China impõe tarifas de importação sobre açúcar e especialistas questionam impacto da medida

A China anunciou na segunda-feira (22) que irá impor pesadas taxas sobre as importações de açúcar, após um movimento de usinas domésticas em prol da medida. No entanto, especialistas dizem que a regra pode não ser o suficiente para conter o fluxo do produto barato para o maior importador do mundo.

A medida, que deverá afetar cerca de um terço das importações anuais de açúcar da China, introduz uma tarifa extra para os próximos três anos sobre embarques. O governo disse que as taxas “impactam seriamente” a indústria doméstica.

O movimento pode prejudicar importações procedentes dos maiores produtores como Brasil e Tailândia, uma vez que reduzirá a diferença entre os preços chineses e os internacionais. O açúcar na China custa quase o dobro dos preços no mercado de Londres.

Mas operadores dizem que as tarifas maiores devem também impulsionar mais contrabandos nas fronteiras ao sul da China, enquanto algumas importações junto aos grandes produtores podem ser embarcadas por meio de países terceiros, excluídos das tarifas.

O açúcar é um dos poucos setores em que a China luta para competir, dado os custos maiores de sua produção por meio de pequenas propriedades. O país produz cerca de 10.5 milhões de açúcar de cana e beterraba ao ano, mas importa outros três milhões. Pequim ainda combate cerca de dois milhões de toneladas ao ano em contrabandos, disseram fontes.

“É claro que isso vai apoiar a indústria doméstica por algum tempo”, disse um operador na China. “(Mas) o mercado global de açúcar bruto só precisa cair um pouco abaixo de US$ 0,15” para tornar lucrativo importar para a China.
Os preços globais do açúcar bruto eram negociados um pouco cima de US$ 0,16 a libra-peso na segunda-feira.

Regras

A China atualmente permite 1.94 milhão de toneladas em importações de açúcar com uma tarifa de 15%, como parte de um acordo com a Organização Mundial do Comércio (OMC). Importações, além disso, têm uma tarifa de 50%. E as regras de segunda-feira impõem uma tarifa adicional de 45% para essas importações no atual ano fiscal, segundo nota do Ministério do Comércio da China. A tarifa total, assim, vai para 95% – uma alíquota que cairá para 90% ano que vem e 85% no ano seguinte.

As medidas também devem elevar a pressão para que Pequim venda mais de suas reservas estatais a fim de evitar que a oferta fique limitada e eleve os preços. Os contratos futuros do açúcar inicialmente caíram mais de 1% com as notícias, mas depois reduziram perdas, com operadores interpretando o movimento, que ficou em linha com uma proposta inicial apresentada em abril, como muito brando para conter os embarques.

A Tailândia, terceira maior produtora global, minimizou o impacto. As usinas do país têm custos de embarque para a China muito menores que seus rivais Brasil e Austrália, disse o presidente do conselho da Corporação de Usinas de Açúcar da Tailândia, Viboon Panitwong, que não espera que a tarifa afete de forma significativa as exportações do país.

Unica: tarifa afetará o Brasil

A tarifa adicional chinesa para importação de açúcar reduzirá as compras do produto pela China e por consequência afetará o Brasil, o maior exportador global do produto, disse na segunda-feira o diretor-executivo da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), Eduardo Leão, em teleconferência para comentar o assunto. Segundo ele, a tarifa deverá reduzir em 28% as importações totais pela China, enquanto as exportações anuais brasileiras para o país asiático deverão cair em 800 mil toneladas.
Fonte: Reuters

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