O Conselho de Economia da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA), durante reunião realizada na quinta-feira (23), na sede da instituição, comemorou os cem anos de nascimento do economista, diplomata e político brasileiro Roberto de Oliveira Campos, que faleceu em outubro de 2001. Na ocasião, o filho do economista, Roberto Campos Júnior, recebeu do presidente do Conselho, Rubem Novaes, e do embaixador José Botafogo Gonçalves uma placa alusiva ao centenário.
Ao agradecer a homenagem, Campos Júnior relembrou algumas declarações de seu pai, e afirmou que ele foi “um homem que amou intensamente seu país”.
COMEMORAÇÃO
O Conselho de Economia da SNA deu início a uma série de eventos comemorativos pelo centenário de Roberto Campos. Estão previstos para abril (mês de nascimento do economista), debates, seminários e lançamentos de livros. Além disso, alguns economistas que estiveram presentes à reunião do Conselho foram convidados a escrever artigos sobre o homenageado, relatando suas vivências e ensinamentos.
Um dos colaboradores é Roberto Castello Branco, que participa da obra “O Homem que Pensou o Brasil: trajetória intelectual de Roberto Campos”. Organizado pelo diplomata Paulo Roberto de Almeida (que também colabora com artigos), o livro será lançado no Rio, em 17 de abril – data de nascimento de Campos.
VIRTUDES E REALIZAÇÕES
Para Castello Branco, Roberto Campos, ao lado de Eugênio Gudin, foram alguns dos melhores economistas do século 20. “Posso destacar duas virtudes de Roberto Campos que servem de exemplo para as gerações de economistas que o sucederam: humildade e coragem para defender suas ideias”, ressaltou o economista.
“Campos abraçou a ideia do planejamento econômico, influenciado pelo ambiente intelectual do pós-guerra. Na década de 50, lutou a favor do programa de estabilização econômica e combate à inflação, baseado nas políticas monetária e fiscal. Recebeu críticas e foi vencido por diversas vezes. No entanto, suas derrotas se revelaram vitórias, porque a história reconheceu rapidamente que ele tinha razão”.
Segundo Castello Branco, “Campos era mal entendido até por pessoas que compartilhavam de suas ideias, mas foi um homem que deu uma grande contribuição ao Brasil”, salientou, mencionando muitas de suas colaborações, tanto para a criação de instituições como o Banco Central e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDE), quanto para a implementação de ajustes financeiros – como no caso da correção monetária, e de benefícios como o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS).
Campos também ajudou a instituir algumas reformas, entre elas, a do mercado de capitais e a do código tributário nacional. Já no setor agrícola, orientou a elaboração do Estatuto da Terra.
Em consonância com as ideias do autor de “Economia, Planejamento e Nacionalismo”, Castello Branco acredita que “a melhor forma de promover a prosperidade dos povos é pela economia de mercado”.
POLÍTICA CAMBIAL
No rastro das comemorações pelos cem anos de Campos, o economista Roberto Fendt colabora com um artigo para um livro em que está sendo produzido por Paulo Rabello de Castro, presidente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), e pelo jurista Ives Gandra Martins.
Fendt chamou a atenção para as tentativas de Roberto Campos – ao longo de três governos, e a partir da década de 50, no intuito de “civilizar o governo pela política cambial nacional”. Seu esforço só teria resultado a partir do final da década de 90, ocasião em que a política cambial começou a ser modificada, com taxas flutuantes e sem intervenções do Banco Central. “Campos ficaria feliz em saber que suas ideias frutificaram, produzindo resultados extremamente importantes para nós”, disse Fendt.
AVANÇOS
Ao fazer menção ao homenageado, o empresário Ruy Barreto declarou que Roberto Campos “foi uma das pessoas mais notáveis” que conheceu, e destacou dois episódios envolvendo o diplomata, em governos distintos, que resultaram em avanços para a economia brasileira.
Na gestão de Juscelino Kubitschek, quando Campos atuava como um dos coordenadores do Plano de Metas, Barreto participou como representante da Associação Comercial do Rio de Janeiro (ACRio) no processo de desburocratização das exportações, conduzido pelo economista. A introdução da Guia de Embarque (utilizada até hoje) substituiu a numerosa documentação exigida anteriormente para a liberação de mercadorias.
Já no governo Castello Branco, época em que Campos foi ministro do Planejamento, Barreto também participou do processo conduzido pelo economista para reduzir o preço do café e aumentar o consumo interno. “O consumo interno hoje é maior que a exportação”, disse o empresário.
FRASES MEMORÁVEIS
Durante a reunião do Conselho de Economia, o presidente Rubens Novaes citou uma série de frases de autoria de Roberto Campos, que foram publicadas no livro “O Homem Mais Lúcido do Brasil”, do jornalista Aristóteles Drummond, amigo e admirador do economista.
Algumas ‘pérolas’ ganharam a atenção dos presentes, entre elas: “Subdesenvolvimento é basicamente uma questão de burrice, artigo infelizmente em superprodução nesta praça”; “os governos latino-americanos desejam capitalismo sem lucros, socialismo sem disciplina e investimentos estrangeiros sem investidores estrangeiros”; “Haverá saída para o Brasil? Respondo que há três: o Galeão, Cumbica e o liberalismo”, e “a burrice no Brasil tem um passado glorioso e um futuro promissor”.
Também compareceram à reunião do Conselho de Economia o presidente da SNA, Antonio Alvarenga; o vice-presidente da instituição Helio Sirimarco; os diretores Antonio Freitas, Francisco Villela, Márcio Sette Fortes, Rony Oliveira, Tito Ryff e Tulio Arvelo Duran; Lindolpho de Carvalho Dias, membro do Conselho da Fundação Getúlio Vargas (FGV), e os economistas Armin Lore, Antonio Meirelles, Bob Jr., Carlos Von Doellinger, Helio Portocarrero, Ignez Vidigal Lopes, Ney Brito, Ralph Zerkowski, Sérgio Gabizo e Sérgio Quintella.
Foto da capa: Roberto Campos, por Oscar Cabral
Por equipe SNA/RJ