Há duas semanas, o mercado de câmbio brasileiro passou por uma reviravolta em decorrência da delação premiada dos irmãos Joesley e Wesley Batista, donos do conglomerado ao qual a JBS pertence.
Na quinta-feira, 18 de maio, dia seguinte à notícia de que gravações comprometeriam o presidente Michel Temer, o real recuou fortemente em relação ao dólar, que subiu 8%, para perto de R$ 3,40. A nova relação cambial, que não se manteve por muitos dias, levou os produtores a venderem a soja da safra 2016/17 que estava estocada.
Apenas no dia 18, segundo o Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea), foram negociados 250.700 contratos de soja no mercado spot. O volume foi o segundo maior já registrado num único dia para esse tipo de contrato, segundo o Imea.
De acordo com tradings ouvidas pelo Valor, o movimento de comercialização nesse dia foi o maior já visto em pelo menos quatro anos. Gilmar Meneghetti, da Meneghetti Corretora de Cereais, de Campo Verde (MT), afirma que no dia 18 foram negociadas no sul de Mato Grosso, desconsiderando Rondonópolis, cerca de 40 mil toneladas de soja, contra a média diária entre oito e dez mil toneladas que vinha sendo negociada.
O dólar não manteve a valorização de 8%, mas ainda acumula alta em torno de 4% em relação à cotação pré-crise, oscilando entre R$ 3,25 e R$ 3,30. Assim, a desvalorização do real ainda é um estímulo às vendas que estavam em ritmo bastante lento.
Mesmo com a movimentação atípica e altos volumes negociados, ainda haverá concentração maior de vendas e entregas de grãos no terceiro trimestre do ano em relação ao que ocorreu no mesmo período de 2016, segundo agentes do mercado. As entregas de grãos para o mercado externo dos volumes negociados tendem a ficar concentradas no segundo semestre.
Fonte: Valor Econômico