Preço de cafés especiais cai pela metade em dois anos

O recuo dos preços do café no mercado internacional desde o fim de 2011 afetou não apenas os produtores com foco na commodity, mas também aqueles que se dedicam aos grãos “gourmet”, de maior qualidade. O valor médio deste produto caiu pela metade se comparado com a cotação de dois anos atrás, observa Vanúsia Nogueira, diretora-executiva da Associação Brasileira de cafés Especiais (BSCA, na sigla em inglês).

O preço médio de uma saca de 60 quilos, que era de US$ 661,35 há dois anos, atualmente é vendido por cerca de US$ 330 a US$ 400 por saca, conforme Vanúsia. Algumas poucas fazendas ficam “descoladas” do preço da commodity. “O valor agregado não é descolado da commodity, são raríssimos casos no mundo”, afirma.

De forma geral, o café gourmet recebe prêmios sobre a cotação da bolsa de Nova York – onde se transaciona o café arábica -, que variam de 15% a 20% quando o preço da commodity está alto, e de 30% a 40% quando o valor cede em Nova York.

Situação de preços baixos de cafés especiais foi vivida também há cerca de dez anos, quando a cafeicultura mundial passou por crise diante de uma superprodução, que culminou em preços muito baixos para a commodity, afirma Vanúsia. O período coincidiu com o início de uma produção mais significativa no país de cafés “gourmet”. O setor cresceu em resposta à necessidade de agregar valor ao café e de ser sustentável.

O cenário atual de baixos preços preocupa e pode desestimular a produção dos grãos especiais, na avaliação de Vanúsia. “O agronegócio café arábica está sendo colocado em xeque. Nos patamares atuais, perde qualquer tipo de sustentabilidade econômica em todos os países”, diz. A consequência, são os cafeicultores procurando alternativas de diversificação para não ter o café como única fonte de renda. A diretora da BSCA observa que, no Sul de Minas, por exemplo, tradicional região produtora de cafés de qualidade, produtores estão investindo em oliveiras e vinhedos.

O Brasil, o maior produtor mundial de café, também é o maior em cafés especiais, com cerca de 15% a 20% de sua colheita total de grãos arábicas convertidos em “gourmet”. Na última safra 2012/13, que se encerrou oficialmente no mês passado e cuja colheita ocorreu em 2012, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) indicou que foram produzidas 50,83 milhões de sacas. Desse total, 38,34 milhões foram de café arábica. Assim, o país produziu no ciclo passado entre 5,7 milhões e 7,6 milhões de sacas de café gourmet.

O segundo maior produtor mundial de cafés especiais é a Colômbia, que desde a década de 1970 se dedica aos cafés especiais. Hoje, o país consegue fazer entre 40% e 50% de sua safra em produto gourmet. América Central, África e Índia também produzem cafés gourmet – os indianos, em menor escala.

Embora a produção de cafés especiais esteja ameaçada pelos preços baixos, o consumo do produto mais nobre continua aumentando no Brasil e em outros países, diz a representante da BSCA. Enquanto o consumo geral da bebida em mercados tradicionais – como a Europa – cresceu em média 1,1% ao ano nos últimos dez anos, segundo a Organização Internacional do café (OIC), a Associação Europeia de cafés Especiais estima, em mais recente pesquisa, que o consumo dos especiais subiu em torno de 10% no continente, e 15% no Japão, informou Vanúsia, que também faz parte do conselho da associação europeia.

Para se produzir grãos de muito boa qualidade, além de topografia, clima e variedades, é preciso um trabalho criterioso de pós-colheita, acrescenta Vanúsia. Tradicionalmente, diante da desigualdade de maturação dos grãos e outras condições do cafeeiro, além do clima, não se consegue tirar de uma safra inteira 100% de café gourmet. Os índices mais comuns variam até 50% da safra da fazenda.

No ano passado, as chuvas durante a colheita prejudicaram a produção de café de qualidade. Mas neste ano, a expectativa de Guilherme Braga, diretor-geral do Conselho dos Exportadores de café do Brasil (Cecafé), é que a exportação dos chamados cafés diferenciados – que incluem os grãos especiais, orgânicos e certificados – volte aos patamares de 2010 e 2011, em torno de 25% da exportação brasileira de café em grão verde. Em 2012, ficou em torno de 20%.

Fonte: Valor Econômico

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