Apesar do esforço para produzir trigo de ótima qualidade, os agricultores gaúchos se queixam de que recebem menos do que é pago ao Paraná pelo cereal de inverno. Segundo a consultoria Trigo & Farinhas, a questão se deve a uma falta de alinhamento da cadeia envolvendo produtores, cooperativas recebedoras do trigo, moinhos e indústrias processadoras.
“É preciso lembrar também que existem quatro tipos básicos de farinhas. Nem todo trigo é igual, porque não produz o mesmo tipo de farinha e o PH tem pouco a ver com o tipo de farinha. Há outras exigências mais importantes, que seriam a força de glúten, a estabilidade, a cor, a relação P/L, por exemplo. De acordo com o tipo de farinha que é possível fazer com o trigo produzido, o moinho pode pagar um preço maior ou menor. A variação entre os diferentes preços de farinha chega a 41,66% (entre a comum e a de panificação) e 87,5% (entre a comum e a de massa fresca)”, disse o analista sênior da T&F, Luiz Carlos Pacheco.
Ele indica que, quando se planta trigo, é preciso estar engajado numa cadeia, isto é, combinar com um moinho o tipo de farinha que ele necessita e então plantar de acordo com essa necessidade. “Não adianta plantar qualquer coisa. É preciso plantar o que tem demanda. E a semente não deve ser definida pelo PH somente, nem mesmo pela sua produtividade, mas pelas qualidades da farinha que vai gerar”, disse.
Pacheco, que nesta semana visita e conversa com agricultores e executivos de cooperativas e cerealistas no Rio Grande do Sul, conta que os critérios adotados naquele estado para a escolha da semente não são os recomendáveis. “Cada agricultor escolhe a sua semente livremente, sem imposição nenhuma de quem vai recebê-las, e não raro acontecem duas coisas: a) escolhe a mais barata (já que pensa que o trigo não dá lucro mesmo); b) ou usa semente própria”.
“Qual a consequência de deixar cerca de mil agricultores de uma cooperativa ou cerealista escolherem ao seu bel prazer o tipo de semente que irão plantar? Uma grande confusão na hora de receber o trigo! Haverá sementes de altíssima qualidade, misturadas com sementes próprias, de baixa qualidade no mesmo armazém (porque não haverá nunca silos suficientes para armazenar todas as diferentes qualidades)” disse o analista.
Ele conclui que, como a mistura de sementes não resulta em melhora, mas sim em piora da qualidade do lote, o preço a ser pago por este trigo será consideravelmente menor do que o pago por sementes selecionadas e segregadas. Pacheco acrescenta ainda que não basta apenas segregar, mas limitar a liberdade para a escolha da semente a ser plantada. Além disso, o especialista aponta que as empresas não utilizam os instrumentos de comercialização existentes no mercado e associações de produtores não buscam mercados novos, mas somente a ajuda errada do governo.
Fonte: Agrolink