Ações previstas no Programa Mudas de Qualidade, coordenado pela Embrapa, resultaram em aumento de 22% de vinhedos formados a partir de mudas comerciais desde 2012 quando foi iniciado no Sul do Brasil.
No mesmo período, observou-se redução nas importações de mudas em 9%. Além disso, o Cadastro Vitícola registrou pela primeira vez, desde o início dos levantamentos, decréscimo de 13% da produção de mudas na propriedade e do plantio de mudas em pé-franco (quando o produtor não utiliza porta-enxerto e apenas planta a variedade copa retirada das plantas do próprio vinhedo).
Apenas no Rio Grande do Sul, maior estado produtor de uvas, a comercialização dos cinco viveiristas acompanhados pelo programa triplicou desde 2012 e, este ano, eles somaram mais de um milhão de mudas produzidas.
“Cabe destacar que a renovação de vinhedos e a formação de novas áreas é um processo lento na fruticultura, porém os dados já apontam uma sensível melhora de indicadores estagnados há anos”, conta Daniel Grohs, engenheiro-agrônomo da Embrapa Uva e Vinho (RS) à frente do Programa Mudas de Qualidade, que reúne instituições públicas e privadas.
Ele também ressalta que a redução das importações é um indicador relevante, pois mostra que especialmente o setor vinícola está valorizando a tecnologia nacional.
Isso foi possível graças ao protocolo de produção estabelecido pelo programa que resultou em mudas de qualidade superior. Para apoiar sua adoção, uma ampla rede de transferência foi utilizada para sensibilizar produtores sobre os benefícios do plantio de mudas obtidas nos viveiros credenciados pelo programa.
RECOMENDAÇÕES TÉCNICAS
As recomendações técnicas subsidiaram a elaboração de um padrão que está sendo regulamentado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) para o setor. O sucesso da estratégia fez aumentar o número de viveiros credenciados, que já são dez no Brasil, e, apenas no Rio Grande do Sul, promoveu aumento de 6% ao ano na comercialização de mudas, desde a implantação do programa.
Os trabalhos desenvolvidos pela equipe de pesquisa permitiram estabelecer recomendações técnicas a serem observadas nas etapas da produção de mudas. Além disso, o programa forneceu material básico (mudas) com qualidade fitossanitária, genética e agronômica para formação das plantas matrizes − aquelas plantas doadoras dos propágulos utilizados na produção da muda.
“Em 2012, os viveiristas produziam mudas sem saber se iam conseguir vendê-las. Hoje, para adquirir mudas junto aos viveiros participantes do projeto, o viticultor precisa fazer reserva com, pelo menos, 12 meses de antecedência,” conta Grohs.
“Para um setor no qual a tradição é a informalidade na produção da muda, em que se faz a muda a partir de plantas existentes na propriedade ou em vizinhos, esses dados são de grande importância”, avalia.
CENÁRIO HÁ QUATRO ANOS
De acordo com Sérgio Frá, responsável técnico do Viveiro Sinigaglia, em Bento Gonçalves (RS), há quatro anos o cenário era desesperador. Ele lembra que tanto parreirais produtivos quanto videiras recém-plantadas estavam morrendo, viveiristas buscavam produzir mudas sadias sem conseguir e os produtores tentavam, sem sucesso, fazer suas próprias mudas e acabavam disseminando mais doenças pelos parreirais.
“Todos os envolvidos na produção de uva sabiam que havia muitos problemas, mas ninguém sabia como nem por onde começar as mudanças necessárias para garantir a sustentabilidade da produção. Foi o programa que nos ajudou a encontrar um meio de resolver a situação”, relata o técnico.
O Sinigaglia foi um dos primeiros viveiros a participar do programa e um de seus proprietários, Lucas Sinigaglia, afirma que o padrão desenvolvido e difundido pelo programa serviu como alicerce para uma produção sustentável em todo o segmento vitivinícola.
“Antes, cada viveirista produzia a muda como queria, agora o programa estabeleceu os parâmetros para produzir uma muda de qualidade. Como resultado, hoje, o viticultor está mais atento, começou a entender e exigir boa sanidade e morfologia das mudas ao comprar”, avalia.
Carlos Raimundo Paviani, diretor de Relações Institucionais do Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin), destaca a importância das ações relacionadas à qualificação das mudas de videira para o setor.
“Esse projeto garante que o investimento feito em novas áreas de cultivo, para renovação ou ampliação de vinhedos, seja realizado com material vegetativo de procedência reconhecida e de qualidade. Isso dá garantia aos produtores para um investimento seguro e permite, a médio e longo prazos, a modernização dos vinhedos a partir de mudas de qualidade.”
Assista ao vídeo “Como identificar visualmente uma muda de videira de qualidade”, com o agrônomo Daniel Grohs, pesquisador da Embrapa Uva e Vinho (RS):
Fonte: Embrapa Uva e Vinho com edição d’ALavoura