O exportador iniciou o ano com perda de rentabilidade nos embarques por conta da valorização do real. Em janeiro, a margem média de ganho nas exportações totais caiu 8,5% contra igual mês de 2016. A perda aconteceu porque a valorização nominal do real de 21,1% e a elevação de 3,1% no custo de produção não foram compensadas pelos preços de exportação que, com a ajuda das commodities, subiram em média 19,6%. Os cálculos preliminares são da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex).
O câmbio também continuou castigando a margem do exportador em fevereiro. Ao fim do primeiro bimestre, a cotação do dólar caiu 22,12% contra igual período de 2016, considerando a variação da PTAX, taxa calculada pelo Banco Central e referência para dados de comércio exterior. Mantido o nível atual de câmbio, disse André Mitidieri, economista da Funcex, a rentabilidade tende a cair, já que as cotações do dólar se mantiveram relativamente altas durante o primeiro semestre de 2016, especialmente nos primeiros três meses. Mitidieri calcula que, levando em conta a mediana de dólar a R$ 3,36 para o ano, os preços teriam de subir 18% somente para compensar a valorização da moeda nacional para o total da exportação.
Na análise por grandes setores, o extrativista foi o único no qual o aumento de preços conseguiu compensar o efeito do câmbio em janeiro. As exportações do segmento ganharam 28,5% na margem de lucro. O custo de produção cresceu 8,6%, mas a alta média de 76,9% nos preços compensou o avanço do custo e a valorização.
Os preços do setor extrativista foram puxados principalmente pela alta de commodities. Os preços no embarque de petróleo e gás natural, por exemplo, subiram, em média, 51,5% em janeiro contra igual mês do ano passado. Os preços médios na exportação de minerais metálicos saltaram 102,2%.
Dentre os grandes setores, o que mais perdeu rentabilidade nos embarques foi a indústria de transformação, com recuo de 16,3%. Nesse segmento os preços médios de exportação subiram 8,8%, mas mesmo assim não conseguiram neutralizar os efeitos do dólar mais fraco. Também pesou contra a margem de lucro do setor a elevação de 2,5% no custo de produção. Na agricultura e pecuária, o custo de produção subiu bem menos (0,9%), enquanto os preços avançaram 9,7%. Mesmo assim a rentabilidade caiu 14,3%.
José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), afirma que em fevereiro o nível de médio de valorização do real frente ao dólar tende a ser menor que o de janeiro, amenizando a pressão sobre a rentabilidade. De qualquer forma, diz, deve haver boa queda de margem nas exportações. Ele avalia que este ano os embarques, para a indústria de transformação, devem funcionar mais para preservar clientela e manter o mínimo de atividade que para gerar lucro.
O repasse da valorização do câmbio para o preço de exportação, no caso da indústria de transformação, é inviável para a maior parte dos produtos, diz Castro, devido a um mercado internacional ainda em recuperação e da forte concorrência nos manufaturados.
Os dados da Funcex já mostram que na verdade, dentre 23 segmentos da indústria de transformação, em 9 houve queda de preço médio de exportação em janeiro. Em vestuário e acessórios, o preço caiu 6,5%. Nos produtos de metal, exceto máquinas e equipamentos, o preço recuou 7,3%.
Além do menor espaço para compensar o real mais forte com queda de preços, diz Mitidieri, da Funcex, há ainda a necessidade de monitorar o custo de produção do setor, que poderá ser pressionado pela tarifa de energia elétrica. A favor da indústria de transformação, devem ficar os salários, que não farão pressão nos custos nos próximos meses, e dos insumos importados, por serem beneficiados com a mesma valorização do real que tira a rentabilidade na hora de exportar. O custo dos insumos nacionais no total da produção para exportação aumentou 7,5% em janeiro, enquanto o de importados caiu 16%.
Mantido o quadro atual, diz Castro, o desempenho da produção da indústria de transformação terá uma base de comparação bem baixa este ano e a expectativa de uma recuperação maior está lançada para o terceiro, mais precisamente para o quarto trimestre. Até lá, a exportação, para a média da indústria, irá funcionar mais como forma de ocupação de capacidade para ajudar a cobrir os custos fixos.
Castro ressalta também que a boa rentabilidade dos básicos também deve ser olhada com cautela. A recuperação de preços de algumas commodities já era esperada para este ano, mas o nível de preços para minério de ferro e petróleo, por exemplo, pode não se sustentar ao longo do tempo. “Os Estados Unidos devem aumentar sua produção diária de petróleo e não há indicação de demanda chinesa para sustentar preços tão altos do minério de ferro, o que mostra que há grande componente de especulação.”
Fonte: Valor