Usinas falidas viram nicho de negócios

A derrocada de uma parte das usinas sucroalcooleiras do centro-sul do país nos últimos anos não é má notícia para todo mundo. A cada pedido de recuperação judicial ou falência decretada, uma oportunidade de negócio é criada, e já há especialistas nesse “mercado”.

É o caso de um grupo de investidores capitaneado pelo economista Winston Fritsch. Com foco em empresas protegidas na Justiça contra credores, o grupo aposta agora suas fichas na aquisição da massa falida da usina São Fernando, que pertencia aos filhos de José Carlos Bumlai, implicado na Lava-Jato.

Junto a Fritsch – que depois de se notabilizar por integrar a equipe que criou o Plano Real ingressou no mercado financeiro – estão também Rodrigo Aguiar, que presidiu a Tonon Bioenergia e trabalhou em bancos, e Paulo Vasconcellos, também do mercado financeiro e fundador da Energias Renováveis do Brasil. Outros investidores com familiaridade na área de commodities também demonstraram interesse em integrar o grupo.

Há duas semanas, o trio propôs, por meio do veículo de investimento Pedra Angular, adquirir a São Fernando, em Dourados (MS), por R$ 890 milhões. O valor seria pago em 20 anos. A proposta foi apresentada à Justiça após o leilão da usina fracassar por falta de lances.

A Pedra Angular pretende financiar “parte relevante” da aquisição com capital próprio dos investidores, afirmou Aguiar em entrevista ao Valor. Se a oferta da empresa for aceita, o executivo presidirá a São Fernando.

Essa não é a primeira tentativa do grupo de sócios de adquirir uma usina em dificuldade. Em agosto, eles se habilitaram a participar do leilão da usina Revati, em Brejo Alegre (SP), da indiana Renuka do Brasil, que está em recuperação judicial. No entanto, o grupo não chegou a elaborar uma proposta, já que o leilão foi suspenso após recurso do BNDES.

“Temos olhado para várias oportunidades e sempre acompanhamos a usina São Fernando. Com a falência, vimos uma oportunidade”, afirmou Aguiar. No caso da usina Revati, o trio ainda avalia a possibilidade de participar da disputa caso seja marcado um novo leilão. Aguiar e seus sócios estão envolvidos em outras quatro negociações de usinas em situação semelhante.

A proposta desenhada para a usina São Fernando prevê um montante que atenda a todos os credores, mesmo considerando a perda de valor dos pagamentos ao longo do tempo, disse Aguiar. Seriam pagos R$ 28 milhões anuais até o quinto ano e 15 parcelas de R$ 50 milhões do sexto ano em diante.

Considerado o valor nominal de R$ 890 milhões, o múltiplo da transação seria de quase R$ 200,00 por tonelada de cana de capacidade instalada (a usina tem capacidade para processar 4.5 milhões de toneladas por safra). Porém, o valor presente da oferta deve ficar bem abaixo de R$ 450 milhões (R$ 100,00 por tonelada), segundo cálculos de fonte ligada ao setor.

Para efeito de comparação, a aquisição de duas usinas da Tonon pela Raízen Energia saiu por R$ 144,40 a tonelada, e a da Unialco pela Glencore, por R$ 133,50 a tonelada, conforme levantamento da Pantalica Partners.

Além do valor para a aquisição, a Pedra Angular também calcula que terá de desembolsar R$ 200 milhões para investir no plantio e em máquinas agrícolas. Atualmente, a fazenda da São Fernando possui uma área com 1.3 milhão de toneladas de cana, além de contratos com fornecedores que lhe garantem mais 700 mil toneladas. Já a estrutura industrial, cujo mix de produção entre açúcar e etanol é considerado flexível, não precisaria de aportes.

O retorno pode vir rápido. Aguiar estimou que a usina possa gerar receita de R$ 250 milhões no primeiro ano e tenha potencial para faturar mais de R$ 500 milhões. Pesa a favor do negócio a cogeração, que, de acordo com o investidor, diante dos preços atuais de energia, geraria R$ 80 milhões.

O grupo quer que a oferta seja aceita o mais rápido possível pela Justiça para que haja tempo de preparar a unidade para a próxima safra, que começa oficialmente em abril. Mas o juiz também tem a opção de convocar um novo leilão, como quer o BNDES, que agora se dispõe a financiar aportes de interessados.

 

Fonte: Valor Econômico

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