Embrapa lança cultivar de maracujá silvestre BRS Pérola do Cerrado

Diante de um auditório repleto de produtores e extensionistas rurais, foi lançada nessa sexta-feira (24), na Embrapa Cerrados (Planaltina, DF), Unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), a primeira cultivar de maracujazeiro silvestre registrada e protegida no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), a BRS Pérola do Cerrado.

O primeiro ciclo de seleção dessa variedade foi feito em 1994 e, após quase 20 anos de pesquisas, a Embrapa está agora disponibilizando a cultivar para a sociedade. “Selecionamos aquelas plantas que tinham maior produtividade, maior tamanho de fruto e maior nível de resistência a doenças. Ao longo desses anos de estudos, a produtividade da espécie foi triplicada e seu tamanho aumentado”, explicou o pesquisador da Embrapa Cerrados Fábio Faleiro.

“Para o desenvolvimento dessa tecnologia, foi necessário formar uma equipe multidisciplinar e estabelecer parcerias internas, com outras Unidades da Embrapa e externas, como é o caso da Emater-DF. A equipe conseguiu aglutinar pessoas para o desenvolvimento e a validação da tecnologia. Isso permitiu que o material chegasse hoje ao produtor”, destacou o chefe-adjunto de Pesquisa & Desenvolvimento da Unidade, Claudio Karia, que participou da abertura da cerimônia ao lado da chefe-adjunta de Administração da Embrapa Produtos e Mercado, Mara Rocha, e do gerente da Emater-DF, Cleber Mendes.

Fábio Faleiro abordou o programa de melhoramento genético do maracujazeiro silvestre da Embrapa. “Esse maracujá não veio para competir com o azedo. É um fruto que veio para agregar valor ao sistema do produtor”, enfatizou. Ele destacou as características do fruto e seus múltiplos usos. Segundo o pesquisador, o grande diferencial de mercado dessa cultivar é que se trata de uma variedade com quádrupla aptidão: pode ser consumida in natura; é uma alternativa para o mercado de frutas especiais destinadas a indústrias de sucos, sorvetes e doces; possui potencial para paisagismo de grandes áreas por conta de suas belas flores brancas e sua ramificação densa; e, ainda, apresenta características funcionais: alto teor de fibras e de antioxidantes.

O pesquisador Nilton Junqueira apresentou dados referentes à evolução da cultura e produção do maracujá no Brasil, além de características específicas da BRS Pérola do Cerrado. Na década de 1960, o cultivo era apenas em quintais. “A importância comercial do maracujá começou na década de 1970 e desde 1995 o Brasil é o maior produtor mundial”. Atualmente, a produtividade de maracujá no Brasil é de 15 toneladas por hectare e do Distrito Federal, de 25,7 toneladas/hectare. “Isso se deve à utilização correta da tecnologia disponível: boas práticas de manejo e uso de sementes e mudas certificadas”, destacou.

A pesquisadora da Embrapa Produtos e Mercado (Brasília, DF), Keize Junqueira, tratou do processo que deve ser seguido para que uma cultivar chegue ao mercado. Ela também repassou informações referentes à aquisição das mudas do BRS Pérola do Cerrado. Como as sementes dessa cultivar precisam de um tratamento com fitohormônios para aumentar a porcentagem de germinação e uniformidade das mudas, é necessário que elas sejam obtidas com viveiristas licenciados pela Embrapa.

A pesquisadora Ana Maria Costa, da Embrapa Cerrados, falou sobre o sistema de produção e as características tecnológicas e funcionais do BRS Pérola do Cerrado. Ela coordena a Rede Passitec, que busca complementar e agregar informações ao melhoramento genético. São 27 instituições com mais de 100 pesquisadores com o objetivo de prover conhecimento e tecnologias para o uso funcional de passifloras silvestres para o fortalecimento da cadeia produtiva. “Como não há uma cadeia de produção estabelecida, precisamos gerar informações desde o cultivo para que o consumidor tenha o alimento disponível”. Segundo a pesquisadora, os trabalhos visam ao aproveitamento de todas as partes da planta por uma questão de sustentabilidade e de valoração da produção.

Ana Maria explicou que a cultivar BRS Pérola do Cerrado produz o ano inteiro, com picos de produção no período chuvoso (dezembro a março) e tem a segunda safra no período seco (junho a setembro). “Entre uma safra e outra, não para, mas os frutos são produzidos em menor quantidade. A partir dos oito meses de idade, a planta começa a produzir. O tempo de produção é de pelo menos quatro anos, mas com manejo adequado pode chegar a muito mais”. Segundo a pesquisadora, as condições de cultivo e produção (adubação, irrigação, espaçamento e condução) são semelhantes às do maracujá azedo. Ela destacou, ainda, as características funcionais do material – polpa rica em antioxidantes, casca rica em fibras e o óleo da semente rico em ômega 6 e 9.

Características – a cultivar BRS Pérola do Cerrado foi obtida na Embrapa Cerrados a partir do melhoramento genético de uma população de acessos de diferentes origens de Passiflora setacea, uma das 200 espécies brasileiras de maracujás silvestres. Popularmente, é conhecida como sururuca, maracujá de cobra e maracujá-do-sono, pois a polpa dos frutos, segundo o uso popular, ajudaria a prevenir problemas de insônia. Quando maduros, os frutos têm coloração verde-claro a amarelo-claro, com listras longitudinais verde-escuras. O peso do fruto varia de 50 a 120 gramas e o rendimento da polpa é em torno de 35%. O florescimento se inicia 60 dias após o plantio e frutifica nas condições de outono-inverno no Brasil Central, ou seja, na entressafra do maracujá-azedo.

Fonte: Embrapa

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