Com produção dobrada de leite, Balde Cheio completará 20 anos em 2017

Se a produção brasileira de leite, em média, é de menos de cem litros por dia, pelo Balde Cheio mais de 75% dos produtores leiteiros produzem acima de 200 litros, diariamente. Foto: AFP Photo/Jean-Pierre Muller/Divulgação

O ano era 1997. Um produtor de leite do município de Quatis, no Rio de Janeiro, diante de uma plateia com mais de cem pessoas que assistiam a uma palestra do pesquisador Artur Quinelato de Camargo, da Embrapa Pecuária Sudeste (SP), lançou um desafio meio sem querer.

Na ocasião, o saudoso Francisco Fonseca questionou a vinda do cientista e como ele poderia ajudá-lo a melhorar a produtividade de seu sítio. Sem ter como auxiliá-lo, na prática, o produtor indagou: “Então, para que você veio?”.

Mesmo diante da situação meio constrangedora criada naquele ambiente, o produtor continuou: “Era melhor que não tivesse vindo, pois eu estava sossegado na minha santa ignorância (falta de conhecimento), achando que pecuária leiteira era aquela porcaria mesmo”.

O produtor ainda emendou: “Agora você veio, falou uma porção de coisas, mostrando que produzir leite pode ser uma excelente fonte de renda na propriedade rural, me deixou com vontade de mudar o rumo das coisas no meu sítio e agora você vai embora me deixando sozinho e sem ninguém para me ajudar. Era melhor que não tivesse vindo!”.

Após se sentir desafiado, o pesquisador decidiu reunir todos os resultados de pesquisas disponíveis naquela época para, posteriormente, montar um curso destinado a técnicos multiplicadores. Nascia, então, o programa Balde Cheio que, no próximo dia 18 de setembro deste ano, completará duas décadas. Para que fosse colocado em prática, ainda levou um ano para a implantação do projeto, no Brasil.

De lá para cá os resultados são bem positivos: se a produção de leite brasileira, em média, é de menos de cem litros por dia, pelo Balde Cheio mais de 75% dos produtores leiteiros produzem acima de 200 litros, diariamente.

“É um ganho significativo na produtividade e na lucratividade das propriedades participantes”, comenta o pesquisador André Luiz Monteiro Novo, chefe de Transferência de Tecnologia da Embrapa Pecuária Sudeste, unidade da Embrapa que lidera o programa.

 

Pesquisador da Embrapa Pecuária Sudeste, Artur Chinelato de Camargo é responsável pela criação do programa de produção de leite Balde Cheio, no ano de 1997. Foto: Divulgação

ANÁLISE DA SNA

“A princípio, o programa foi criado por iniciativa teimosa e própria, mas gradativamente foi contando com mais e mais apoios”, lembra o pecuarista de leite Alberto Werneck de Figueiredo, diretor técnico da Sociedade Nacional de Agricultura, secretário de Agricultura do município de Resende (RJ) e representante da SNA na Câmara Setorial do Leite e Derivados, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).

Ele acredita que “chegará o dia em que programas nos moldes do Balde Cheio serão copiados, na própria Embrapa, para outros produtos”. “É absolutamente necessário que todas as pesquisas básicas e/ou aplicadas sejam transformadas em tecnologias que provoquem melhorias no nível de renda dos produtores envolvidos”, analisa Figueiredo.

Amplo conhecedor do programa da estatal, o diretor da SNA ressalta que “os técnicos envolvidos com o Balde Cheio vêm sendo treinados, desde então, para estarem presentes nos mais diversos rincões do país”. “Eles têm sido responsáveis pela mudança do estilo de vida de muitos produtores da cadeia leiteira.”

 

“É absolutamente necessário que todas as pesquisas básicas e/ou aplicadas sejam transformadas em tecnologias que provoquem melhorias no nível de renda dos produtores envolvidos”, comenta o diretor da Sociedade Nacional de Agricultura Alberto Werneck de Figueiredo, ao falar dos 20 anos do programa Balde Cheio. Foto: Arquivo SNA

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

Promover o desenvolvimento sustentável no campo, aliando a tecnologia às mudanças de atitude e de pensamento do produtor de leite, que passam a ter mais confiança na eficiência das soluções tecnológicas em campo, é um dos pontos fundamentais para o sucesso do Balde Cheio. É o que destaca a Unidade Pecuária Sudeste, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária.

Por meio desse programa, Embrapa, instituições de assistência técnica e extensão rural (Ater), entidades públicas e privadas e produtores “andam lado a lado promovendo ações de capacitação e transferência de tecnologia no campo”.

Na visão do diretor da SNA, considerando as reais vantagens experimentadas pelos produtores assistidos pelo Balde Cheio, “é de se estranhar que essa chama de desenvolvimento tecnológico não tenha invadido mais sítios e fazendas por esse ‘Brasilzão’ de Deus”.

“Nem a célebre teoria de São Tomé, a do ‘ver para crer’ tem sido capaz de multiplicar o número de interessados. No entanto, a persistência vencerá a desconfiança, e a pecuária leiteira brasileira agradecerá com índices crescentes de produtividade e lucros. Por isso, a Embrapa está de parabéns por essa iniciativa, que irá completar 20 anos.”

Para mais informações sobre o programa Balde Cheio, acesse https://www.embrapa.br/busca-de-projetos/-/projeto/38110/projeto-balde-cheio.

Acesse ainda: https://www.embrapa.br/busca-de-produtos-processos-e-servicos/-/produto-servico/1265/projeto-balde-cheio.

 

Por equipe SNA/RJ com informações da Embrapa

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