Após uma semana turbulenta, quando um número expressivo de países proibiu a entrada de carnes do Brasil, os frigoríficos exportadores do País já podem dizer que a poeira abaixou, embora cautela ainda seja a palavra de ordem, sobretudo em relação à União Europeia. Ontem, o veto imposto por Hong Kong, o último embargo relevante em vigor devido à Operação Carne Fraca, deflagrada pela Polícia Federal no dia 17 de março, foi derrubado.
Ao se juntar à China, Egito e Chile, que haviam proibido as compras de carnes do Brasil no início da semana passada, mas reabriram as portas no sábado, Hong Kong garante que o fluxo de embarques de carne volte à normalidade, disse Francisco Turra, presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA). “A liberação das exportações para Hong Kong traz alívio para o setor”. O cenário também já fez a JBS avaliar a retomada de nível normal de abates de bovinos, cortado em 35%.
Na última semana, a sucessão de embargos chegou a comprometer mais de 55% das vendas dos frigoríficos de carne bovina, considerando a fatia dos países que restringiram o produto brasileiro nas exportações do ano passado. Nessa comparação, a perda potencial foi de quase 40% do mercado para a carne suína e mais de 20% para a carne de frango.
“Apesar de ainda perdurarem suspensões em determinados mercados, nesta semana devemos ter um fluxo de exportação mais próximo do que já obtivemos neste ano”, disse Turra, em comunicado. Na sexta-feira, 24 de março, a ABPA calculou que os exportadores deixaram de ganhar cerca de US$ 40 milhões semana passada, considerando os mercados que vetaram as carnes de frango e suína brasileira.
De toda forma, o reflexo dos embargos às carnes não apareceu com todas as cores nas estatísticas preliminares da Secretaria de Comércio Exterior (Secex/Mdic) para a semana passada. Os dados indicam até aumento da receita das exportações de carnes de frango e suína. No caso da carne bovina, em contrapartida, os números apontam forte queda.
Segundo a Secex, as exportações de carne de frango in natura renderam US$ 132.1 milhões na quarta semana de março entre os dias 20 e 24. Em volume, foram embarcadas 78.200 toneladas. Na comparação com a semana imediatamente anterior, houve um aumento de 7,7% em receita e de 2,8% em volume. Além disso, a média diária das exportações da quarta semana também é maior que a observada em todo o mês de março de 2016, US$ 26.4 milhões contra US$ 23.2 milhões.
No caso da carne suína, as exportações da quarta semana renderam US$ 26.3 milhões, ou 10.000 toneladas. Em relação a semana anterior, o dado indica uma alta de 2,7% em receita, mas redução de 3,8% em volume. Na média diária, a receita da quarta semana deste mês foi maior que a de março do ano passado. Na semana passada, a média diária foi de US$ 5.3 milhões, ou 2.000 toneladas, ao passo que em março de 2017 foram US$ 4.5 milhões, ou 2.600 toneladas.
Segundo fontes que conhecem a dinâmica das exportações no País, há uma defasagem nos dados da Secex entre o embarque efetivo do navio e a chegada dos documentos no sistema da Secex. Diante disso, é até possível que a “paralisia” dos embarques na semana passada, alardeada tanto pelo governo federal quanto pelos exportadores, só apareça nas estatísticas nas próximas semanas.
Ricardo Santin, vice-presidente de mercados da ABPA, disse, também, que alguns frigoríficos mantiveram os embarques à China, visto que os produtos só não seriam desembaraçados nos portos enquanto o embargo continuasse. Mas havia confiança de que as barreiras seriam retiradas, e que as empresa teriam custos logísticos, mas não perderiam as vendas. Isso vale, sobretudo, para as carnes de frango e de suínos, cujos abates de animais são mais difíceis de brecar que o de bovinos.
Além disso, Wagner Parente, diretor-superintendente da consultoria Barral M Jorge, disse que os dados podem não revelar o tamanho da interrupção do fluxo porque alguns embargos foram anunciados quando os navios já haviam partido.
Ainda assim, os dados da carne bovina já mostram um tombo. Na quarta semana de março, os embarques do produto in natura renderam US$ 56.2 milhões, queda de 43% em relação a semana anterior. Na comparação, o volume caiu 42,3%, segundo a Secex. Em relação à média diária de março de 2016, a receita da última semana recuou 40% e o volume, 44%.
Fonte: Valor