Um inimigo chamado Helicoverpa armigera

O controle da Helicoverpa armigera é dificultado porque a lagarta se alimenta de praticamente tudo o que brota do solo. Foto: Divulgação

A alta incidência de lagartas Helicoverpa armigera, difíceis de serem combatidas, em campos recém-germinados da nova safra de soja, levou produtores a fazerem aplicações de defensivos — muitas vezes precipitadas e desnecessárias — e acendeu a luz vermelha na Embrapa Soja e demais entidades ligadas à cadeia. A praga, identificada em 2012, causou prejuízo de R$ 2 bilhões nas lavouras da última safra (2012/2013) e contou com condições climáticas favoráveis para resistir, inclusive, ao período da entressafra. Por isso, ela merece muita atenção e monitoramento constante, mas não aplicações abusivas de inseticidas, que apenas selecionam insetos resistentes, eliminam os inimigos naturais da praga, resultando no agravamento do problema.

O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) declarou estado de emergência fitossanitária no oeste da Bahia e no estado do Mato Grosso. O prazo de vigência da declaração é de um ano e, na prática, significa que, neste período, os governos dos estados terão autoridade para adotar ações de controle à lagarta na área delimitada. Para as localidades onde o estado de emergência fitossanitária está declarado, a liberação da importação e uso emergencial de agrotóxicos, sem registro nos órgãos competentes, foi autorizada por um decreto sancionado no início de novembro pela presidente Dilma Rousseff.

 

RISCOS NO USO DE DEFENSIVOS

É importante destacar que a Embrapa Soja, por sua vez, alerta aos produtores quanto aos riscos do uso defensivos de forma preventiva. “Mesmo em regiões com estado de emergência fitossanitária declarado, aplicações de inseticidas precisam ser feitas com base no monitoramento da praga e produtos seletivos aos inimigos naturais e outros insetos benéficos. Produtos menos impactantes ao homem e ao meio ambiente precisam ser sempre priorizados”, alerta o pesquisador entomologista Adeney Bueno, da Embrapa Soja.

Os produtores de Mato Grosso também esperavam que fosse declarado estado de emergência no Estado. Diante da expectativa frustrada, a Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja/MT), em conjunto com o serviço de Defesa Vegetal do Ministério da Agricultura em Mato Grosso, montou um sistema de alerta para a Helicoverpa armigera, com instalação de armadilhas de feromônio (hormônio sexual) da mariposa nas regiões produtoras para acompanhar a dispersão da praga.

 

HORA CERTA DE APLICAÇÃO

Adeney Bueno explica que a Helicoverpa armigera pode diferir das demais lagartas por não ser exigente em sua dieta. Ela se alimenta de praticamente tudo o que brota no solo, incluindo restos de plantas da safra passada, brotações em meio à palha de cobertura do plantio direto, e até das plantas daninhas. Dessa forma, a esperada morte por inanição, entre uma lavoura e outra, não acontece. “Ela não é seletiva no hospedeiro e, sem deficiência de alimento, a população fica alta. Por isso, recomendamos eliminar o mato antes do novo plantio,” disse.

Mas o especialista em manejo de pragas afirmou que, apesar de várias reclamações de produtores, a Embrapa Soja verificou que, em algumas áreas, principalmente do estado do Paraná, apesar de uma infestação generalizada, as lagartas eram bem pequenas e não ocorriam em uma intensidade alta. Isso significa que não são sobreviventes da dessecação ou da vegetação anterior. “Mesmo em intensidades baixas, os produtores estavam aplicando inseticidas, portanto, sem necessidade e de forma precipitada, o que só deve agravar o problema de pragas na cultura”, destaca. Ele lembra que as condições do clima no início do plantio e o atraso das chuvas (veranico), favoreceram a população de mariposas. “Essas pequenas lagartas são fruto da postura desses insetos”. O pesquisador acredita que o aumento da quantidade de chuva, quando ocorrer, irá auxiliar na morte mecânica das mariposas e as infestações poderão ser reduzidas naturalmente.

 

IMPORTÂNCIA DA AMOSTRAGEM

Muitas lavouras vistoriadas pela Embrapa Soja, atendendo ao chamado de produtores, não estavam com nível de infestação mínimo (quatro lagartas por
metro na fase vegetativa) para aplicação de defensivos. “Acho que o alerta quanto à Helicoverpa armigera foi muito positivo, obrigando os produtores a ficarem mais atentos ao que acontece no campo. Por outro lado, criou uma situação de temor grande, levando o agricultor a aplicar inseticida sem necessidade”, diz Bueno. Segundo ele, o produtor não está fazendo a correta amostragem para quantificar com exatidão o momento exato de controlar a praga.

O especialista lembra que a aplicação de defensivos em hora errada pode agravar o problema, principalmente em função do inseticida utilizado, capaz de eliminar os inimigos naturais da praga — os insetos benéficos —, piorando ainda mais o problema. Por isso, a recomendação da Embrapa é que, caso haja necessidade de controle da praga, que seja usado um produto mais seletivo, menos impactante, como inseticidas dos grupos dos reguladores de crescimento de insetos, das diamidas ou das espinosinas, por exemplo, que, do ponto de vista ambiental, são mais interessantes. Ele também sugere como alternativa o controle biológico da lagarta, com o baculovírus. “O controle biológico com vírus ou bactéria é a melhor opção para o controle da Helicoverpa armigera nesta fase em que as lagartas ainda estão bem pequenas”, afirma.

 

FASE REPRODUTIVA 

Bueno diz que é preciso bastante atenção ao longo de todo o ciclo da soja, principalmente na fase reprodutiva, uma vez que a Helicoverpa armigera ataca flores e vagens, diferente de outras lagartas que têm preferência pelas folhas. “A soja é muito tolerante à perda de folhas, mas o mesmo não acontece com flores e vagens, que estão diretamente relacionadas à formação do grão e, por isso, ataques da praga na fase reprodutiva podem provocar grandes quebras na safra”, explica.

 

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Fonte: Revista A Lavoura – Edição nº 699/2014

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