Poucas vezes nas últimas décadas os produtores rurais do país dependeram tanto de soluções concretas para antigos gargalos estruturais domésticos como agora. Mas, tendo em vista o cenário de menor volatilidade em mercados globais nos quais o Brasil desempenha papel de liderança, melhoras na infraestrutura e no ambiente macroeconômico de urgentes tornaram-se inadiáveis – caminho de mão única para garantir que na próxima década avanços observados nos últimos 20 anos não sejam desperdiçados.
Em linhas gerais, é o que aponta o “Outlook Fiesp – Projeções para o Agronegócio Brasileiro 2027”, trabalho recém-concluído pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo. E que, partindo da premissa de que as melhorias necessárias de uma forma ou de outra vão acontecer, confirma que o setor continuará a crescer em ritmo anual mais de 2% superior ao da média mundial em alguns segmentos, embora menor que o dos últimos dez anos. “Responsável, em grande parte, pelo início da recuperação econômica em 2017, o agronegócio continuará como um dos protagonistas do Brasil que queremos ser”, disse Paulo Skaf, presidente da Fiesp.
A desaceleração confirmada agora – a mesma tendência foi apontada nos ‘Outlooks’ anteriores da Fiesp, dado o peso da forte escalada registrada entre 2001 e 2010, não significa que os incrementos estimados serão pouco expressivos.
Para a soja, por exemplo, o estudo projeta até a temporada 2026/27 aumentos de 17% da área plantada (para 39.7 milhões de hectares), de 8% da produtividade (para 3,6 toneladas por hectare) e de 27% da produção (para 144.4 milhões de toneladas), sempre tomando-se por base resultados do ciclo 2016/17. Nesse horizonte, as exportações líquidas do grão, carro-chefe do campo nacional, chegariam a 89.8 milhões de toneladas, 43% mais na mesma comparação.
São igualmente positivas as projeções para a produção e exportação de farelo de soja. O óleo de soja também registrará avanços, mas impulsionado pelos prometidos aumentos do percentual de mistura obrigatória do biodiesel no diesel vendido no país, que em março já aumentará de 8% para 10%. Tudo isso, é claro, a depender do comportamento do clima. Qualquer vento fora da curva, para o bem ou para o mal, resultará em números diferentes, mesmo que não gere mudanças radicais de rota. Por causa dessa grande influência climática, a Fiesp atualizará seu “Outlook” de forma permanente.
Para o milho, o cenário desenhado indica que até 2026/27 haverá incrementos de 10% da área plantada (para 19.3 milhões de hectares), de 10% da produtividade (para 6,1 toneladas por hectare) e de 20% da produção (para 117.7 milhões de toneladas). As exportações poderão aumentar 75% e superar 53 milhões de toneladas, mas, como no caso do farelo de soja, o crescimento da demanda doméstica para a fabricação de rações para aves e suínos também será vital para impulsionar uma firme expansão da oferta do cereal.
Para a carne de frango, o trabalho da Fiesp aponta para aumentos, até 2027, de 23% da produção (para 15.8 milhões de toneladas) e de 31% das exportações (para 5.7 milhões de toneladas). Mas também sinaliza altas de 11% do consumo per capita em relação ao patamar de 2016 (para 48,2 quilos) e, assim, de 19% da demanda interna (para 10.7 milhões de toneladas). Na carne suína, os saltos projetados são ainda maiores. O da demanda doméstica chega a 27%, atingindo 3.6 milhões de toneladas.
No segmento de proteínas animais, são igualmente positivas as previsões de avanço da carne bovina, nos fronts externo e interno. Até 2027, o ‘Outlook’ vê incrementos de 21% da produção (para 11.2 milhões de toneladas), de 53% das exportações (para dois milhões de toneladas) e de 14% do consumo no país (para 8.7 milhões de toneladas). Mas poucas cadeias dependem tanto de boas condições macroeconômicas irradiadas das políticas definidas em Brasília como essa, como destacam os autores do estudo.
“Soja, milho e carnes são exemplos de que não há grandes mudanças no cenário geral previsto para a próxima década em relação ao que sinalizaram os ‘Outlooks’ anteriores. São tempos de menor volatilidade de preços no mercado internacional, o que, pelo menos para 2018, significa que a ‘inflação dos alimentos’ deverá continuar baixa no país. Mas isso a depender do futuro das reformas em curso, e se as eleições presidenciais do ano que vem terão reflexos sobre elas”, disse Antonio Carlos Costa, Gerente do Departamento do Agronegócio (Deagro) da Fiesp.
Alexandre Mendonça de Barros, diretor da consultoria MB Agro, parceira da Fiesp no trabalho, reforça que o que estará em jogo nas próximas eleições é justamente a continuidade da agenda reformista. Sob uma ótica mais abrangente, essa “disputa” certamente terá desdobramentos importantes sobre o modelo de política agrícola adotado no país. Mas é preciso observar, como realça o especialista, que as oscilações do câmbio também estão em jogo, e que essa é uma variável de grande relevância para a rentabilidade dos produtores brasileiros, sobretudo os que fazem parte das cadeias exportadoras.
O novo ‘Outlook’ da Fiesp não deixa de contemplar, finalmente, a importância das novas ferramentas de crédito à disposição dos produtores rurais em tempos de queda da Selic; a proliferação de tecnologias a preços acessíveis voltadas aos diferentes segmentos, e o caráter indispensável da defesa sanitária para o país manter e abrir novos mercados para os produtos do setor. Mais informações em www.fiesp.com.br/outlook.
Fonte: Valor Econômico