A digitalização deve ser a próxima tendência para viabilizar ganhos de eficiência e de escala no setor agropecuário, mas para que isso aconteça, sem incremento de riscos, algumas mudanças organizacionais serão de fundamental importância.
Foi com esse argumento que o engenheiro agrônomo e diretor de Clientes e Produtos Rurais do Itaú BBA, Antônio Carlos Barbosa Ortiz abriu a palestra sobre Mudanças Organizacionais com a Digitalização da Agricultura, realizada no último dia 23, no Centro de Conhecimento em Agronegócios (Pensa), da Universidade de São Paulo (USP), na capital paulista.
Segundo o executivo, tecnologias que reduzem a necessidade de ativos e minimizam os riscos aumentam a competitividade das empresas.
“Hoje, os produtores precisam pensar em suas atividades como uma empresa, para conseguirem se manter no mercado e obter lucro”, observou Ortiz, lembrando que os benefícios da agricultura digital ainda não são um consenso entre os produtores.
“Infelizmente, ainda não há como oferecermos um pacote assimilável, para facilitar a introdução dessas novas tecnologias.”
Para Claudio Antônio Pinheiro Machado Filho, professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade, da Universidade de São Paulo (FEA/USP), e coordenador do Pensa, essa é uma discussão que precisa acontecer com mais frequência.
Segundo ele, na agricultura atual e futura, principalmente, quem não buscar competitividade através da otimização e digitalização de sua atividade vai acabar ficando para trás.
“O modelo digital, além de elevar o giro dos ativos e minimizar os riscos, possibilita taxas de crescimento maiores”, diz Machado Filho.
De acordo com o diretor do Itaú BBA, a produção agrícola depende de competitividade de custos como estratégia central do negócio, o que envolve ganhos constantes de produtividade e de escala, além de vigilância para manter a eficiência de custo.
“Em outros setores da economia, observou-se que as reduções de custos e os ganhos de eficiência foram obtidos por meio da digitalização e na agricultura, não será diferente”, acredita Ortiz.
RISCOS
O executivo destacou que, pelo fato de a digitalização ser aplicada em atividades centrais da propriedade agrícola, o nível de risco para a operação se torna muito maior para o negócio.
“É preciso administrar esses riscos e isso depende de profissionais com perfil adequado e de contratos que busquem a evolução da produtividade dos fatores”, enfatiza. “Inovações disruptivas rompem por reduzir ativos e minimizar riscos. E elas virão.”
Para Ortiz, os produtores precisarão atrair, reter e desenvolver pessoal apropriado, a começar por aqueles que já trabalham na organização: “Também será preciso se ajustar à forma de avaliação, privilegiando o comportamento voltado à gestão do risco, ao desempenho no médio prazo e menos baseado em atingir metas de curto prazo”.
Conforme explica, as empresas rurais que conseguirem se adaptar a esse novo ambiente organizacional irão se beneficiar dessa tendência de digitalização do setor agrícola, o que vai refletir em uma combinação de aumento de rentabilidade e diminuição do risco operacional da atividade.
MEDIDAS PREVENTIVAS
Para que a implantação da digitalização da atividade agropecuária ocorra, de uma maneira que não coloque em risco o sistema de gestão das propriedades, o diretor do Itaú BBA destaca a necessidade de adoção de algumas medidas preventivas.
Ele ainda cita quatro frentes que devem sofrer ajustes, para que esse processo seja adotado com menor risco e maior abrangência: segurança cibernética, gestão de acordos de nível de serviços, arquitetura de integração de sistemas, conexões e de bancos de dados, e cultura e gestão dos colaboradores.
Outro cenário que Ortiz qualifica como fundamental está relacionado ao comportamento cultural dos produtores em geral que, além da sucessão familiar, tem ajudado a implementar novas tecnologias no campo, é uma mudança de conceito.
“Para se obter sucesso na aplicação e adoção a digitalização no setor agrícola é preciso também mudar a cultura para poder mudar o modelo estratégico, caso contrário, em pouco tempo, a cultura tende a comer a estratégia no almoço.”
O diretor do Itaú BBA acredita ainda que outras tendências também farão parte, cada vez mais, do dia a dia dos produtores rurais a partir dessa digitalização.
“Como em outros setores, poderemos observar, em um futuro próximo, o uso de equipamentos de terceiros, de uma plataforma compartilhada e de serviços coletivos, o que poderíamos chamar, respectivamente, de uma ‘uberização’, ‘waseficação’ e ‘netflixazação’ dos serviços relacionadas às atividades agrícolas.”
PRIORIDADES
Sócio-gestor da Stracta Consultoria, Uriel Rotta, que coordenou o encontro na USP, defende que uma das prioridades para implementar a modernização e a digitalização dos serviços na agricultura está relacionada à discussão sobre o tema com frequência maior, com mais visibilidade e para aproximar esses debates entre os produtores rurais.
“Os eventos, por exemplo, incentivam a realização de mais fóruns de debate, com o intuito de criar uma interface entre especialistas, acadêmicos, empresas e, principalmente, os produtores rurais, principais interessados na evolução de suas atividades”, avalia Rotta.
Por equipe SNA/SP