O comportamento imprevisível de Donald Trump na presidência dos Estados Unidos, demonstrado em sua primeira quinzena no poder, criou novos riscos políticos com potencial de serem duradouros também para o comércio agrícola, avalia o banco suíço UBS. Em nota a clientes, analistas do banco observam que possíveis transtornos no comércio internacional, por causa da retórica protecionista de Trump, elevam as incertezas e podem afetar principalmente os mercados de milho e soja.
Os EUA são um grande exportador de commodities agrícolas, como produtos do complexo soja, milho, carnes de frango e de suíno. Políticas comerciais restritivas, como a renegociação do NAFTA (o acordo comercial entre EUA, México e Canadá) e restrições na importação de bens da China, podem ter grandes implicações negativas para o acesso de produtos agrícolas americanos a mercados externos.
Para o UBS, produtores de milho e de proteínas animais poderão ser os mais afetados devido à maior tensão entre os EUA e o México. Nos últimos anos, o país foi responsável por 24% dos embarques de milho americano, 7% dos de soja, 17% do complexo soja, 11% do trigo e 29% dos de carne suína.
Além disso, a soja é muito sensível às relações EUA-China, que também esfriaram. Os americanos exportaram US$ 18 bilhões de produtos agrícolas para o país asiático em 2015/16, dos quais US$ 10.5 bilhões foram apenas de soja. Os chineses, por sua vez, importam 87% de suas necessidades desse produto, sendo 40% comprado nos EUA e o restante no Brasil e na Argentina.
Para o UBS, no pior caso, se a China endurecer sua posição em relação aos EUA, em reação a Trump, e o Brasil e a Argentina redirecionarem todas suas exportações de soja ao mercado chinês, Pequim ainda terá escassez de 20% de tudo o que precisa.
Agricultores dos EUA serão impactados, mas em menor grau, na medida em que podem buscar outros mercados para exportar com o eventual vazio criado por Brasil e Argentina. Certo mesmo, disse o banco suíço, é que a fricção comercial entre os EUA e a China poderá causar turbulências no mercado global. E deixará a indústria de carnes e consumidores chineses vulneráveis a problemas de oferta de soja.
Outra área na berlinda é a política para biocombustível nos EUA sob Trump. Cerca de 35% da produção de milho do país vai para a produção de etanol, e o óleo de soja é o principal insumo para o biodiesel. A gestão Trump não comunicou ainda sua visão sobre o “Energy Independence and Secutiry Act”. Se as metas de mistura com a gasolina diminuírem, os preços de milho e soja poderão sofrer. Numa análise mais ampla, a avaliação do banco é de que Trump não conseguirá aprovar certos projetos como quer, como a reforma dos impostos sobre as corporações. Além disso, o UBS prevê duas altas de juros pelo Fed este ano. Mas a inflação em alta compensará a subida dos juros. Na prática, o juro real continuará historicamente baixo, e nesse cenário deve-se esperar um dólar mais fraco que forte.
Fonte: Valor