Retração nas vendas reduz escala de navios para exportação de soja do Brasil

A escala de navios previstos para embarcar soja nos portos brasileiros em março e no início de abril está 41% abaixo do registrado um ano atrás, apesar de uma safra recorde sendo colhida no país, em decorrência da retração dos produtores em venderem suas colheitas.

Levantamento da Reuters com dados da agência marítima Williams mostra que há no momento navios escalados para embarques de 6.26 milhões de toneladas de soja, contra 10.64 milhões de toneladas da escala de 12 meses atrás. O ritmo de embarques do Brasil é fator considerado no mercado internacional, uma vez que o país é o maior exportador global de soja.

Analistas disseram que um dos principais motivos para o atual “line-up” de navios é a fraca comercialização por parte dos agricultores, que têm reclamado das baixas cotações do grão em meio a uma valorização do real e a preços pouco atraentes no mercado internacional, o que afeta a formação das cotações na moeda brasileira. No porto de Paranaguá (PR), os preços estão em níveis registrados em 2015, em termos reais.

As vendas de produtores da safra 2016/17 atingem 45% do total, contra 54% neste mesmo período da safra 2015/16 e 50% da média histórica, segundo levantamento mais recente da consultoria França Júnior. “As tradings não estão conseguindo originar direito, e com isso estão evitando fazer novas nomeações (de navios) no escuro”, disse o analista Flávio França Júnior.

Além disso, o Brasil realizou fortes embarques nos dois primeiros meses do ano, com a ajuda de uma largada rápida da colheita da oleaginosa. “Isso (a retração das vendas de produtores) pesa bastante… mas olhe janeiro e fevereiro, adiantamos já uma parte dos embarques”, disse o analista de inteligência de mercado de uma trading estrangeira, que pediu anonimato.

As exportações de soja do Brasil atingiram um volume recorde para o mês de fevereiro de 3.51 milhões de toneladas, com alta de 72% em relação ao mesmo mês de 2016 e quase quatro vezes superior aos embarques de janeiro, informou na última quinta-feira a Secretaria de Comércio Exterior (Secex). Com exportações acumuladas, nos dois primeiros meses do ano, de 4.4 milhões de toneladas, o Brasil registra o início de temporada de embarques de soja mais acelerado desde que os registros da Secex começaram em 2006.

Frustração

Operadores ouvidos pela Reuters no fim de fevereiro disseram que muitas empresas estão com dificuldade de obter todos os volumes necessários para completar os navios com os quais já se comprometeram. Nesses casos, oferecem valores mais elevados para adquirir as cargas, algumas vezes com prejuízos. “Pedidos adicionais você acaba não atendendo ou deslocando para outras origens (outros países)”, disse, na ocasião, um executivo de outra trading.

Todos esses percalços ocorrem em meio a uma colheita recorde no Brasil. Segundo a Abiove, associação que reúne as grandes empresas processadoras e exportadoras de soja no país, a safra 2016/17 deverá atingir um recorde de 104.6 milhões de toneladas, com exportações recordes de 58.7 milhões de toneladas de soja em 2017, contra 51.58 milhões de toneladas em 2016.

Os trabalhos de colheita no país já alcançam 45% da área total, contra 38% da média histórica. Contudo, o calendário de plantio permitiria que 60% da safra já estivesse disponível no mercado, caso não fossem registrados atrasos pelas chuvas. Essa espécie de frustração do ritmo de oferta, segundo França Junior, também seria um fator a pressionar os compromissos firmados pelas tradings, que se traduzem na escala de navios nomeados nos portos.

Os dados da Williams mostram também que a escala total de embarques de grãos, incluindo soja em grão, farelo de soja e milho, apresenta agora 13.4 milhões de toneladas – metade do volume previsto 12 meses atrás. Além da soja, a queda é influenciada pelos embarques de milho, que ainda eram fortes neste período do ano passado (previsão de 1.3 milhão de toneladas) e que agora são nulos, em meio a um aperto da oferta no mercado brasileiro.

 

Fonte: Reuters

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