Compra de adubo deve ser adiada novamente

A comercialização de insumos agrícolas, como fertilizantes, neste ano deve ser marcada, mais uma vez, por lentidão, assim como ocorreu em 2017, num novo desafio para o setor. O lado positivo é que desta vez a indústria não será pega de surpresa. Além disso, os estoques do setor iniciam o ano em níveis “normais”, o que favorece o planejamento pelas empresas.

No ano passado, quando, segundo estimativas, as entregas de fertilizantes voltaram a bater recorde, a retração de preços internacionais de soja e milho levou os produtores a adiarem as vendas de grãos, à espera de valores mais atraentes. Sem o dinheiro da safra 2016/17 em caixa, as compras de insumos para o ciclo atual, o 2017/18, ficaram represadas, o que afetou empresas do segmento.

“Essa dinâmica gerada com o atraso foi muito ruim para a cadeia”, disse Lair Hanzen, presidente da Yara Brasil, líder no mercado brasileiro, com 25% das entregas de fertilizantes. Nos dois anos anteriores, os produtores vinham antecipando as compras de insumos e o ritmo mais lento das aquisições em 2017 elevou custos e atrapalhou a estratégia da indústria.

Em 2018, quando as vendas tendem a registrar novo recorde, o quadro não deve ser muito diferente. “O agricultor vai continuar olhando o melhor momento para se posicionar e isso pode gerar algumas concentrações como vimos em 2017”, disse Eduardo Monteiro, diretor da cadeia de suprimentos na Mosaic Fertilizantes. A companhia é a terceira maior misturadora do país com 20% do mercado, segundo a Associação Misturadores Adubos Brasil (AMA).

O ritmo mais lento da comercialização não impediu que as entregas de fertilizantes batessem recorde em 2017, estimam analistas. A expectativa é que tenham ficado levemente acima das 34.1 milhões de toneladas de 2016. Segundo a INTL FCStone o volume pode ter crescido entre 1,5% e 2% no ano. A Scot Consultoria avalia que as entregas avançaram no máximo 1,7%.

No ano passado, as compras de adubos ganharam ritmo apenas no segundo semestre, chegando a 32.1 milhões de toneladas até novembro, segundo a Associação Nacional para Difusão de Adubos (ANDA). O volume é 2,1% maior que no mesmo período de 2016.

A recuperação na demanda foi muito bem-vinda e ajudou a regular os estoques das indústrias. Contudo, o adiamento das compras complicou o planejamento das empresas em 2017. Segundo Lair Hanzen, da Yara, cerca de 70% da matéria-prima usada pelas misturadoras no Brasil são importadas e o prazo para o abastecimento é muito longo. “Você não consegue fazer muitos ajustes na sua cadeia na conta final”, disse. O atraso provocou o aumento de custos logísticos e levou os estoques a patamares superiores ao considerado ideal pela indústria.

Segundo Dalton Heringer, Presidente da Fertilizantes Heringer, o cenário também sacrificou as margens da indústria e elevou estoques no primeiro semestre de 2017. À analistas em novembro, ele afirmou que as margens do setor começaram a melhorar apenas no fim do ano.

Para este ano, a indústria prevê compras ainda lentas, mas a demanda deverá continuar aquecida. Segundo a Scot Consultoria, o volume de entregas deve ficar entre 35 milhões e 35.5 milhões de toneladas, um novo recorde.

Os preços dos fertilizantes, que estão em patamares elevados, devem começar a cair a partir de abril, disse Marcelo Mello, analista da INTL FCStone. Mesmo assim, ponderou Rafael Ribeiro, analista da Scot, para a safra 2017/18 é esperado um aumento de preços de adubos NPK (nitrogênio, fósforo e potássio) entre 3% e 4%.

Ainda que a expectativa seja de aumento nas vendas de adubos no ano, a demanda de fertilizantes para plantio da safrinha de milho no ciclo 2017/18 deve cair, uma vez que as cotações internacionais do grão seguem pouco atraentes. “Trabalhamos com redução de consumo entre 3% e 5% de fertilizantes na safrinha”, disse Mello, da FCStone. Para a produção de soja, o analista prevê aumento entre 3% e 5% no uso para a safra 2018/19, que ainda será plantada. Considerando a demanda de uma maneira geral, a previsão da FCStone é de aumento de consumo entre 2% e 3% neste ano.

 

Fonte: Valor

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