O governo está costurando um plano logístico exclusivo para o agronegócio brasileiro. Conduzido pela Embrapa Territorial, com sede em Campinas (SP), o trabalho elege como prioritárias 30 obras de rodovias, ferrovias e hidrovias, oito das quais com potencial para resolver cerca de 60% dos gargalos de transporte enfrentados atualmente pelo setor.
Baseado em mais de 150.000 imagens de satélites e fruto de um sistema de “inteligência territorial de macrologística” desenvolvido nos últimos dois anos pela equipe do pesquisador Evaristo de Miranda, da Embrapa Territorial, o estudo identifica rotas de escoamento importantes para diferentes segmentos do campo e propõe projetos e alternativas capazes de otimizá-las. No total, 1.6 bilhão de toneladas de matérias-primas agropecuárias e seus derivados, além de insumos e equipamentos, são transportadas ao ano no país por estradas, trilhos, rios e dutos.
O plano contempla projetos conhecidos como o Ferrogrão, ferrovia que está em consulta pública e ligará Sinop, em Mato Grosso, a Miritituba, no Pará, onde grandes tradings já instalaram diversos terminais portuários. Mas também sugere “pequenas intervenções” em obras já existentes capazes de resolver demandas pontuais ou servir de opção em novas fronteiras, regiões em que foram identificadas tendências de avanço de uma determinada atividade agropecuária e que vão necessitar de soluções de transporte no futuro.
“Queremos apresentar o plano definitivo ao presidente Michel Temer até abril, já com sugestões de outros órgãos do governo e do setor privado”, disse ao Valor Eumar Novacki, Secretário-Executivo do Ministério da Agricultura, ao qual a Embrapa é vinculada. “Deverá ser uma das últimas medidas a serem entregues pelo ministro e um dos legados que queremos deixar”, disse Novacki, que, com a ausência de Blairo Maggi em virtude das festas de fim de ano, ocupa interinamente o cargo de ministro.
O plano foi apresentado há três semanas por Blairo ao Ministro Moreira Franco, da Secretaria-Geral de Governo, que também responde pelo Programa de Parcerias de Investimento (PPI) do governo. A ideia é expor o trabalho em fevereiro aos investidores da área de transportes, a entidades do setor agropecuário e a autoridades do Ministério dos Transportes e das agências reguladoras ANTT (rodovias e ferrovias) e Antaq (portos e hidrovias).
Ainda que as obras contidas no plano se espalhem por todos os polos de agronegócios do País, as consideradas mais urgentes se localizam no chamado Arco Norte, por onde é crescente o escoamento de grãos produzidos no Centro-Oeste e destinados à exportação.
Quando estiver concluído, o trabalho também pretende indicar qual o modelo de investimento é mais viável para cada obra, concessão, Parceria Público-Privada (PPP) ou investimento 100% público, no caso de não haver interesse imediato para investidores, inclusive em consequência das incertezas políticas intrínsecas a um ano de eleições majoritárias como a de outubro deste ano.
“Procuramos desconsiderar as questões regionais e políticas e estamos pensando num plano logístico de longo prazo para a agricultura e a pecuária do Brasil”, disse Eumar Novacki. “Tem obras ali para daqui a 20 anos e para que o próximo governante possa usá-las, mas realmente não podemos garantir que todas vão para a frente”, disse.
Edeon Vaz, presidente do Movimento Pró-Logística da Aprosoja, entidade que representa produtores de grãos, avalia que um plano do gênero é importante para servir de “mapa de intenções prioritárias” do setor. “Mas é preciso que um projeto como esse seja uma política de Estado, não de governo”. Vaz participou das discussões iniciais em torno do plano da Embrapa.
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