Marcos da Rosa*
O Brasil lidera o ranking mundial da preservação ambiental entre os principais produtores de alimentos. Segundo levantamento do Grupo de Inteligência Territorial Estratégica da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), a partir de dados da ONU, da União Internacional para a Conservação da Natureza e da Universidade de Cambridge, o percentual de áreas legalmente protegidas na forma de vegetação nativa em unidades de conservação e terras indígenas no Brasil chega a 30%.
A lista segue com Austrália (17,5%), China (14,3%), Argentina (12,3%), Estados Unidos (11,8%), Rússia (9,9%), Canadá (8,7%), Índia (5,3%) e Cazaquistão (2,8%). Em outro estudo feito pela Embrapa com base no Cadastro Ambiental Rural (CAR), instituído em 2015 pelo Ministério do Meio Ambiente, 66% do nosso território são cobertos por vegetação nativa e 9% pela produção de grãos, fibras e agroenergia.
A soja, principal commodity brasileira e que emprega diretamente 7.5 milhões de pessoas, se espalha por apenas 3,5% (33 milhões de hectares) do território nacional e por menos de 7% do bioma Cerrado, o que afasta a tese de que a oleaginosa seja vetor de desmatamento. Considere, ainda, que todas as culturas agrícolas anuais ocupam 8,5% do Cerrado.
Mais de 170 milhões de hectares de vegetação nativa estão dentro dos imóveis rurais, o que representa mais de 20% do nosso território. Ou seja, os agricultores preservam mais do que todas as unidades de conservação juntas (13%). Isto ocorre porque o Código Florestal obriga o agricultor a manter intacto de 20% a 80% de sua propriedade para a reserva legal e áreas de preservação permanente.
Portanto, proprietários que avançaram mais sobre a mata nativa do que foi autorizado por lei têm de recuperar essas áreas. Já aqueles que estão na legalidade podem avançar até o limite permitido, configurando desmatamento dentro da Lei 12.651/2012.
Conhecido por sua criatividade e espírito empreendedor, o brasileiro é o mais eficiente produtor mundial de alimentos. Aqui é onde são colocadas em prática técnicas como o plantio direto, integração lavoura pecuária, adubação com pó de rocha, combate às pragas a partir de agricultura biológica e outras formas de produzir melhor com menos recursos.
Representando 15% da produção mundial, a agricultura tropical é competitiva porque produz de duas a três safras anuais, enquanto países de clima temperado, que produzem os outros 85%, só conseguem colher uma vez ao ano. Portanto, não é difícil entender por que um país com o potencial para liderar o combate à fome no mundo seja alvo permanente de campanhas para prejudicar a sua imagem na comunidade internacional, a exemplo do manifesto de ONGs contra a agricultura no Cerrado, recentemente divulgado.
Lembro que há seis anos a ONG “Union of Concerned Scientists”, com grande ligação com os ecologistas militantes no Brasil, produziu o estudo intitulado “Farms Here, Forests There” (Fazendas Aqui, Florestas lá), no qual defende que o plantio deveria ficar restrito às nações desenvolvidas, enquanto países como o Brasil deveriam ser limitados a uma agricultura de subsistência e extrativista.
O que está em jogo é uma questão de soberania nacional e de segurança alimentar. O cálculo é simples. Quando o Cerrado produz menos, aumentam o desemprego e a inflação dos alimentos. Quando produz bem, o brasileiro come melhor e encontra oportunidades. Graças ao agricultor é que milhões de empregos e de hectares de mata nativa estão preservados, sem falar nos benefícios macroeconômicos festejados pelo governo e pela sociedade.
*Marcos da Rosa é presidente da Aprosoja Brasil (Associação Brasileira dos Produtores de Soja)
Fonte: Folha de S. Paulo