Com o avanço da colheita da segunda safra de milho no país, aumenta a pressão sobre os preços do grão. Nesse período, a queda costuma se acentuar. E, neste ano, ganhou ingredientes que podem reforçar a desvalorização. O primeiro é o volume produzido, que será recorde.
Projeções indicam produção brasileira de 94.3 milhões de toneladas (somadas à primeira e à segunda safra), 47% superior a do ano passado. O consumo interno é estimado em 56 milhões de toneladas. Com os estoques, o Brasil terá excedente de 47 milhões de toneladas. O problema é que as exportações estão em baixa. De janeiro a junho deste ano, foram 3.7 milhões de toneladas e queda de 70% na comparação com igual período do ano passado.
Sem exportar, não tem como melhorar o preço, disse Carlos Cogo, consultor em agronegócio. E por que estamos vendendo pouco se os preços hoje estão alinhados à paridade de exportação? Segundo Cogo, a concorrência no mercado internacional está muito forte. Além dos Estados Unidos, a Argentina tem registrado excelente desempenho: foram 13.5 milhões de toneladas de janeiro a junho.
Para completar, há o fator armazenagem. A falta de estruturas para guardar o grão obriga produtores a negociar ou então adotar medidas drásticas, como colocar o milho a céu aberto, situação que pode ser verificada em localidades do Brasil Central.
Se na ponta do lápis a conta indica que houve desvalorização de 38% no preço médio do milho no Rio Grande do Sul do ano passado para cá, na hora da análise é preciso considerar que o valor fora da curva é o de 2016, não o deste ano, disse Cogo.
A média parcial de 2017 é de R$ 26,70 a saca. Em 2015, foi de R$ 26,62. Para o consultor, o lado negativo do recuo de preço é a renda do produtor, e o positivo é o setor de carnes, que no ano passado amargou prejuízos com o alto custo do grão.
Na verdade, o preço do milho não caiu, apenas voltou à normalidade. O negócio tem de ser bom para as duas partes. No ano passado, estava bom só para o produtor, disse Nestor Freiberger, presidente da Associação Gaúcha de Avicultura (Asgav).
A supersafra colhida no campo alimenta as perspectivas de crescimento das exportações do grão via porto de Rio Grande neste ano. Até agora, no entanto, os embarques ainda não tiveram aumento de volume proporcional ao verificado nas lavouras.
Os números de junho ainda estão sendo fechados, mas de janeiro a maio, a quantidade de soja em grão exportada pelo estado foi 14,5% maior do que em igual período do ano passado, somando 4.8 milhões de toneladas. Em todo o ano de 2016, foram embarcadas 9.63 milhões de toneladas.
“Está um pouco diferente do que a gente imaginava. A expectativa é de que, neste período, a movimentação fosse um pouco maior”, disse Janir Branco, superintendente do porto de Rio Grande. Diretor do Termasa/Tergrasa, Guillermo Dawson confirma que os embarques poderiam ser melhores.
“No mês de junho, o terminal deve fechar com 900 mil toneladas embarcadas, embora tivesse safra de 1.5 milhão de toneladas. O mercado é um dos fatores apontados para o fato de as exportações não terem acelerado. Com o preço mais baixo em relação a igual período do ano passado, os produtores estão optando em segurar o grão, à espera de melhores oportunidades”.
Branco disse ainda que as vendas de soja deverão ficar mais espaçadas, distribuídas ao longo do ano: “Enxergo isso como algo positivo. Mantém a movimentação, os empregos”.
Fonte: Zero Hora