Frigoríficos alegam dificuldade na venda de carne para dar férias coletivas

As notícias de que os principais frigoríficos do país estão dando férias coletivas, tem derrubado os preços da arroba bovina e desagradado muitos pecuaristas. Como justificativa, as empresas alegam dificuldade na vendas de carnes após as repercussões negativas da operação Carne Fraca, da Polícia Federal.

Durante encontro de confinadores e recriadores da Scot Consultoria, em Ribeirão Preto (SP), representantes das três indústrias, JBS, Marfrig e Minerva, deram a mesma justificativa: os negócios com a carne estão parados. “O varejo se aproveitou do momento para sair do mercado. E como agravante temos o retorno do ICMS em São Paulo, colaborando para que as redes não tenham intenção de compra neste momento”, disse Fabiano Tito Rosa, gerente de compra de gado da Minerva Foods.

A Minerva concedeu férias coletivas de 20 dias na planta de Várzea Grande (MT). Em nota oficial, a empresa informou que a parada é para manutenção. Já a Marfrig deu dez dias de férias coletivas para o segundo turno do setor de abates da unidade de Tangará da Serra (MT), sem detalhar os motivos para a decisão.

Na semana passada, a JBS já havia informado a concessão de férias coletivas de 20 dias, prorrogáveis por mais dez, em dez de suas 36 plantas de processamento de bovinos no Brasil, a fim de ajustar estoques após a redução na demanda provocada pela divulgação da operação Carne Fraca. Segundo seus representantes, a intenção neste momento é consumir os estoques para evitar o “derretimento dos preços da carne”. “O boi é menos perecível que a carne, por isso, o mais prudente a se fazer é reduzir as compras até que as coisas fiquem mais claras”, disse Fábio Dias, diretor de relacionamento com o pecuarista da divisão de Carnes da JBS.

Fabiano Tito Rosa, da Minerva Foods, disse à plateia de pecuaristas presentes ao evento da Scot Consultoria que, apesar do fim na suspensões para importação, os países não estão adquirindo grandes volumes de compra, e muitos deles continuam fazendo uma série de exigências para retornar às compras. “Temos o Irã, por exemplo, que liberou a importação, mas precisamos seguir uma série de normas, e algumas delas chegam a ser inviáveis. Então, o que temos hoje no mercado do boi gordo é o mesmo que ocorre na carne: preços em queda e poucos negócios. Essa atitude de férias coletivas é uma gestão de risco”, disse Rosa.

“A gente vive num cenário em que o impacto da crise chegou ao setor produtivo e ao consumidor. Estamos ajustando produção frente à necessidade real, um ajuste normal de mercado”, disse Mauricio Manduca, gerente da mesa de negócios da Marfrig Global Foods. Por outro lado, o analista Alex Santos Lopes, da Scot Consultoria, lembrou aos representantes dos frigoríficos que as margens operacionais estão acima da média histórica neste ano – cerca de 27,9% no equivalente desossa medido pela consultoria.

Alcides Torres, presidente da Scot, destacou a importância do trabalho da Polícia Federal em denunciar as irregularidades, mas lamentou que os pecuaristas tenham sido os mais afetados nesse cenário. Enquanto o impasse não se resolve, os produtores temem por uma forte depreciação nos preços da arroba, que já vinham em queda mesmo antes da operação Carne Fraca.

Além da impossibilidade de efetuar negócios neste momento – já que algumas regiões possuem apenas uma unidade de abate, se há paralisação, esses produtores ficam sem alternativa de venda, mesmo que a intenção seja entregar apenas o necessário para a cobertura dos custos.

A expectativa era de que os dias parados pudessem encurtar as escalas de abate, forçando as indústrias a voltarem ao mercado, mas isso não ocorreu. Pelo contrário, o movimento de férias coletivas cresceu. A preocupação é que o período das águas vai chegando ao fim e, caso o cenário se estenda, poderemos ver uma concentração de animais represados – e mais pesados pelo tempo extra no campo -, a serem entregues em maio/junho, provocando queda ainda maior nos preços do boi gordo.

 

Fonte: Notícias Agrícolas

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