A semana para o mercado doméstico da soja começa, novamente, com a falta de interesse de vendas por parte dos produtores brasileiros. Nem mesmo as dívidas de alguns para o final de março e início de abril têm motivado os sojicultores a voltar ao mercado para realizar novos negócios, dados os baixos preços e, principalmente, o limite de recuperação das cotações imposto pelo câmbio.
“O quadro geral seguirá de poucos negócios porque os valores atuais ainda estão distantes dos níveis programados pelos produtores ou até mesmo dos preços do ano passado e que estão sendo exercidos agora. Desta forma seguiremos com comercialização lenta”, disse o consultor Vlamir Brandalizze.
Influência do câmbio
Para Camilo Motter, analista da Granoeste Corretora de Cereais, o dólar pode estar ganhando um novo patamar, “ainda que, apenas, para compensar as perdas em Chicago”. Hoje, por volta das 13h40, a moeda americana estava em alta de 0,33%, e foi negociada a R$ 3,1539 para venda. Na última sexta, a divisa fechou em baixa de 1,6%, após subir nas duas sessões anteriores mais de 2% para se aproximar dos R$ 3,20 novamente.
Apesar dessa barreira que o dólar ainda impõe aos preços no Brasil, para o analista da Granoeste os ganhos que podem ser registrados pelos produtores brasileiros devem vir mais do próprio dólar, e apenas eventualmente da Bolsa de Chicago. “Além das variáveis econômicas, voltamos a discutir muito as questões políticas, além das criminais, sobretudo no Brasil, mas também nos EUA de Trump. Vejo a possibilidade de um dólar muito volátil pela frente, mas em alta no geral”, disse Motter.
Boa parte dessas atenções todas e dessa estimativa de alta estão baseadas nas perspectivas, cada vez mais consistentes, de um aumento na taxa de juros dos Estados Unidos pelo Federal Reserve. E esse já parece ser um consenso entre analistas, consultores e economistas mundo a fora.
O banco central norte-americano, afinal, teria de acelerar essa alta para acomodar as políticas do presidente Donald Trump e equilibrar a economia norte-americana. “Dada a atual situação da economia dos EUA, que está perto do pleno emprego, uma forte expansão fiscal traz o risco de ter um impacto pró-cíclico”, disse Visco Ignacio, membro do Conselho do BCE e presidente do banco central italiano em um discurso no Ministério das Relações Exteriores da Itália.
Essa recente valorização do dólar, apesar de ainda ser insuficiente, tem servido como um colchão para as quedas registradas em Chicago, diante das novas e maiores estimativas de oferta que pesam severamente sobre o mercado futuro norte-americano.
“Os preços da soja e derivados estão em queda nos Estados Unidos e no Brasil, pressionados pelas expectativas de safra mundial recorde e por maiores estoques. Segundo pesquisadores do Cepea, no entanto, a queda dos preços brasileiros tem sido limitada pela valorização do dólar que, além de aumentar a receita de vendedores, torna o produto nacional mais competitivo no mercado internacional”, informou hoje o Cepea.
Enquanto isso, a queda de braço entre compradores e vendedores continua. “Diante de expectativas de safra abundante, compradores brasileiros consultados pelo Cepea estão cautelosos na aquisição de grandes lotes, negociando apenas o volume necessário para suprir a demanda de curto prazo. Produtores atentos ao movimento de queda acreditam em reversão da tendência, fundamentados no possível aquecimento da demanda e na valorização do dólar”, completa o Cepea.
Mato Grosso
Na região de Sorriso, em Mato Grosso, os negócios seguem parados, segundo o produtor rural Laércio Pedro Lenz. “O pessoal ainda está segurando muito, com a média variando entre R$ 51 e R$ 52 a saca”, disse, lembrando que nas vendas feitas no ano passado no mercado futuro, os preços oscilaram de R$ 65 a R$ 75, com médias variando entre R$ 68 e R$ 69.
Assim, o que os sojicultores estão fazendo neste momento é somente cumprir os contratos das vendas feitas antecipadamente e buscando garantir junto aos bancos alguns volumes de recursos para pagar os custeios. Para voltar às vendas, alguns produtores esperam que as cotações retornem, pelo menos, a algo entre R$ 60 e R$ 62.
Sorriso fechou a safra 2016/17 com uma produtividade média de 59 sacas por hectare, e consolidando uma boa safra. “Isso porém, só ajuda a minimizar o problema, já que temos mais grãos para vender. Mas o que complica ainda é o dólar, já que as compras feitas para essa safra foram feitas com um câmbio de R$ 3,50/R$ 3,60”, disse Lenz.
Goiás
Em Goiás, a situação não é diferente. “Temos a comercialização ainda muito lenta e com percentuais bem abaixo dos do ano passado”, disse o consultor técnico da Aprosoja Goiás e da Federação de Agricultura do Estados de Goiás (Faeg), Cristiano Palavro. “Muitos produtores estão vendendo somente o necessário e com medo de terem perdido a janela ideal”, disse.
No estado, a média de preço da saca é atualmente de R$ 60, distante do objetivo dos produtores e, principalmente dos preços praticados anteriormente, quando as cotações variaram entre R$ 70 e R$ 80. Assim, há apenas pouco mais de 50% da safra 216/17 já vendida no estado e a retração deve continuar.
Há dois grupos de produtores goianos, neste momento, segundo Palavro. “Há aqueles que estão contrariados, focados ainda nos preços praticados no passado e os que acham que os preços podem cair ainda mais”, disse. “E temos ainda o dólar mostrando uma reação”.
Apesar disso, o assessor mencionou que a força da demanda permanece ainda bastante presente, se mantendo como o mais importante suporte das cotações. Segundo Palavro, “muitos consultores afirmam ainda que algumas altas poderiam ser observadas durante o plantio da safra americana”, o que poderia trazer algumas oportunidades para o produtor brasileiro.
Paraná
Segundo Camilo Motter, no início da última semana, no Paraná, os preços ameaçaram uma boa recuperação, com altas de R$ 2 a até R$ 3 por saca, mas as mesmas foram neutralizadas. “Parece que estão, cada vez mais, dependentes do dólar”, disse o analista. “E a Bolsa de Chicago parece ter limites muito claros em razão da grande safra, e cada vez maior, do Brasil”, disse. No sul do estado, o preço FOB da saca era de R$ 68, e na indústria, em Ponta Grossa, algo próximo dos R$ 71,50.
Fonte: Notícias Agrícolas