O Brasil tem chances de colher uma grande safra de café em 2018, mas a exportação da commodity não deve se recuperar do mesmo modo, uma vez que os estoques locais seguem enxutos e a competição no mercado internacional está cada vez mais acirrada para os brasileiros, que também lidam com custos crescentes que reduzem sua competitividade.
Maior exportador global de café, o Brasil vem perdendo seu peso no comércio da commodity desde 2015, quando embarcou um recorde de 37 milhões de sacas. O país deve exportar em 2017 menos café em relação a temporada anterior pelo segundo ano seguido.
Pelos dados mais recentes da Organização Internacional do Café (OIC), o país respondeu por 25,8% das exportações mundiais do produto na safra 2016/17 (outubro/setembro), contra 29,6% em 2015/16. O motivo por trás disso foi principalmente a quebra de produção de robusta no Espírito Santo em 2015 e 2016 por causa da seca, que apertou as reservas da variedade e fez o país perder clientes no exterior.
Os importadores ainda têm enfrentado concorrência do próprio mercado do Brasil, depois dos Estados Unidos, o segundo consumidor global de café, que deve crescer a uma taxa de 3,5% ao ano até 2021, segundo o Euromonitor International.
Nesse contexto, preços considerados pouco atrativos pelos cafeicultores acabaram por desestimular ainda mais as exportações. Os embarques totais do país (café verde, torrado & moído e solúvel) caíram 10,7% até outubro e devem fechar o ano 5% abaixo do previsto, segundo o conselho de exportadores (Cecafé). Dessa forma, espera-se apenas um 2018 de recuperação tímida nos embarques.
“Como não há estoque, o pessoal está receoso em assumir uma posição de venda e não conseguir realizar depois. Além disso, há demanda no mercado interno, o que diminui a ansiedade pela exportação”, disse o diretor da consultoria Pharos, Haroldo Bonfá.
Para o presidente do Centro de Comércio de Café de Vitória (CCCV), Jorge Nicchio, os estoques ainda apertados levarão o segmento a “amargar” reduzidas exportações no primeiro semestre de 2018, com os vendedores pouco dispostos a negociar. Nicchio prevê alguma retomada apenas na segunda metade do próximo ano, após a colheita da nova safra, “que caminha para ser recorde”, podendo tocar as 60 milhões de sacas, graças à bienalidade positiva do arábica.
“As exportações vão depender do restabelecimento da produção em 2018 e pode exigir sacrifícios, como preços mais baixos, porque hoje em dia há muitos concorrentes”, disse em entrevista à Reuters o diretor executivo da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic), Nathan Herszkowicz, durante evento da Abic na semana passada na Bahia.
Segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), as cotações do robusta no Espírito Santo fecharam a semana passada entre R$ 360,00 e R$ 370,00 por saca, bem abaixo dos mais de R$ 550,00 registrados no final de novembro de 2016, após a quebra de safra. Mas os valores ainda estão acima do intervalo de R$ 150,00 a R$ 250,00 registrados na maior parte da última década.
As exportações não avançam, apesar dos preços historicamente fortes, destacou o presidente da maior cooperativa de café do Brasil e maior exportadora do produto, a Cooxupé, Carlos Paulino da Costa. Segundo ele, os exportadores não estão conseguindo fechar negócios satisfatórios nos valores que os produtores pedem.
“Está perdendo competitividade. O produtor não está podendo vender pelo preço que o mercado está pagando por causa do aumento de custos. Tem o custo Brasil. O café não está descolado dos custos de logística, leis trabalhistas, leis ambientais…”, disse Paulino da Costa, que concorda com embarques pouco expressivos em 2018, pelo menos até a chegada da safra.
Concorrência maior
A seca entre 2015 e 2016 derrubou a produção de robusta ou conilon, do Espírito Santo, o principal produtor nacional da variedade, e parte da indústria, principalmente a de solúvel, chegou a defender a importação de café verde para calibrar a oferta doméstica.
As compras externas acabaram não se concretizando, e o Brasil perdeu negócios para concorrentes na Ásia, justamente por não ter conseguido obter matéria-prima no mercado a preços adequados.
A quebra de safra praticamente fez desaparecer os embarques de conilon, para pouco mais de 200.000 sacas de janeiro a outubro de 2017, contra 4.2 milhões de sacas em todo o ano de 2015, quando houve uma exportação recorde. Na esteira disso, os rivais do Brasil no comércio global da commodity avançaram sobre o espaço deixado pelo maior produtor e exportador.
A participação da Colômbia, por exemplo, passou de 10,5% em 2015/16 para 11% em 2016/17, enquanto a da Índia teve leve aumento de 5% para 5,2%, e a da Indonésia saltou para 9,1%, de 5,2%, segundo a OIC. No caso do Vietnã, segundo maior player mundial de café, a participação diminuiu de 22,6% em 2015/16 para 20,2% em 2016/17, refletindo um recuo na safra por causa das fortes chuvas no momento da colheita no ano passado.
“Não há outra razão para essa perda de mercado: foi a disparidade de preços interno e externo”, disse o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Café Solúvel (Abics), Pedro Guimarães, que calcula perda de 500.000 sacas em negócios com solúvel neste ano por causa dessa conjuntura.
Para Nicchio, do CCCV, uma grande safra em 2018 poderia estimular maiores vendas de produtores, mas isso também pressionaria mais as margens no campo, sinalizando riscos para a oferta futura. “O produtor não sendo remunerado segura a produção e não tem estímulo para tratar as próximas colheitas”, disse, temendo problemas com as safras futuras do país.
Conforme cálculos da OIC, o Brasil precisará elevar em 40% a sua produção da commodity até 2030, em cerca de 20 milhões de sacas, para garantir a dominância no setor.
Fonte: Reuters