A depreciação do dólar segue dificultando o desempenho dos frigoríficos exportadores neste início de 2017. Entre as principais proteínas exportadas pelo Brasil, somente a carne de frango conseguiu compensar, com preços mais altos em dólar, a valorização da moeda brasileira. Nos casos das carnes bovina e suína, ou o aumento foi insuficiente ou houve queda de preços na exportação.
Em janeiro, a cotação média do dólar comercial recuou 4,5%, para R$ 3,1969. Em fevereiro, a queda se aprofundou. Na sexta-feira, o dólar fechou a R$ 3,1097. No mês passado, o preço médio da carne de frango in natura exportada pelo Brasil aumentou 5,7% em relação a dezembro, segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex/MDIC).
Por sua vez, frigoríficos de carne bovina não só não conseguiram aumentar o preço dos cortes exportados como amargaram queda nas cotações. Em janeiro, o preço médio da carne bovina in natura exportada pelo Brasil caiu 3,5% sobre o mês anterior, para US$ 4.044 por tonelada. No caso da carne suína, o preço médio em dólar subiu apenas 0,7% em janeiro – para US$ 2.269 por tonelada -, alta insuficiente para compensar a depreciação do dólar no mês.
“Já estão chiando bastante”, admitiu o vice-presidente de mercados da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Ricardo Santin. Segundo ele, o dólar ideal para os exportadores de carne de frango e de carne suína é R$ 3,50. Para os exportadores de carne de frango, o alento é que o surto de gripe aviária que atinge os continentes europeu e asiático acaba favorecendo as exportações do Brasil, que nunca registrou casos da doença. “O ambiente criado pela influenza aviária faz com que o Brasil possa se manter um pouco melhor”, disse.
Nesse contexto, concorrentes mais competitivos que o Brasil, em função do câmbio, perdem essa vantagem por estarem banidos em alguns mercados em decorrência da gripe aviária, disse Santin. Com isso, a recomposição dos preços em dólar para compensar a apreciação do real é facilitada, argumentou. Mas esse é apenas o caso da carne de frango. As carnes bovina e suína não têm a mesma vantagem.
José Carlos Hausknecht, sócio da consultoria MB Agro – braço da MB Associados -, avalia que as exportações de carne bovina são as mais prejudicadas. Embora as indústrias de aves e suínos também sejam afetadas, o impacto da desvalorização do dólar para esses dois segmentos é menor, uma vez que milho e farelo de soja – principais custos de produção do setor – são dolarizados. Ou seja, a alta do real reduz o custo das matérias-primas.
No caso da indústria de carne bovina, no entanto, os custos de produção são menos dependentes da moeda americana. Os grãos, por exemplo, são só largamente usados nos confinamentos – sistema de engorda intensiva que responde por somente 10% do gado abatido no país. “Bovinos dependem menos de grãos. Então, a (valorização do real) é mais prejudicial”, disse Hausknecht.
Carlos Aguiar, superintendente do Santander, concorda que as margens dos exportadores de carnes do país continuam sob pressão. Segundo ele, o custo de produção segue elevado e a atual cotação do dólar não está “ajudando”. “Não é uma margem péssima, mas é apertada”, disse o executivo.
Fonte: Valor Econômico