Cotações do arroz perdem a referência no Sul do Brasil

Depois de registrar queda de 5,14% para R$ 47,08 em fevereiro (equivalente a US$ 15,14), o indicador de preços do arroz em casca (50 kg – 58×10) no Rio Grande do Sul Esalq-Senar/RS, despencou de vez na primeira quinzena de março, chegando a R$ 41,69 (US$ 13,39) e acumulando uma baixa de 11,45%.

O piso previsto de R$ 40 para este primeiro semestre, portanto, está praticamente alcançado, com algumas relações forçando o rompimento negativo da barreira rumo ao piso de 2016, de R$ 39. O que vai determinar se isso acontecerá é a capacidade de resistência dos agricultores.

A queda de preços segue um movimento mais forte dos compradores no sentido de adquirir de forma mais barata seus estoques. Se anteriormente se acreditava que a indústria não teria forças para pressionar por uma baixa por falta de produto armazenado e uma demanda maior e mais urgente, agora os analistas já concordam que exatamente a falta de produto leva os compradores a jogar pesado, no sentido de fixar valores próximos aos R$ 40.

A indústria está falando a mesma língua, forçando R$ 40 como referência para pagamento da IRGA 424 e IRGA 424 RI (58% acima), e aceitando pagar até R$ 45 esta semana por variedades nobres, acima de 64% de inteiros, em algumas praças.

As grandes empresas não estão diferenciando as cotações de arroz velho e arroz novo, embora raros produtores ainda tenham produto da safra anterior. Guri e Puitá, da safra nova, foram negociados esta semana na fronteira e na zona sul por R$ 43 e R$ 44, acima de 60% de inteiros, em lotes pequenos, e por agricultores distintos.

Em reunião setorial na Depressão Central, na semana passada, um agricultor reportou a venda de 60 toneladas de IRGA 424 por R$ 41, informando a variedade. Noutro lote, também de IRGA 424, mas não informado, a mesma empresa pagou R$ 43 por saca.

A expectativa é de que o avanço da colheita aumente a pressão baixista, embora o setor produtivo considere que não há fundamentos de mercado para uma queda tão acentuada, uma vez que os estoques estão baixos e a safra que está sendo colhida é considerada de proporções normais.

Dentro do segmento industrial, no entanto, há claramente uma lógica estabelecida e uma expectativa de safra maior do que a que vem sendo divulgada, em torno de 8.5 milhões de toneladas. Os beneficiadores trabalham com números próximos a nove milhões, baseados em seus sistemas de financiamento direto, relação e parcerias com agricultores e até mesmo produção própria.

A definição dos preços ao longo deste primeiro semestre dependerá de alguns fatores de alta complexidade. Em primeiro lugar, da capacidade de diluição da oferta por parte dos rizicultores entre março e junho, e em segundo lugar pela viabilidade da retomada de exportações – em cima do piso de preços brasileiro – diante da alta competitividade dos países do Mercosul, dos Estados Unidos e da Ásia, num mercado internacional de cotações bem desvalorizadas.

As vendas externas podem enxugar o mercado e ajudar a recuperar os preços internos. O comportamento do câmbio e a necessidade de compra das pequenas e médias indústrias também serão fundamentais neste processo. O acesso ao crédito de comercialização também é importante.

Estados

Em Santa Catarina a situação é ainda mais tensa em relação às cotações, que variam entre o piso de R$ 40 e um teto não superior a R$ 42, dependendo do padrão do arroz e da relação entre produtor e indústria. Com produção estimada em 1.05 milhão de toneladas, a indústria catarinense vai adquirir cerca de 600 mil toneladas de arroz no Rio Grande do Sul e no Paraguai, principalmente.

No Mato Grosso, com a aproximação da fase de colheita, as cotações também caíram quase 6%, para R$ 50 a saca de AN Cambará, com 55% de inteiros, em Sinop ou Sorriso, no Nortão. Apesar de uma safra muito ajustada ao consumo interno, os produtores não acreditam em maior rentabilidade nesta temporada. A indústria do Mato Grosso atenderá apenas o seu mercado estadual e alguns polos de consumo do Pará.

Colheita

Apesar de a colheita do arroz ter começado cedo no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina, dando o “start” para a pressão “psicológica” sobre as cotações, a movimentação das máquinas no campo arrefeceu nas duas últimas semanas. Estima-se que a colheita se aproxime de 20%, mas com forte intermitência.

Dois são os fatores principais: as chuvas, que chegaram a provocar perdas significativas em algumas lavouras por acamamento, granizo e alagamento de alguns quadros – inclusive na soja em várzea – e o reflexo da germinação desuniforme e atrasada por causa do frio noturno, excesso ou falta de umidade em algumas regiões, especialmente na Fronteira-Oeste.

Estas lavouras, apesar de terem sido plantadas com mais antecedência, tiveram o ciclo alongado e maior dificuldade de controle de invasoras e de reação produtiva. No entanto, estão chegando, a partir desta semana, ao ponto de colheita.

A previsão é de que a última quinzena de março tenha um volume de chuva pouco superior à média, e riscos de temporais em áreas isoladas, o que pode comprometer ainda algumas operações. No entanto, a partir da próxima semana, a expectativa é de uma aceleração do trabalho das colheitadeiras, da movimentação do transporte e, portanto, da oferta.

A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) confirmou na última sexta-feira a expectativa de uma safra de 11.97 milhões de toneladas, frente a um consumo interno de 11.5 milhões de toneladas. Prevê 8.45 milhões de toneladas de arroz produzidos no Rio Grande do Sul e 1.06 milhão de toneladas em Santa Catarina.

Balança Comercial

A Balança Comercial brasileira do arroz encerrou a temporada 2016/17 (março de 2016 a fevereiro de 2017) com déficit líquido de 292.700 toneladas. O Brasil exportou 894.700 toneladas de arroz em base casca e importou 1.187.400 toneladas. Nos últimos seis anos, porém, o país registra um superávit líquido na balança comercial do arroz de 2.84 milhões de toneladas, responsável pelo enxugamento do mercado interno e o fim dos estoques públicos, agora estabilizados em 22 mil toneladas.

A queda nos embarques foi de 34,3% em relação à temporada passada. Enquanto isso, as importações mais do que dobraram, alcançando alta de 135,9%. Na soma das duas temporadas, o Brasil exportou 2.256.800 toneladas e importou 1.684.700 toneladas, com saldo positivo de 572.100 toneladas, o equivalente a 25,4%.

Para a atual temporada, a Conab trabalha com a expectativa de equilíbrio, com exportação e importação em iguais 1.1 milhão de toneladas. Agentes de mercado, no entanto, projetam números mais similares ao último ano comercial, ou seja, perto de 1.2 milhão de toneladas importadas contra 850 mil a 900 mil exportadas.

Mercado

A Corretora Mercado, de Porto Alegre, indica preço médio de R$ 42 para o arroz em saca de 50 quilos (58 x 10) e R$ 90 para o beneficiado, branco, Tipo 1 (60kg) no Rio Grande do Sul. O canjicão é cotado a R$ 48 e a quirera a R$ 45 – ambos em sacas de 60 kg. Já o farelo de arroz desvalorizou e está em R$ 530 a tonelada FOB.

 

Fonte: Planeta Arroz

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