As cotações da soja em Chicago voltaram a ceder nesta semana. O fechamento da quinta-feira (9) ficou em US$ 10/bushel para o primeiro mês cotado, contra US$ 10,26 uma semana antes. O mercado trabalhou na expectativa do relatório de oferta e demanda do USDA, divulgado neste dia 9. O mesmo indicou os seguintes números:
1) A única modificação foi nos estoques finais dos EUA para 2016/17, os quais foram aumentados para 11.8 milhões de toneladas;
2) Os preços médios aos produtores dos EUA, neste ano de 2016/17, ficam em um patamar entre US$ 9,30 e US$ 9,90/bushel;
3) Em termos de mercado mundial, a produção global de soja foi aumentada para 340.79 milhões de toneladas, enquanto os estoques finais mundiais ficam, agora, estimados em 82.8 milhões de toneladas;
4) A produção brasileira e argentina fica, respectivamente, em 108 e 55.5 milhões de toneladas (no caso do Brasil um aumento de 4 milhões);
5) As importações chinesas foram acrescidas de um milhão de toneladas, agora para 87 milhões.
Ao mesmo tempo, o setor especulativo financeiro acabou vendendo muitos contratos, fato que deu lugar aos fundamentos do mercado pesarem sobre as cotações. E estes fundamentos são baixistas há bastante tempo. Por outro lado, as margens de esmagamento continuam recuando na China, alcançando o menor nível dos últimos oito meses, após terem atingindo os melhores níveis em dois anos no mês de dezembro passado. Com isso, a China vive um recuo na demanda por farelo de soja, embora as importações do grão continuem normais.
Paralelo a isso, a colheita avança na América do Sul e o mais recente volume projetado chega a 176 milhões de toneladas, reforçando o recorde histórico esperado.
A partir de agora, além do clima sul-americano, o mercado passa a aguardar o relatório de intenção de plantio nos EUA, previsto para o dia 31 de março. O mesmo, por enquanto, é esperado com um significativo aumento na área a ser semeada com soja naquele país.
No Brasil, o câmbio melhorou um pouco para o produtor e exportador de soja, com o real passando à casa de R$ 3,16 em alguns momentos da semana. Mesmo assim, os preços médios da soja pouco evoluíram. O balcão gaúcho fechou a semana em R$ 64,24/saco, enquanto os lotes ficaram entre R$ 68 e R$ 69/saco. Nas demais praças nacionais, os lotes giraram entre R$ 55/saco em Nova Xavantina (MT) e R$ 63,50/saco no Piauí e Tocantins, passando por R$ 66/saco no oeste e norte do Paraná.
Tudo isso em um quadro de exportações brasileiras sustentadas. O mercado estima que o país possa exportar 9.8 milhões de toneladas de grãos de soja em março.
A comercialização da nova safra continua lenta, com apenas 42% do total esperado já vendido no Brasil, até o dia 6, contra 51% na média histórica e 56% no ano passado na mesma época. No Rio Grande do Sul, 24% havia sido negociado, contra 40% no ano anterior e 32% na média histórica. No Mato Grosso, as vendas chegam a 58%, contra 65% no ano anterior e 63% na média. No Paraná, os produtores haviam negociado 28% da safra esperada, contra 50% no ano passado e 37% na média histórica. Em Santa Catarina, as vendas atingiam a 17%, contra 42% no ano passado e 31% na média (fonte: Safras & Mercado).
Enfim, até o dia 3 a colheita chegava a 47% da área total no Brasil, contra 34% na média histórica, sendo 4% no Rio Grande do Sul (1% na média); 47% no Paraná (40%); 78% no Mato Grosso (58%); 67% no Mato Grosso do Sul (47%); 75% em Goiás (49%); 45% em São Paulo (35%); 38% em Minas Gerais (21%); 3% na Bahia (6%); e 10% em Santa Catarina (6%) (fonte: Safras & Mercado).
Infelizmente, mais uma vez, a falta de logística adequada está tirando receita do setor produtivo nacional. Nesse momento, as perdas mais gritantes ficam por conta do transporte, na medida em que, ao norte do país, as chuvas deixam as estradas de terra intransitáveis, atolando os caminhões e causando perdas substanciais. No Centro-Oeste o problema se faz sentir igualmente em muitas localidades. Nestas condições, a safra cheia parte em fumaça, quando o volume físico passa a ser contabilizado em valores líquidos.
Nesse contexto, os cálculos demonstram que o resultado econômico da soja, na maioria das regiões do país, será bem menor do que a colheita física deixa transparecer. No Rio Grande do Sul, por exemplo, e com as estatísticas existentes até o início de março, a colheita deverá ficar ao redor de 16.5 milhões de toneladas, porém, com uma produtividade média esperada, por enquanto, idêntica (3.020 quilos/hectare) à do ano anterior.
Assim, pelo lado físico a safra é excelente. Porém, pelo lado econômico, o quadro médio é pior. Se é verdade que Chicago trabalha com cotações bem melhores na atualidade (os primeiros 62 dias do ano registram a média de US$ 10,28/bushel neste ano, contra US$ 8,62 no mesmo período de 2016), também é verdade que o real se valorizou muito no período.
Nossa moeda, considerando o período dos primeiros 62 dias do ano, passou da média de R$ 4,01 em 2016, para apenas R$ 3,15 em 2017. Resultado: o preço médio da soja no balcão gaúcho, que no ano passado foi de R$ 72,94/saco no período considerado, em 2017 é de R$ 66,40/saco. Isso representa um recuo nominal de 9%.
Considerando a inflação oficial dos últimos 12 meses, a perda real no preço da soja sobe para quase 15% neste ano. Enfim, segundo dados da Embrapa e da Farsul, o custo de produção operacional médio subiu de R$ 48,23/saco no ano passado, para R$ 54 na atual safra. Isso significa que o custo operacional médio por hectare chega a R$ 2.718 neste ano, contra R$ 2.428 no ano passado. Um aumento de 12%!
Dito de outra forma, diante dos preços médios de balcão praticados, a receita líquida média operacional dos produtores gaúchos de soja recua, neste ano, em torno de 50% (passa de R$ 1.243,07/ha em 2016, para R$ 623,91/ha em 2017). É claro que os produtores que obtiverem uma produtividade maior, em relação à média projetada, terão melhores resultados. Ou, se a média final deste ano for maior, o resultado final melhorará. Mesmo assim o resultado econômico final tende a ser menor neste ano.
Por sua vez, aqueles produtores que venderam antecipadamente parte de sua safra a preços superiores até o momento, também melhoram seu resultado líquido final. Mas, neste ano, até o início de março, apenas 24% da safra havia sido negociada antecipadamente no estado, enquanto na mesma época do ano passado o percentual era de 40% (segundo Safras & Mercado). Assim, um número significativo de produtores gaúchos de soja está ameaçado de obter um resultado econômico bem abaixo do registrado em 2016.
Fonte: Central Internacional de Análises Econômicas e de Estudos de Mercado Agropecuário da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (Unijui)