marketing mais conhecida, e talvez mais impactante, que objetivou o aumento no consumo de derivados lácteos, foi a “Got Milk”. Essa campanha internacional contou com três fases principais:
Fase 1: aumentar o número de consumidores de leite, associando-o a comidas, celebridades e ocasiões.
Fase 2: aumentar o consumo de leite em pessoas que já consumiam esse produto, por meio de uma imagem de que beber leite é legal e interessante.
Fase 3: desenvolvimento de novos produtos que utilizam leite, por intermédio de parcerias com grandes redes alimentícias (por exemplo, a rede de fast food McDonald’s).
Clique aqui para acessar mais detalhes da campanha Got Milk e aqui para conhecer a viabilidade de marketing institucional no Brasil.
BEBA MAIS LEITE
No Brasil, foi lançada recentemente uma campanha, que objetiva aumentar o consumo de leite, a “Beba mais Leite”. Essa ação vem promovendo os benefícios do consumo de lácteos à saúde.
Por fim, o Grupo Apoiar conclui que existem diversas ações que podem ser realizadas com o objetivo de aumentar o consumo de derivados lácteos no Brasil.
“Talvez, ainda estejamos engatinhando nesse processo, pois ainda existe muita falta/falha de informação a respeito dos benefícios nutricionais do leite. Em grande parte do mundo, os benefícios na saúde promovidos pelos derivados lácteos são quase que inquestionáveis (não é à toa que a OMS recomenda um consumo de 200 litros por habitante ao ano), porém, no Brasil, parece que poucas mídias estão interessadas em falar a verdade (argumentos técnicos e pesquisas bem embasadas) sobre o leite”, destaca o Grupo Apoiar.
Fonte: Grupo Apoiar via site MilkPoint com edição d’A Lavoura