Diante da baixa ambição dos europeus, autoridades do Mercosul já avaliam que a nova proposta agrícola da União Europeia para um acordo de livre comércio só poderá avançar ou ser melhorada na próxima rodada de negociações entre os dois blocos que será novamente em Brasília, entre 6 a 10 de novembro, diz uma alta fonte ligada às negociações.
Os europeus ainda esperam concluir todo o acordo em dezembro, mas negociadores sul-americanos já admitem que vão aguardar até março.
O Valor apurou que, em almoço fechado oferecido pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), com negociadores do Mercosul e diversas entidades de classe do agronegócio brasileiro, a negociadora da UE, Sandra Gallina, admitiu que a proposta agrícola feita por Bruxelas na terça-feira é a possível neste momento e sinalizou que será difícil, por ora, ceder mais espaço na Europa para carne bovina e etanol produzido pelo Mercosul.
A oferta agrícola da UE inclui cotas anuais de 600.000 toneladas para etanol e 70.000 toneladas para carne bovina do Mercosul livre de tarifas. Os volumes desagradaram os sul-americanos. Um representante do Fórum de Carnes do Mercosul disse que a cota é irrisória. Segundo ele, 70.000 toneladas de carne representam apenas um hambúrguer por europeu por ano.
A atual rodada de negociações ocorre durante esta semana e termina amanhã em Brasília com até agora poucos avanços na avaliação de autoridades e entidades empresariais do Mercosul. Os sul-americanos argumentam que a oferta agrícola é inferior à proposta apresentada pela UE em 2004, que na época aceitava 1 milhão de toneladas para etanol e 100.000 toneladas para carne bovina.
Ontem, após o evento da CNA, era comum ouvir entre representantes do agronegócio brasileiro, a palavra “decepção” para se referir à proposta europeia.
O avanço das cotas anuais sem tarifas é crucial para que o acordo entre Mercosul e UE se desenrole e as negociações, que já se arrastam em muitas idas e vindas há 17 anos, avancem.
Fonte ligada às negociações, no entanto, diz que a proposta dos europeus para o etanol não tem tarifa zero, como inicialmente esperado. As cotas incluem por volta de € 3,00 por litro de etanol combustível e € 0,06 por litro para etanol para fins industriais. “A gente esperava uma proposta mais ambiciosa”, disse uma fonte do setor empresarial.
Gallina também ponderou ontem que apesar dos entraves para as cotas de etanol e carne bovina, há uma predisposição intrabloco de se aceitar o livre comércio (sem cotas ou tarifas) para outros produtos agrícolas produzidos pelos membros do Mercosul como tabaco, uva, maçã e carnes especiais. E uma intenção de negociar cotas para açúcar, suco de laranja, milho, e carnes suína e de frango.
Fonte: Valor