O desmatamento em Mato Grosso caiu cinco vezes, entre 2001 e 2014, após a adoção da moratória da soja, em 2006, que veta a compra, pelas esmagadoras, de grãos cultivados em áreas desmatadas ilegalmente. A conclusão é de mapeamento realizado pela Universidade do Kansas, nos Estados Unidos, em parceria com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), na unidade Informática Agropecuária, de Campinas (SP).
Os dados, coletados entre 2001 e 2014, mostraram também que houve uma queda de 2,4 vezes no cultivo da cultura em áreas recém-desflorestadas. A ocupação média caiu de 9,4% para 3,9%, num período analisado de cinco anos antes e cinco depois da moratória. Os dados foram apresentados em artigo publicado no periódico Plos One, no fim de abril, informou, em nota, a Embrapa Informática Agropecuária, de Campinas (SP).
Participaram do levantamento os pesquisadores da Universidade de Kansas Jude H. Kastens, J. Christopher Brown e Christopher R. Bishop, em parceria com Alexandre Camargo Coutinho e Júlio César Dalla Mora Esquerdo, da Embrapa Informática Agropecuária. A pesquisa avaliou, ainda, a dinâmica da atividade produtiva na região de 2001 a 2014.
Conforme a Embrapa, os mapas gerados permitiram identificar onde ocorreu a intensificação da agricultura. “Está se produzindo mais, mesmo sem grandes ganhos de área plantada. Os trabalhos de coleta de dados de campo confirmam isso”, explicou o pesquisador Júlio Esquerdo. De acordo com o Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite (Prodes), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), entre 2001 e 2006, a taxa média anual de desflorestamento em Mato Grosso foi de 1.028 milhão de hectares ao ano. Com o estabelecimento da moratória, esse número passou para 180.694 hectares por ano.
Segundo o artigo, no período analisado de cinco anos antes da moratória, cerca de 14% das áreas desmatadas eram ocupadas por soja. Após a proibição, o percentual caiu para 5,6%.O estudo mapeou a agricultura anual no Estado, composta principalmente por soja, milho e algodão, com base em imagens de satélite e técnicas de sensoriamento remoto.
Além dos dados de campo coletados em cerca de 3.000 pontos, dados de soja e algodão foram comparados com os divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Com o amplo mapeamento em Mato Grosso, a equipe identificou que, especialmente após a moratória da soja, houve uma forte intensificação agrícola na região, ou seja, os produtores passaram a produzir mais graças à adoção de tecnologia.
A produção de algodão, milho e soja, que era de 12.8 milhões de toneladas em 2001, passou para 46.9 milhões de toneladas em 2014, de acordo com o IBGE.O incremento na produção não ampliou as áreas plantadas na mesma proporção. O que houve foi uma alteração na dinâmica agrícola, com mais plantios sendo feitos em sistema de safra-safrinha, ou seja, com duas culturas produzidas no mesmo ano-safra.
O algodão foi uma das culturas com maior expansão de área plantada durante a safrinha após a soja, passando de 110 quilômetros quadrados em 2001 para 5.383 km² em 2014, enquanto o plantio de algodão durante a safra principal reduziu-se de 3.013 km² para 466 km² no mesmo período. A moratória da soja foi criada em 2006 entre representantes da indústria, sociedade civil e o governo brasileiro, proibindo o comércio, a aquisição e o financiamento de grãos produzidos em áreas desmatadas de maneira ilegal no bioma Amazônia.
Fonte: Estadão/Globo Rural