CNA contesta embaixador francês em declaração sobre a carne brasileira

Uma dura resposta dos produtores agrícolas do Brasil à França, sobre as suspeitas de problemas sanitários na carne bovina brasileira para não se fechar a negociação União Europeia-Mercosul, já circula pela Europa e procura reequilibrar o debate.

Esta semana, o novo embaixador da França em Brasília, Michel Miraillet, antecipou que a França tentará incluir, no mandato negociador da Comissão Europeia, a questão da sanidade animal, diante de suposta preocupação com desdobramentos dos escândalos envolvendo frigoríficos e fiscais agropecuários, a partir da Operação Carne Fraca, deflagrada pela Polícia Federal em março deste ano.

Em carta ao embaixador, o presidente da Confederação Nacional da Agricultura (CNA) João Martins da Silva Junior, contesta os argumentos franceses e reitera que a conclusão do acordo UE-Mercosul será benéfico para os dois lados.

“É preocupante que informações inverídicas sobre a produção brasileira sejam usadas na elaboração de posicionamentos franceses na negociação em curso”, diz a CNA.

A CNA destaca dados que “ficaram ausentes” das declarações do embaixador francês em Brasília. Por exemplo, que o comércio direto entre o Brasil e a França, de US$ 6 bilhões no ano passado, resultou em superávit de US$ 1.4 bilhão para os franceses. 25% desse comércio envolve produtos do agronegócio, gerando receita para produtores brasileiros de oleaginosos, celulose e café, e para produtores franceses de vinhos, malte e cevada, entre outros.

A representação dos produtores brasileiros diz que a carne brasileira é internacionalmente reconhecida por sua qualidade e sanidade, validado por 164 países importadores. E destaca que a Operação Carne Fraca, ao contrário do que o embaixador francês declarou, é prova de que as autoridades no Brasil querem fortalecer a qualidade dos produtos nacionais.

A CNA diz que em poucos meses agentes brasileiros investigaram e prenderam uma pequena quadrilha que operava em 21 frigoríficos. E compara com o que aconteceu na Europa: o uso ilegal de carne de cavalo para alimentação humana na UE vem de 1998, mas a operação que revelou esse escândalo ocorreu apenas em 2013.

Exemplifica também que, desde abril deste ano, o uso de inseticida ilegal fipronil já foi identificado em mais de 450 granjas europeias, incluindo uma na França, causando perda de confiança do público e reduzindo o consumo europeu de ovos.

“O desrespeito a regulamentações sanitárias prejudica todos os produtores rurais que atuam e comercializam seus produtos em um mercado”, diz a CNA, observando que, por isso, parabeniza a fiscalização feita pela Polícia Federal que resultou na Operação Carne Fraca.

As declarações do diplomata estão alinhadas com o presidente francês, Emmanuel Macron, que pretende propor hoje a revisão do mandato de negociação da União Europeia com o Mercosul. Isso praticamente paralisaria as discussões em sua reta final para um acordo de livre comércio.

 

Fonte: Valor

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